4 - Rain

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Ouvi cada palavra que Alexis dizia, cada argumento que dava para ir morar com ela mais o Rhyan. Mas eu não queria, eu já não sei o que é ser uma pessoa normal.

- Eu não quero Alexis - voltei a repetir ,suspirando, vendo que ela queria ganhar esta batalha.

- Eu sei o quanto é difícil, mas pelo menos tenta! - senti o cheiro a shampoo quando ela me abraçou - Passo a passo, tu não podes viver na rua para sempre.

- Por acaso até posso - rodeei a sua cintura com os meus braços finos.

- Não digas isso companheira - apertou-me ainda mais contra o seu corpo, um abraço confortante confesso - Se eu vou conseguir tu também!

- Mas durante estes anos já estivestes naquelas casas de acolhimento aos sem-abrigos, eu não, já tiveste uma breve adaptação.

- Tenta por favor - passou as mãos pelos meus ombros massajando-os. Acenei com a cabeça e um sorriso grande apareceu na cara da minha Alexis - Isso é um sim?

- É - disse - Preciso de ir andando para arranjar um banco de jardim para mim - falei com o meu tom baixo novamente. Ela revirou os olhos e eu já sabia o que vinha dali, por isso ,nem a deixei a falar - Não vou dormir em tua casa.

- Tua casa - falou pensativa - Isso soa tão bem!

*

Fui caminhando em passos pequenos até ao meu banco, sentei-me e suspirei. As minhas pernas doíam assim como os meus pés, descalcei os meus ténis já velhos e massajei os dedos. Coloquei os sapatos debaixo do banco e decidi comer algo, tirei um pacote de bolachas e uma garrafa de água, comi metade e engoli o conteúdo todo da garrafa.

Assim que subi o meu olhar para o céu escuro não gostei da visão que tinha. Iria chover. Respirei fundo, peguei nos ténis e calcei-os novamente, peguei no saco da comida e pus lá dentro o meu chapéu preto, apertei a manta contra o meu corpo tentando aquece-lo.

Levantei-me do banco e comecei a andar, muitas pessoas começavam a correr em direção às suas casas, vi poucas pessoas trabalhadoras a fecharem as lojas. E num ponto mais longe vi Michael, era impossível não o reconhecer com aquele cabelo, sorri quando este se ria com algo que os seus amigos disseram, ponderei ainda ir ter com ele, mas eu sou eu, nunca iria ter com ninguém.

As gotas começaram a escorrer pelo meu corpo, comecei a andar cada vez mais rápido enquanto ia tentado controlar a minha respiração que cada vez  ficava mais irregular. Toda eu era água, o meu corpo tremia devido ao frio. Assim que cheguei à ponte, esgueirei-me para debaixo da mesma, encostei-me à parede de pedra fria suportando o peso do meu corpo, lentamente fui descendo até que fiquei sentada.

Estava fraca, a comida ingerida por mim era pouca e eu recusava colocar mais no meu estômago, eu precisaria dela amanha. A longa caminhada que fiz até aqui esgotou-me por completo. Olhei para a minha volta e vi mais umas quantas pessoas na mesma situação que eu, fechei os olhos e respirei fundo, tentando de alguma maneira suportar a dor que sentia.

- À quanto é que não comem? - perguntei às pessoas que se iam aproximando da mesma parede de onde eu estava.

"Dois dias", "Desde de manha", "Acho que só comi uma barra de cereais". Entre muitas outras respostas estas foram as que mais me entristeceram. Tirei do meu saco o resto do pacote de bolachas e uma garrafa de água para mim, peguei no chapéu e coloquei lá as coisas.

- Tomem - afastei o saco de mim aproximando-o das outras pessoas - Dividam.

- Oh menina - uma pessoa já com certa idade disse - Muito obrigada.

Homeless || Michael Clifford (Short Fanfiction)Onde histórias criam vida. Descubra agora