Capítulo 1

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De costas para a porta e de frente a mesa remexo os papéis, documentos assinados pelo judiciário, leis e mandatos para serem avaliados

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De costas para a porta e de frente a mesa remexo os papéis, documentos assinados pelo judiciário, leis e mandatos para serem avaliados. Desde manhã não parei nem um segundo, meu dia se resume em agitação, leituras, relatórios e revisão. Guardo um aglomerado de papéis dentro do envelope pardo, e os empurro na gaveta. De solaio vejo uma imagem. Melhor, alguém. Ivan escorado no umbral da porta, os braços cruzados. Seu olhar me corta, perfurando-me, até perder o ar em meus pulmões. Não deixo meus afazeres ao percebe-lo. Ele percebe ter sido notado e avança passos para dentro do meu escritório.

- O que está fazendo? - Ouço sua voz passar por trás de mim. Prendo o fôlego, sem transparecer.

- Trabalhando. Já ouviu falar dessa proeza?

- Não no horário de almoço.

Andando sorrateiro se a jogou na cadeira giratória, sentado de modo desleixado, e despreocupado. Seu terno é novo. Um preto brilhoso, nem largo e nem justo, um caimento perfeito, destacando seu físico sem revelar muito.

Abro o notebook, fechando as pastas abertas. Não quero correr o risco de ter alguém pegando meus casos. Aqui dentro, nem todos são confiáveis. Nem mesmo eu.

Eu nunca seria a primeira a sabotar, é claro, mas não tenho medo de me defender jogando o próprio joguinho alheio. Ivan gira na cadeira, sua colônia marroquina entra à força em minhas narinas.

Trabalhar... Eu preciso trabalhar. Não dá com ele forçando-me a inalar seu cheiro.

- Ivan, eu preciso trabalhar...

- Vá em frente - O moreno para o que está fazendo levantando, não para ir embora. Não, ele quer ver até onde vou.

Seu rosto tenso, tentando reprimir um sorriso cafajeste, enquanto seus olhos queimam em mim. E de fato sinto queimar.

Avanço passos até o armário, passando a mão na bolsa pego o pequeno frasco vermelho no bolsinho de dentro. Minha paciência já é curta, com ele então, nem existe. Posiciono o vidrinho na direção do cria amarela já em pé. O sorrisinho está lá, irônico como sempre. Meu sangue ferve.

- Pelo última vez, senhor Falconi. Lhe convido com gentileza a se retirar da minha cabine, e voltar para seu lado do corredor. Creio que não irá recusar um pedido tão delicado - Digo entredentres mantendo a pose. Tudo o que tenho como resposta é uma risada, tento me manter firme sobre meus salto alto.

- Olha só. Até seu spray de pimenta é vermelho - Ignoro seu comentário abrindo a porta. - Foi um prazer revê-la, nossos encontros estão ficando cada vez mais interessante. Mal posso esperar para o próximo.

Ele passa por mim, um tanto próximo demais. Pegando minha mão, abrindo a palma da mão e beijando ali. Sinto seus lábios quentes em minha pele, um encontro demorado de propósito. Sua íris castanhas me encaram novamente antes de bater a porta.

Só mais um dia normal.

Continua...

Senhor Falconi (Ivan Furlan Falconi)Onde histórias criam vida. Descubra agora