Capítulo 3

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Depois de me dar um pouco de comida, Alan, me acompanhou até em casa, guiando-me pela floresta para eu não me perder igual da ultima vez. Ele está sendo muito gentil comigo desde a primeira vez que nos encontramos... e eu só avacalhando... Não é a primeira vez que eu só faço alguém ter que "cuidar" de mim... Às vezes eu acho que sou um peso morto para os outros, e isso me incomoda muito.

Ainda estávamos na floresta, porque a casa dele é muito longe de toda a civilização, então nem sequer chegamos perto da rua ainda.
Estava escurecendo e esfriando cada vez mais e mais. Acho que nunca chegaríamos antes de amanhecer na minha casa.

- A-alan... - chamei sua atenção e na hora ele me encarou - Por que você mora tão longe da cidade assim?

Ele ficou um pouco pensativo como se não quisesse responder a essa pergunta, mas não demorou tanto para dar a sua palavra decisiva.

- Acho que é porque eu gosto de ficar sozinho... Não sei... Mas eu prefiro ficar aqui por conta de não me sentir muito bem na cidade... Ou sei lá - ele falou me encarando.

Eu desviei o olhar para o chão um pouco constrangida. Os olhos dele são muito bonitos... são diferentes de tudo que eu já vi. E por que ele me encara desse jeito? Me deixa corada o tempo todo.

- Sabe... - ele de repente chamou minha atenção - Você me lembra muito uma corça... principalmente o olhar... Posso te chamar de doe-eyes? (olhos de corça)

A escolha do apelido me deixou um pouco confusa... Por que eu pareço uma corça??? Será que é porque eu me assusto fácil ou sou desconfiada? Eu não sei com que sentido ele decidiu me chamar assim, mas é um apelido até que fofo... eu acho...

- Por que doe-eyes e não logo corça? - perguntei confusa.

- Seu olhar me lembra de uma corça inocente... - ele me encarou de esguela sorrindo.

Como assim inocente? Eu não entendi a brisa que ele estava agora... Qual é o problema dos meus olhos...?

Nunca achei que alguém falaria que eu tenho um olhar inocente como a de um animal. As coisas que vi e presenciei são perturbadoras demais para me fazer ser deste jeito.

- Entendi... - dei minha palavra final encarando o chão e brincando com a borda do meu moletom. Ele estava me deixando inquieta durante o percurso inteiro, mas eu gosto dessa sensação quando estou perto dele.

Durante o caminho, o mesmo ficava sempre me dando olhadas de canto como se tivesse visto algo que não percebi em mim mesma. Talvez eu estivesse estranha ou fedida? Fiquei ansiosa só de lembrar que ele retirou meu moletom quando desmaiei, e eu estava suada... Que vergonha...

- S/N... - ele me chamou parando sob o luar de repente - Posso segurar sua mão...? - perguntou-me desviando o olhar.

- Hum... C-claro... - estendi minhas mãos para atá-las nas dele.

A imagem dele sob a lua era estranhamente bonita e prazerosa. A luz batendo nos seus olhos, fazendo-os brilhar como diamante...
Assim que pôs nossas mãos juntas e atadas, eu senti seus dedos entrelaçados nos meus, me apertando gentilmente. Sua mão estava fria, e estranhamente macia como uma lã, principalmente para quem constantemente corta lenha para se aquecer. Como posso dizer...? São mãos que você sente prazer em segurar, só não entendi o porquê dele querer isso agora é tão de repente...

[...]

Após andar durante um tempo, finalmente havíamos chegado na rua. Estava escuro, mesmo com a luz fraca dos postes no meio fio. Fiquei com anseio de ir sozinha, mesmo que ontem estivesse mais escuro e mais tarde. Eu sentia que algo perigoso poderia acontecer comigo durante o percurso. Talvez se... Não, ele tem que ir para casa... infelizmente.

My dear hatchet manOnde histórias criam vida. Descubra agora