2 - Thanks

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A tarde foi passada com eles a cantar e eu a estender o chapéu. Deviam de já ser umas cinco da tarde quando umas dezenas de pessoas passaram por lá e ficaram a assistir.

-Eu não tou assim com tanta fome - e com isto vi uma rapariga a atirar com um pacote de bolachas e uma sandes para o saco da viola.

- Obrigada - agradeci à rapariga que usava óculos escuros com um cabelo lindo.

- Não precisas de agradecer - um rapaz falou por ela, quase de certeza que era o seu namorado, já que estavam de mãos dadas.

- Um obrigado nunca fez mal a ninguém - dei com os ombros e voltei a sorrir-lhes.

Ouvi o bater de palmas fazendo-me encarar os meus companheiros. Fui ter com eles e fizemos uma pequena vénia. As pessoas foram embora uma a uma, sempre a agradecer pelo espectáculo, e nos a agradecer pelo dinheiro.

- Foi o nosso dia de sorte - disse Alexis enquanto recolhia o dinheiro e contava.

- Os anjos estão connosco - completou Rhyan. Deixou um beijo na testa da rapariga fazendo-me sentir a mais.

- Vou deixar os pombinhos sozinhos - tirei o dinheiro das suas mãos - Vou comprar água - avisei.

- Ficamos aqui à tua espera! - disseram antes de eu virar as costas e caminhar em direçao a um supermercado.


Michael Clifford


A loja estava quase vazia o que não me impediu de ouvir uns murmúrios. "Como a deixaram entrar aqui?", "uma vagabunda a tocar nas nossas coisas! Que horror" ,"é melhor irmos a outro lado, isto já deve estar contaminado de doenças!". Arregalei os olhos com cada palavra pronunciada por elas. Aproximei-me do local da "ação" e deparei-me com a rapariga desta manha.

- Desculpem - ouvi-a pedir com a sua voz baixa. Apertou as garrafas de água contra o seu peito tentando, de alguma forma, como se já tivesse a adivinhar, protege-las para ninguém as tirar.

- Vou chamar o gerente !

- Mas que raio! - reclamei - Ela não pode vir cá comprar as coisas!?

- É uma sem abrigo! Devia era de estar era debai...

- Querem que ela morra é? - perguntei já inervado com toda esta situação - Ela é uma pessoa normal!

- Não precisas de me defender - sorriu - Não se preocupem senhoras, eu vou deixar aqui as...

- NÃO! - guinchou uma das mulheres - Leva isso que eu não quero micróbios aqui!

Caitlin assustou-se com a sua voz rude, o seu corpo tremia e via-se perfeitamente que queria chorar. Não consegui protestar porque o estrondo das garrafas a serem deixadas caídas no chão fez-me alertar para o facto de Caitlin ter saído de la a correr.

- Vocês deviam de ficar sem dinheiro nenhum - peguei nas suas garrafas ignorando os seus olhares - Eu espero que a próxima fez que nos encontrarmos seja debaixo da ponte, com você a pedir esmola.

Com isto dito acrescentei as garrafas de água no meu cesto juntamente com algumas bolachas para lhe oferecer. Depois de tudo pago fui à procurar da rapariga, e qual não era o meu espanto te-la encontrado ainda perto do supermercado. O seu corpo movia-se lentamente como se tivesse a poupar forças para algo.

- Caitlin! - gritei o seu nome enquanto corria na sua direção. Ela não respondeu, apenas olhou para trás e sorriu, um sorriso fraco - Toma - estendi o saco, mas ela recusou.

- Não te dês ao trabalho Michael - murmurou continuando com o seu caminho - Obrigada por me teres defendido.

- Vá la, aceita! É de bom agrado - dei uns passos largos pondo-me à sua frente impedindo-a de continuar a caminhar.

- Porque estás a ser simpático comigo? Porque te preocupas?

Antes de lhe responder fiquei a fintar o seu rosto, as olheiras eram grandes e muitos escuras, os seus lábios estavam gretados de tal maneira que pareciam ser laminas. O cabelo dela notava-se que já à algum tempo não tinha levado nenhum corte, continuando assim com algumas madeixas rosas. O seu corpo estava protegido com roupa já velha e suja escondendo o seu corpo magro sem gordura nenhuma, apenas osso. E apesar de estar características não agradarem a ninguém, a mim faziam-se sorrir e pensar. "Rapariga bonita".

- Porque precisas de alguém que o faça.

Depositei um beijo na sua testa e coloquei o saco na sua mão. Agora era a altura certa para me ir embora, mas não conseguia simplesmente deixa-la ali. Por uma razão absurda queria convida-la para ir sair comigo, apenas um simples jantar, nada demais.

- Gosto do teu sorriso - deparei-me com o que estava a fazer. Estava a sorrir, algo que já há muito não o fazia, apenas com esta menina em frente a mim.

- Tu fazes-me sorrir - dei com os ombros e puxei os meus cabelos pintados para o lado.

- Porque? - perguntou com toda a sua inocência. Abanei a cabeça e levantei o ombro.

- Ainda não descobri o porque - admiti sorrindo para a rapariga.

- De certeza que não é pela minha beleza - olhou-me nos olhos e foi ai que me apercebi que o quanto cinzentos eram.

- Porque dizes isso? - cruzei os braços fazendo-a soltar um pequeno suspiro.

- Já olhaste bem para mim? - com o braço que não carregava o saco apontou para o seu corpo - Acho que isto não é a definição de beleza.

- Caitlin - disse o seu nome enquanto revirava os olhos - Tu és linda independentemente de... - Fui interrompido pelo meu telemóvel que tocava freneticamente avisando que alguém estava-me a ligar.

- Eu tenho que ir, eles devem estar à minha espera, obrigada por tudo.

Com isto dito ela saiu da minha beira, antes de se afastar de mim ainda deu um pequeno aceno do qual eu correspondi com um sorriso. Aquela rapariga intrigava-me, aparentava ser nova apesar de a sua cara já estar desgastada com o passar dos dias de estar na rua. Queria saber mais sobre ela, tudo o que havia acerca da Caitlin eu iria descobrir. O meu telemóvel tocou despertando-me dos meus pensamentos.

- Estou a caminho Ash.


Homeless || Michael Clifford (Short Fanfiction)Onde histórias criam vida. Descubra agora