Capítulo 9

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Acordei no meio da madrugada, sentindo as cicatrizes dele encostando em minha pele, parecendo espinhos roçando em mim. Tenho que ser sincera, essas marcas pelo seu corpo são muito suspeitas. Ainda mais pela escolhas de palavras que usou para justificar.
Eu tenho noção de que a floresta é realmente perigosa, principalmente de noite, mas eu não acredito que haja algum animal tão letal, pois não há grades na divisa da rua. Essa história está muito estranha para mim...

Tem coisa que não faz sentido ainda... Ele com certeza deve estar escondendo algo de mim... Odeio não saber de nada...

- Vai dormir, Doe-eyes... - Alan resmungou de repente, quase me fez gritar por causa do susto, mas ainda bem que segurei esse impulso. Senão, ele saberia que estou acordada de verdade - Não adianta fingir. Eu sei que está acordada... - resmungou novamente.

- Não, não estou... - retruquei, tentando brincar.

 O mesmo apenas soltou um arzinho pelo nariz, simulando uma risada, antes de me abraçar mais forte e deixar um doce e gentil beijo no meu couro cabeludo. Eu estava com a cabeça próxima de seu pescoço, o que facilitou muito.

- É sério, Doe-eyes. Vai dormir - essas foram as ultimas palavras que escutei, assim que fechei meus  olhos.

[...] 

 Realmente eu havia caído no sono tão profundamente, que acordei e percebi que a luz do sol estava se abrangendo do lado de fora, em uma intensidade grande. Grunhi e tapei meu rosto com o cobertor, com vontade nenhuma de me levantar para fazer algo, mesmo que fosse de alta urgência.
 Mas, algo está errado... Cadê o Alan? Não senti seu corpo no meu. Talvez tivesse caído da cama? Ou levantado primeiro?

 Afastei o cobertor de mim e olhei para o chão à sua procura, porém, nada dele aqui, exceto por uma folha de papel no criado-mudo. Uma carta, com a nomenclatura em meu nome. A peguei para saber do que se tratava, já que era para mim.

Querida Doe-eyes,

 Tive que sair bem cedo hoje para fazer uma coisa importante, mas com certeza voltarei a tarde ou a noite para ficar com você. Sugiro que não saia daí, para que a mesma situação de ontem não se repita, e desta vez; sem eu chegar a tempo de novo. Não irei demorar muito aqui, não se preocupe.

P.S.: Tem comida na geladeira o suficiente para você não sentir fome. Também há algumas balas, pode pegar quantas quiser, não me importo.

P.S.2: Espero que fique bem. Te amo, Doe-eyes <3

 Com amor, Alan.

 Essas ultimas palavras fizeram meu coração saltitar de alegria, mas gostaria de ter ouvido vindo de sua linda voz. Ouvi-lá tão sinceramente como sempre responde, me faria vomitar arco-íris para o resto da vida. Isso mexe tão forte com o meu emocional, que pude gritar que eu o amava também.
Talvez ele tenha os mesmo sentimentos que eu? Eu não sei dizer... Apenas uma carta não é o suficiente para demonstrar o seu amor. Não quero tirar conclusões precipitadas novamente. Alem disso um "eu te amo" é muito vago para mim...

Apressada por querer ir no banheiro, me levantei bruscamente da cama e caminhei igual a uma lesma até o local, onde tive meu alívio.
Era estranho caminhar pela casa de Alan, sem ele por perto. Eu me sentia uma intrusa aqui. Esse é o meu primeiro dia estando aqui, o que mostra minha desorientação. Obviamente ainda não me acostumei com as divisões dos cômodos.

Para não criar futuros problemas para ele - pois tenho noção que tudo que toco, quebra -; me deitei novamente na cama dele para mexer no meu celular. Por infortúnio meu, aqui não tinha sinal de Internet.

- Que vida chata, hein, Alan - murmurei para mim mesma enquanto me levantava pra procurar Internet pelo lugar.

 Óbvio que andei à toa, porque ele mora no meio de uma floresta, então, é justificável não ter sinal por aqui. Mas o que uma pessoa que vive o tempo todo na internet  faria além de dormir? Pensei em caçar alguma coisa pela casa dele para ver se tinha algo de interessante para fazer, mas não achei nada também. Agora pronto... Demoraria para ele voltar e eu faria nada durante esse tempo todo... Decidi ir para cozinha para pegar as balas que o mesmo me falou. E depois de consegui-las, notei uma porta com algumas marcas ao lado da maçaneta, como arranhões e cortes. Fiquei curiosa, claro, e fui tentar abri-lá, porém, estava trancada. Por causa disso, teria que deixar para perguntar para ele depois.
 Talvez seja só um porão, eu pensei.

My dear hatchet manOnde histórias criam vida. Descubra agora