9 - See you again

126 7 5
                                    

Ficámos num silêncio constrangedor. Ele sem saber o que dizer e eu a tentar arranjar alguma força para contar o que tinha realmente acontecido comigo. Olhei para Michael que permanecia focado a olhar para as suas mãos que estavam sobre os seus joelhos.

- Fui a filha indesejada - falei por fim vendo-o agora a encarar-me com os seus olhos verdes - Os meus pais já tinham quatro filhos, não conseguiam sustentar mais um. Fizeram de mim sua escrava e batiam-me sempre que fazia algo de mal. Até que o Andy, o mais velho dos meus irmãos, foi fazer queixa à policia. Eles levaram-me para um local onde havia mais crianças como eu. Entretanto o Andy veio e tirou-me de lá, deixou-me num jardim com a promessa que me vinha buscar um dia. Nunca pensei que esse dia nunca iria chegar - dei com os ombros enquanto o via a olhar tristemente para mim.

- Tu dizes-te que não tinhas família, mas tens - falou.

- Eles deixaram-se de preocupar comigo Michael, acho que são razões suficientes para deixarem de ser minha família e por mais, eles não me querem como membro da sua família, senão nunca me tinham abandonado.

- À quanto é que isso tudo aconteceu?

Era uma pergunta que eu não sabia responder, os anos foram passando e por vezes eu esquecia-me de quantos eram mesmo. Assim como a minha idade, tenho uma vaga ideia mas não sei se a que penso que tenho seja a realidade.

- Bem, acho que há dez anos talvez - abanei a cabeça - Não sei responder-te ao certo. Tinha 8 anos quando fui para o centro de acolhimento, depois perdi-me no tempo.

- Eu -

- Não precisas de dizer nada Michael.

- Eu acho injusto alguém passar pelo o que tu passas-te - falou num tom um pouco chateado e furioso - Não é justo.

- É a vida - disse simplesmente afastando o meu olhar do dele.

- Mas tu não escolhes-te nada disto - levou as mãos ao ar como forma de indignação.

- Eu até que gosto da minha vida assim, se eu não tivesse acontecido aquilo que aconteceu eu não estaria aqui agora, a falar contigo, nunca teria tido a chance de conhecer a Alex e o Rhyan.

- Sabes lá tu! - sentia-me obrigada a olhar para ele enquanto tentava de alguma maneira dizer-me que o que eu disse era mentira.

- Michael, eu sei - eu sei que ele iria fazer aquela estúpida pergunta do "como sabes!?" por isso adiantei-me - Apenas sei.

- Achas que algum dia irás tirar essa ideia de viveres para sempre na rua?

Fiquei a olhar para ele sem saber ao certo o que dizer. Engoli em seco enquanto passava com a língua sobre os meus lábios secos tentando encontrar alguma resposta para a sua pergunta.

- Talvez, um dia - respondi sorrindo - Não sei.

Rodeou a minha cintura nos seus braços apertando-me num abraço caloroso que logo transmitiu-me paz. Olhei para cima vendo que ele sorria para mim.

- O que estás a fazer? - perguntei recebendo um revirar de olhos pela parte dele.

- Dah, acho que é um pouco óbvio não? - a sua voz ficou tão fofa naquele tom que me fez rir um pouco - Estou a abraçar a minha homeless!

- Então deixa-me abraçar-te de voltar meu Sweethome!

Passei os meus braços finos pela sua cintura apertando-o de leve contra mim, pousei a minha cabeça perto do seu peito e sem saber o porque, uma lágrima silenciosa escorreu pela minha bochecha.

- Oh - ouvi uns murmúrios fazendo-me olhar para a frente para encarar um grupo pequeno de raparigas.

- Fãs? - ouvi a voz do Michael.

- Sim - uma respondeu passando com o polegar pelo seu rosto.

- Estás a ajudá-la? - perguntou outra menina.

- Sim - respondeu depositando um beijo no topo da minha cabeça fazendo-as ficar com aquelas caras fofas outra vez.

- É bonito na tua parte ajudares uma sem abrigo - reconheci aquela voz. Apressei-me a encara-la vendo logo quem era.

- Tu és aquela rapariga que me ensinou a ler e a escrever!

- Caitlin!? - acenei freneticamente com a cabeça deixando que um sorriso orgulhoso transparecesse no meu rosto - Não acredito que voltei a encontrar-te! - levantei-me de imediato e fui recebido logo com um abraço - Não acredito que tenho os meus ídolos juntos!

- Ídolos? - olhei para trás para ver se mais algum famoso se encontrava a esta hora do jardim, mas não.

- Tu - apontou para mim assim que afastou-se um pouco o seu corpo do meu - Tu és a minha ídola! Nem imaginas o quanto...Eu...Argh...Nem sei o que deva dizer - e com isto abraçou-me de novo.

- Nunca pensei voltar-te a ver.

- Estou de férias da universidade - respondeu dando com os ombros.

- Como se conheceram? - Michael perguntou colocando o seu corpo alto ao lado do meu baixo.

- Foi à alguns anos atrás, eu encontrei-a numa rua sozinha e depois começamos a falar e eu sempre quis ser professora, então ensinei-lhe a ler e a escrever - falou sempre com o seu olhar em mim do qual eu sorri orgulhosamente - Oh espera! - retirou algo de dentro da sua mala - Toma.

Esticou-me a sua mão do qual continha um livro. Peguei nele examinando a capa, virei-o e li a pequena sinopse que continha mostrando o assunto principal do livro, era uma história de amor, e parecia ser interessante.

- The Great Gatsby, li-o em literatura e simplesmente amei! Ando com ele comigo para que assim que nos voltássemos a encontrar eu pudesse-te entregar para leres.

- Até para a praia ela levou o livro - comentou rindo-se uma amiga dela.

- Lilianna falou-nos muito de ti - disse a outra rapariga que encontrava-se entre estas.

Sorri simplesmente por ter ouvido aquelas palavras, sempre pensei que ela se iria eventualmente esquecer-se de mim, da minha existência. E de que assim que nos voltássemos a ver iria apenas ignorar-me e fingir que não me conhecia de lado nenhum.

- Eu não quero empatar mais o vosso tempo.

- Oh não digas isso, querem uma foto ou autografo!? - Michael aproximou-se delas deixando-as eufóricas.

Uma dor atingiu-me a cabeça deixando-me um pouco tonta. Agarrei-me ao braço do Michael prevenindo uma provável queda. Olhou para mim preocupado do qual apenas respondi com um sorriso.

- Vou-me sentar - informei-lhe afastando-me deles.

Respirei fundo tentando que a dor aguda passa-se. Tentei abstrair-me do que se passava olhando para o cenário que tinha à minha frente. Um rapaz com cabelo pintado a sorrir para as câmaras, depois abaixava-se um pouco para assinar numa folha de papel deixando ficar este momento do encontro de fãs e ídolos para sempre marcado.


Homeless || Michael Clifford (Short Fanfiction)Onde histórias criam vida. Descubra agora