No momento, Alan, já havia terminado de comer e encarava o teto, com os olhos presos. Parecia pensativo, enquanto a dor estava claramente presente em seus olhos. Seu peito subia e descia com uma dificuldade clara, e, por alguns momentos, suas feições cansadas escapavam em um suspiro longo.
Eu apenas encarava de longe, com um único pensamento na minha cabeça: essa seria uma ótima oportunidade para fugir... mas, mesmo assim não conseguiria, pois estaria claro que mesmo todo machucado ainda me alcançaria em uma corrida... Não iria testar a sorte novamente.
Minha presença era quase nula naquele quarto, assemelhava-me mais como uma assombração no canto da porta do que como uma pessoa. Não iria ocupar a cama que ele repousava, por angústia e opção.- Doe-eyes... - chamou-me com uma tosse bem dolorida de se ouvir - Por que está tão longe?
- Desculpa... - rapidamente levantei e fui em sua direção, sem antes deixar de suspirar triste - Achei que precisaria ficar com mais espaço na cama para deitar e descansar...
- Deixe disso... sabe que eu amo você e odeio quando se afasta desse jeito - com os cotovelos, ergueu seu corpo, fitando meus olhos.
Por algum motivo minhas mãos estavam trêmulas, mas meu coração batia tão lento que me preocupei muito. Deve ser consequência da minha saúde horrível e ela ficou pior quando nem uma caminhada até a sala eu fazia, já que Alan trazia coisas para mim ou me carregava. Eu praticamente fiquei vegetando na cama por dias...
- Mas... você precisa descansar bem... olha como você está mal - deixei meu tom de voz sair mais tristonho do que eu queria.
- Vou melhorar se for você me cuidando.... - Alan, rapidamente, alcançou as minhas mãos para acamá-las com seu toque.
A partir desse momento minha boca não quis mais abrir para falar nada e apenas recebi o carinho nas costas da minha mão com o olhar desviado dele. Apesar de eu ter medo dele, não posso deixar de esquecer já ter me apaixonado perdidamente por ele porém agora... tudo se foi por água abaixo.... Se ao menos ele fosse alguém normal...
Passou algumas horas desde o incidente que tivemos, porém Alan parecia bem calmo para alguém que matou outras pessoas - mas também, ele é um assassino desde muito antes de eu o conhecer, então coisas desse tipo já devem ter acontecido mais de uma vez.
Ele acabou dormindo no meu peito, enquanto eu fitava o teto com insônia beirando meus olhos vermelhos de tanto tempo que eu estava sem piscar. Já não era a primeira vez que eu ficava desse jeito.... Tive de me acostumar com essa nova vida de não conseguir dormir tão rápido, principalmente quando estou perto dele...Embora esta seja uma oportunidade muito boa para fugir; não iria arriscar novamente, pois a mesma pessoa que parece dormir igual a uma pedra, consegue acordar com as tábuas do chão rangendo - mesmo que sejam mínimas. Qualquer som, mínimo canto de pássaros ou passos de um gato no chão conseguem o acordar. Me dei muito mal por ter tentado fugir assim, porque foi nesse momento que percebi: mesmo com os olhos fechados ele está de olho em mim o tempo todo.
O quarto estava escuro demais para enxergar qualquer coisa a minha frente, mas, por alguma razão, um brilho luar conseguia passar por um pequeno buraco nas tábuas na janela, alcançando justamente meus olhos - finalmente me tirando do transe em que estava.
- Hmm... Doe-eyes... - Alan gemeu repentinamente, dando um calafrio na minha espinha.
No mesmo instante, senti seus braço me apertarem com mais força contra seu rosto, o que me deixou de uma forma desconfortável para eu dormir. Se antes eu não estava conseguindo, agora ficou pior ainda....
Tentei o meu máximo me ajeitar e fechar os olhos, contudo, quanto mais eu tentava afrouxar o aperto, mais ele tentava tornar nossos corpos em um.
- Você devia dormir também - resmungou sonolento, ainda com os olhos fechados - Não gosto de ver você acordada tão tarde da noite...
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My dear hatchet man
FanfictionS/N toma uma decisão animada de deixar para trás uma vida de abusos psicológicos e maus-tratos, buscando uma nova chance em uma cidade distante. No entanto, mesmo afastada da influência tóxica familiar, ela continua a lutar com seus demônios interno...