Capítulo 14

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 Alan e eu estávamos sentados na grama, sobre as raízes de uma árvore grande, apenas desfrutando do belo dia ensolarado da tarde. Realmente senti um alívio no peito quando vi que o mundo lá fora não tinha perdido sua cor e nem mesmo a vida, diferentemente de mim. Meu corpo assim que sentiu o toque suave da grama e a queimação na pele por conta do sol, liberou memórias de nostalgia de quando eu podia viver minha vida, presenciar e sentir as coisas...

 Ele deu um suspiro e se esgueirou em cima do meu corpo, jogando o peso da sua cabeça na minha. Uma de suas mãos, ligeiramente, agarrou a minhas e ficamos sentados em silêncio, sendo o ambiente a única coisa audível, além de minha respiração pesada.

- Como se sente? - perguntou-me sem me olhar - Melhor?

- Muito melhor... - suspirei sincera e ele apertou minha mão mais forte - É como se fosse a primeira vez que eu saia...

- He... Você falando desse jeito faz parecer que eu te deixei presa por uma eternidade... - o tom de voz dele saiu um pouco abalado e fingia estar sorrindo.

- Não foi isso que eu quis dizer... eu... esquece.... Podemos apenas ficar em silêncio por mais um tempinho? - perguntei deitando meu rosto sobre seu peito, enquanto sentia vontade de chorar.

- Claro, Doe-eyes... - o tom apaixonado dele só me fez querer chorar ainda mais. Para me deixar mais confortável em cima de seu corpo, deitou na grama e me abraçou.

- Eu ouvi... - comecei a falar de repente, com uma voz cansada.

- Hm? 

- Eu ouvi você cantarolando em uma língua diferente ontem... O que dizia a letra...? - meus olhos se encontraram nos dele. 

- Quer que eu cante para você, Doe-eyes? - os lábios macios dele encostaram a pele da minha testa, com um toque profundo.

- Sim... - respondi ao me aproximar mais de seu corpo.

- Não é bem uma canção, mas sim algo como um poema que eu mesmo escrevi quando te vi pela primeira vez... - a fala dele remetia aos dias em que me stalkeava, com certeza - Petite fleur qui pousse dans mon jardin... Je vais en prendre soi, l'arroser et couper les feuilles mortes de sa tige... Mais ne me déteste pas, je fais juste ça pour que tu ne meures pas de nuisibles. Je veux un jour te voir fleurir et être à moi seul pour toujours, car moi pourrais prendre soin de toi, ma chère...

- Qual é a tradução? 

 Ele ficou um tempo quieto e apenas deu um beijo na minha testa com ternura. Pelo jeito que é maluco, se trataria de uma coisa doentia e por isso não quis me contar.

- Quem sabe um dia eu te conto.... mas não hoje - seus braços me agarraram com mais força e pude ouvir o coração dele bater muito rápido, diferente do meu que batia lento demais para uma pessoa normal... Eu sabia que aos poucos minha vida era sugada por ele e algum dia chegaria ao fim... Mas sentia que seria muito em breve.

 Como uma brisa, sem ser passageira, senti um peso nos ombros e comecei  ter uma crise silenciosa, apenas escutando os pássaros cantarem lidamente; mesmo comigo gritando internamente.

- Alan... o que faria se eu morresse de repente?

 O rosto dele logo ficou surpreso e em choque, pude perceber o estado desesperado dele ao mesmo tempo triste. As mãos começaram a tremer e seu olhar caiu um por um momento. Lambeu os lábios abalado e rapidamente me olhou com cara feia.

- Não fale uma coisa dessas, Doe-eyes... - tentou parecer calmo, mas surtaria a qualquer momento - Se você morrer eu também vou, pois estamos conectado e nada nem ninguém irá mudar esse vínculo que possuímos juntos. Não fale mais sobre isso, ouviu?

My dear hatchet manOnde histórias criam vida. Descubra agora