S i n g u l a r i t y

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Mais um dia patético na escola chegava ao fim. Taehyung andava pelos corredores em direção aos armários para finalmente se livrar daquela tortura. O dia em questão foi horrível, o Kim teria que apresentar um seminário em grupo na semana seguinte e isso estava lhe torturando. Odiava a ideia de ter que conversar com alguém, principalmente com pessoas que não suportava nem a voz. A sua sorte foi que os alunos foram sorteados pelo professor, se não fosse por isso, sobraria em mais um trabalho e teria que correr atrás disso depois.

Mas quem ele queria enganar? Não tinha ânimo para aquilo, nem se quer queria estar naquela escola e até poderia se desmatricular e seguir uma vida fajuta por aí, isso se não fosse pela maldita promessa que fez com sua mãe antes do acidente. Promessa a qual se arrependia amargamente por ter feito. "Prometo terminar o ensino médio e me formar em uma boa faculdade, mamãe", disse ele com seus 16 anos de idade em uma tarde animada de churrasco em família. Patético.

Os corredores estavam lotados de pessoas de tudo que é tipo. Os populares conversando sobre basquete, bebidas e garotas em um canto; os nerds se reunindo para a reunião do grêmio estudantil; as garotas de saias curtas sorrindo discaradamente para os tais populares; e Taehyung, com o rosto escondido por uma máscara preta e um capuz cobrindo seus cabelos castanhos. Ele andava de cabeça baixa com as mãos escondidas nos bolsos do moletom grande e um fone de ouvido. Era um rapaz bonito. Pele clara, olhos felinos marcantes, corpo esbelto e cabelo castanho grande em um mullet nada proposital, a preguiça de cortar o cabelo acabou favorecendo muito na sua beleza.

Chegou aos armários. Abriu a porta do seu e pegou o  caderno de matemática, a única coisa que realmente guardava ali. Não via necessidade em um armário daqueles, tinha mochila e podia resolver tudo facilmente levando as coisas de casa até o colégio.

Ajeitou a mochila no ombro e respirou fundo antes de trancar o armário e sair andando em direção a saída da escola, sendo acompanhado de vários alunos completamente zoadentos e irritantes. Como alguém poderia gostar tanto de conversar daquela forma? O Kim presava o silêncio, adorava a calmaria e a paz de lugares silenciosos, como a biblioteca, que fora o seu refúgio desde o primeiro ano no ensino médio, onde viveu a pior fase da sua vida.

Depois de uma caminhada de 20 minutos, finalmente chegou em casa. A sua casa tinha dois andares (térreo e primeiro), o que não era incomum naquela rua de Daegu. Quando entrou, jogou a mochila no sofá e subiu até o primeiro andar em direção ao seu quarto. Tirou a máscara e abaixou o capuz do moletom, bagunçando o cabelo com as mãos. Se jogou preguiçosamente na cama e tirou o tênis, finalmente se sentindo livre daquilo. Ele suspirou frustrado, estava cansado daquela rotina repetitiva e desanimadora. Todos os dias fazia as mesmas coisas e estava ficando cada vez mais desanimado com a sua vida pacata.

Ele levantou novamente e foi até o andar de baixo, em direção a cozinha. Passou longos segundos analisando a geladeira em busca de algo para comer apenas para não morrer desnutrido, nem fome sentia mais. Acabou pegando só uma fatia de pizza velha que tinha ali, de uns cinco dias atrás, e esquentou no microondas. Sentou à mesa e começou a comer da forma mais lenta e desgostosa que podia, aquilo estava horrível. Quando acabou, botou o prato sujo na pia e foi até a sala, mais especificamente, até a estante de livros que tinha ali. Livros. A única coisa que o Kim realmente gostava, além de música. Mas em vez de pegar algum livro daqueles que todos gostam e conhecem, pegou um dos diários do seu pai que deixara ali na noite anterior. Quando o Kim adquiriu uma idade mais avançada, descobriu que o seu pai, em toda a sua vida, escrevia diariamente em seus diários. Ao todo eram 25 cadernos diferentes, numerados de acordo com o ano em que estava enquanto escrevia. O garoto pegou o diário de número 19 e guardou na mochila junto com os livros da escola, jogando a mesma ali em cima de novo e subindo para o seu quarto, onde passou o resto do dia inteiro na cama, apenas pensando em vários motivos para desistir de tudo aquilo.

The Coffee Shop BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora