23 - Sorry

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Caitlin/Anastasia

Abri os olhos sentindo a presença de alguém do quarto. Apesar de ter dormido muitas horas e já estar acordada à alguns minutos sentia-me exausta e perdida no tempo. 

- Oi - disse a pessoa que estava lá comigo. Não consegui pronunciar nada, apenas sorri encarando o rapaz de olhos verdes - Como te sentes?

Eu sabia que o conhecia, a sua voz não era de todo estranha para mim. Viu pelo canto do olho ele a por a cadeira perto de mim e a sentar-se na mesma. Olhei-o novamente e não consegui evitar sorrir assim que ele pegou na minha mão entrelaçando com a dele.

- Sinto-me confusa, zonza - respondi - Quando me vão tirar daqui? - perguntei quase num suplico.

- Ainda vais ter que esperar um bocadinho - respondeu-me beijando as costas das minhas mãos.

- Quanto?

- Duas semanas.

A sensação de que a minha vida tinha arruinado voltou. Parei para pensar no porque de estar ali, e memórias das noites passadas invadiram a minha cabeça como furacões. Eu quero ir-me embora, olhei para a janela vendo o mundo lá fora e eu aqui, presa neste quarto de hospital a tratarem-me como uma maluca.

- Caitlin, é o melhor para ti.

Arregalei os olhos quando ele pronunciou aquelas palavras. "É o melhor para mim". Queria iniciar uma discussão, mas estava demasiado cansada para voltar a falar aos gritos com qualquer pessoa. Queria apenas que este grande pesadelo acabasse.

- Podes não querer estar aqui, e eu compreendo. Mas no futuro irás agradecer o facto de teres passado por isto tudo. Irás sentir-te melhor, porque precisas disto para esquecer um pouco o teu passado. 

- Não - murmurei fugindo ao toque dele, como se, por magia, conseguisse também fugir à dor que aquelas palavras me atingiam - É desumano. Choques são desumanos.

- Por favor, não tornes as coisas mais difíceis - comecei a chorar silenciosamente, apenas lágrimas eram derramadas.

- Eras o único que me apoiava Michael - a minha voz começara a tornar-se cada vez mais fraca, como se isto tudo pelo que estou a passar agora fosse pior do que viver na ruas frias de Londres.

- E continuou a apoiar-te minha Homeless - não o consegui impedir de sentar-se ao meu lado na cama ficando de frente para mim - Irei sempre apoiar-te, apesar de tudo.

- Não é o que estás a fazer agora.

- Caitlin, estou a tentar ver o que é melhor para ti. Tu precisas de um pouco de paz, não de mais tormentos.

- Isto é paz? - considerei o meu tom usado de voz um pouco alto, apesar de continuar a soar baixo para as outras pessoas.

- Estás melhor aqui, acredita em mim - passou o polegar pela minha bochecha, fechei os olhos devido ao toque - Confia em mim, apenas isso Caitlin - respirei fundo.

- Como posso confiar numa pessoa que me conhece à menos de um mês e que pensa que terapia de choques é o melhor para mim? - sei que fui dura, sei que ele não ficará bem depois de ouvir aquelas palavras, mas era o que eu sentia na altura, não havia como negá-lo.

- Por favor, não me faças isto.

- É o que vocês estão todos a fazer-me. Deveria de ser eu a fazer as minhas próprias escolhas, não tu, nem o Andy, ou um médico qualquer com um diploma estúpido. 

- Percebe que tu não estás em condições psicológicas para escolher o quer que seja. Estás em sofrimento, estás a negar isso, percebo que apenas querias seguir a tua vida como se nada tivesse acontecido, como se as violações não fossem nada ou que o teu trauma do toque das pessoas fosse algum comum e normal da sociedade, mas não é. Entende de uma vez por todas que não estás bem, que precisas de ajuda, entende que nós somos a tua salvação e não tu. Nós estamos a ajudar-te para ficares bem, não para ficares pior.

Fechei os olhos para não voltar a chorar, mas parece que fiz pior. Ele tinha razão, mas porque é que é difícil de admitir tal coisa? Apertou-me contra os seus braços e não senti medo algo, apenas conforto. Já não conseguia controlar mais as lágrimas, como ele disse, estou em sofrimento e em negação. Apenas quero voltar a ser eu, é assim tão complicado?

- Estou aqui para ti Cailtin - sussurrou ao meu ouvido enquanto eu tinha a minha cabeça apoiada no seu ombro.

- Sou uma aberração, não sou?

- Nunca mais digas isso outra vez, ouviste-me? - depositou-me um beijo na testa enquanto tentava controlar a minha respiração. Acenei positivamente com a cabeça.

- Quando te vais embora? - olhou-me confusa, apenas sorri-lhe - eu sei que estás cá em Londres apenas um mês, e sei também que o tempo já está a expirar.

- Não falemos disso okai? - agarrou na minha cara com as suas mãos e eu apercebi-me logo. 

- Vais já amanha? - fechei os olhos não conseguindo encarar os seus.

- Amanha venho-me despedir de ti, sim? - mordi o interior da minha bochecha nervosa com a nossa futura despedida, apenas queria mais um pouco de tempo com ele - Acho que é melhor a partir de agora tratar-te por Anastasia, não? - perguntou rindo um pouco.

- Ainda me vou ter de habituar a isso. 

- Já todos de tratam por esse nome que chega a ser estranho tratar-te por Cailtin - dei com os ombros ao mesmo tempo que abria os olhos. Sorriu para mim alterando o seu olhar para os meus olhos e lábios - Confias em mim? 

- Porque perguntas isso?

- Apenas responde.

- Confio - admiti. 

Aproximou a sua cara da minha, as nossas testas estavam coladas e os nossos narizes um ao lado no outro. Conseguia sentir a sua respiração contra a minha deixando o meu batimento cardíaco acelerado. Os seus lábios chocaram com os meus num beijo simples.

- Amo-te muito, nunca te esqueças disso, ok? 

Levantou-se da cama ajeitando consigo a sua roupa, olhou uma última vez para mim com um sorriso lindo, sorri-lhe de volta ao mesmo tempo que me voltava a deitar na cama. Assim que ele ia para abrir a porta tive a necessidade de o chamar.

- Michael! - olhou para trás de imediato - Também te amo, lembra-te disso todos os dias.


 

Homeless || Michael Clifford (Short Fanfiction)Onde histórias criam vida. Descubra agora