Capítulo 2

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  Eu acordei de repente com a luz do sol invadindo a minha janela, e fiquei pensando se eu deveria ou não fechar a cortina para dormir mais; entretanto a preguiça de levantar me falava para ficar. Tapei meu rosto com o cobertor e virei na direção contrária da luz... 

- Estou tão cansada... - murmurei para mim mesma enquanto tentava pregar meus olhos de novo.

 Foi então que lembrei o que aconteceu ontem e levantei esfregando os olhos. Eu havia esquecido completamente que eu havia furtado aquele rapaz, e obviamente eu precisava devolver e pedir desculpas pelo ocorrido. Mas... aquilo pareceu mais um sonho do que qualquer coisa... a única prova que eu tenho de que não foi, é essa machadinha no meu criado-mudo...

Saí da cama e fui tomar um banho quente, pois ainda fazia um pouco de frio lá fora, mesmo com o sol emitindo sua luz. 
 Eu demorei mais do que o normal no banho por conta do meu atraso mental de manhã, além de eu não querer sair também. Água quente no frio é sempre a sensação mais gostosa de se receber.
 Terminei toda a minha higiene e logo me troquei para sair. Verifiquei se eu estava apresentável; não que isso seja um encontro ou algo do tipo. Eu só não queria demonstrar minha forma desleixada para um estranho. Vão pensar que eu não sou normal por sair com a mesma roupa que dormiu.

[...]

 Lá estava eu, na divisa da floresta e da rua... pensando se realmente era uma boa ideia entrar só para devolver aquilo. O medo de ontem ainda me fazia ficar parada encarando aquele amontoada de árvores que lentamente pareciam se aproximar de mim formando uma área muito pequena e escura.
Estou sem nenhuma coragem de entrar lá novamente. Vai que eu acabo me perdendo e sem uma pessoa para me ajudar...

- O que você está encarando? - alguém do meu lado falou comigo, entretanto nem olhei para a pessoa por ainda estar pensando demais.

- Eu vim devolver uma coisa, mas não sei se é uma boa ideia entrar de novo. Estou com medo de me perder... - falei olhando para a machadinha em minhas mãos. 

 A pessoa ao meu lado, então, colocou a mão sobre o utensílio. Sua mão estava com uma luva sem as pontas dos dedos... Espera... eu reconheço essa mão.
 Quando olhei para o lado, me deparei com o rapaz de ontem, e fiquei inquieta e só estendi o instrumento em sua direção para que o pegasse logo.

- Ah... Obrigado! - ele o pegou e encarou o objeto em sua mão com um sorriso no rosto. Como se tivesse acabado de receber dinheiro.

- M-me desculpa sobre ontem a noite... eu estava meio desnorteada e nem vi que tinha levado isso para casa. Tenho certeza que você sentiu falta... - desviei o olhar do seu.

- Sim, eu senti. Não consegui terminar de pegar lenha o suficiente, então fiquei com um pouco de frio... - ele falou num tom brincalhão.

- Me desculpa mesmo! - brinquei com meu dedos com vergonha.

- Não precisa se desculpar, sério.

 Então, tentei me acalmar e falar alguma coisa. Eu não iria me arrumar só para entregar isso e ir embora. Por algum motivo, ele me deixou um pouco curiosa sobre essa sua vida na floresta... 

- Por que você foi pegar lenha tão tarde da noite? - perguntei repentinamente.

 O observando bem agora, ele estava usando as mesmas roupas de ontem e carregando uma sacola enquanto comia uma barra de chocolate que aparentava estar deliciosa. Isso me lembrou que eu não tinha comido nada antes de sair hoje... Meu estômago começou a roncar, mas eu fingi que não tinha escutado nada e continuei encarando o chão com vergonha. O barulho foi alto... ele com certeza ouviu.

- Você quer um pedaço? - ele estendeu o alimento na direção da minha boca, enquanto suas bochechas estavam cheias.

- N-não... obrigada. Não estou com fome.

My dear hatchet manOnde histórias criam vida. Descubra agora