8 - I want to know

117 8 0
                                    

Não aguentava com o meu corpo, isto tem acontecido algumas vezes. Sentia-me cansada e ainda agora tinha acabado de acordar. Parecia que tinha algo que forçava o meu corpo a ficar contra o banco frio do jardim.

Sentei-me ainda com a alguma dificuldade, bati sem querer com o braço contra o banco deixando-me com uma pequena dor. Enrosquei o meu corpo à manta enquanto fechava os olhos tentando descansar um pouco mais. As minhas costas doíam e, para juntar à minha lista de reclamações, tinha a minha cabeça a explodir.

- Caitlin - a voz de Jason vez-me abrir os olhos para encara-lo com um sorriso fraco - Trouxe-te comida.

- Como a conseguiste? - perguntei ainda com a minha voz fraca matinal.

- Foi com o dinheiro de ontem - sentou-se ao meu lado e partiu a sandes em dois dando-me uma metade. Ofereceu-me também um pacote de leite do qual agradeci com um sorriso.

- O Kyle?

- Foi ontem para casa da Alexis e do Rhyan, convenceram-no a ir trabalhar lá para o café - ouvia ele falar enquanto mastigava a minha sandes - Eles também tentaram que eu fosse com eles, mas tu não podes ficar aqui sozinha.

Olhei para ele que permanecia com o seu olhar quieto, não conseguia decifrar o que ele sentia nesse momento. Já não sei se era pena, preocupação ou outra coisa qualquer.

- Não precisas de ficar aqui na rua por causa de mim - dizia isto a todos que permaneciam comigo sempre que recebiam boas propostas mas que tinham medo de recusar por causa da minha pessoa.

- Quem vai tomar conta de ti? - abraçou-me de lado deixando-me pousar a minha cabeça sobre o seu ombro - Já se foram todos embora, só restamos nós, se eu for tu ficas sozinha, e eu não quero - admitiu por fim deixando que um longo suspiro saísse da sua boca.

- J, eu vou ficar bem. Olha para a tua volta e diz-me que eu vou mesmo ficar sozinha? Eu sei que esta gente toda não querer saber de uma sem abrigo como eu, mas assim que eu tiver em dificuldades irão pensar naqueles conselhos que os avós sempre lhes deram, ajuda o outro porque não sabes se és o próximo. Além disso, irão todos morar a meros passos de mim.

- Como consegues ser assim? - olhei confusa para ele não sabendo onde ele queria chegar com aquela pergunta - Não compreendo o porque de não aceitares uma vida boa.

- Outra vez a mesma conversa J - disse sorrindo para o rapaz - Tu já tiveste uma casa e lembras-te da tua família, eu não. Eu não quero nada disso, eu não preciso.

- Um dia irás arrepender dessa tua escolha, irás veres todas as pessoas que conheces a terem coisas que também queres ter. Pode não ser coisas materiais, como um telemóvel, uma casa, um carro, ou até mesmo um emprego! Um dia irás querer apaixonares-te, irás querer encontrar o amor da tua vida. E depois vais desistir, porque sabes que no fundo as pessoas terão apenas pena de ti.

Reflecti as palavras que ele acabara de dizer. Eu sabia que ele tinha razão, numa rapariga é normal pensar no homem perfeito para construir uma família, um trabalho de sonho onde fazemos o que gostamos, entre outras coisas.

- Eu sei Jason, eu sei. Mas agora não quero pensar nisso - dei com os ombros dando um último golo no leite.

- Tu é que sabes - deu-me um beijo na testa e levantou-se deixando-me um pouco confusa com o seu gesto, mas assim que vi o rapaz de cabelo pintado percebi o porque de ele ir-se embora.

- Olá Michael - cumprimentou o meu companheiro, este apenas acenou com a cabeça e deu-lhe um high five.

- Homeless - levantei-me de imediato sentido uma pequena dor de cabeça da qual ignorei de imediato.

- Sweethome - disse fazendo-o sorrir - Arranjei uma alcunha agora mesmo para ti.

- Até que achei fofa - deu-me um pequeno abraço fazendo com que as minhas omoplatas estalassem - Oh desculpa - pediu um pouco envergonhado.

- Não tens culpa de eu ser só ossos - tentei transparecer felicidade, da qual falhei redondamente porque Michael percebeu a minha teatralidade.

- Não precisas de fingir que estás feliz por seres magra, sabes que eu compreendo - rodeou os meus ombros com os seus braços depositando um beijo na minha testa.

- Prefiro assim - respondi sem olhar para ele - Porque vieste? - perguntei quando de repente a curiosidade veio ao de cima.

- Queria falar contigo - respondeu.

- Comigo!? Porque?

- Queria conhecer a tua história, já sabes parte da minha, também quero saber a tua.

- Não há muito que saber - afastei-me um pouco dele ajeitando a manta sobre o meu corpo tentando aquecer-me.

- De certeza que há - abanei negativamente com a cabeça.

- Eu sei o que queres saber Michael, podes logo dizer. E eu até te contava, se eu tivesse a certeza que aquilo que eu estou a dizer estivesse correto.

- Mas...

- Michael, sobre a minha vida eu não tenho nenhum carimbo de confirmação. Eu apenas sei do que me lembro, e mesmo assim as coisas estão um bocado confusas na minha cabeça.

- Eu podia ajudar-te sabes, a descobrir quem tu és realmente.

Começamos a andar sem destino, por minha parte pelo menos era assim, apenas dava voltas ao parque, às vezes apenas sentava-me na relva e fingia que era uma adolescente normal que encontra nos jardins alguma paz para a tempestade interior.

- Porque que eu quereria saber quem eu sou realmente?

- Talvez tenhas família que esteja à tua procura.

- Não achas que se eu tivesse já não me teriam encontrado? - parei olhando para ele - Eu não tenho família Michael, eu estava num centro de acolhimento de crianças que sofriam violência doméstica.





Homeless || Michael Clifford (Short Fanfiction)Onde histórias criam vida. Descubra agora