Capítulo 12

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O expediente enfim acabou, e trancando a porta atrás de mim desço para o estacionamento, onde fiquei de encontrar Cecília. Mas ao chegar, olho entre os milhares de carros belíssimos, e nenhum deles é o meu. Onde pelos fileiras apertando o alarme para vê se algum responde.

Hoje não é um bom dia para brincadeiras. Estou cansada, com sono, estressada  e agora: a pé.

Filha da puta...

Pego o celular no bolso e deslizo o dedo pela tela a procura do aplicativo de Uber. De canto de olho vejo alguém distraído com a papeladas, destravar o carro e entrar. Até pessoa sair, repouso meu corpo no capô de um carro alheio, e fingir ter o controle da situação.

Minha língua está formigando para xingar alguém, espero que ninguém apareça.

Um carro vem passando pelo corredor que estou, continuo firme sem tirar a atenção da tela de propósito.

O carro perde velocidade ao chegar a mim, quase parando na minha frente.

Que não seja o Ivan...

Que não seja o Ivan...

Rezo com todas as minhas forças, fecho os olhos esperando não ouvir a voz de quem é que seja.

— O que houve com seu carro? — E é o Ivan. Eu acertei pedra na cruz? Ou chutei oferenda? Porque essas coisas só acontecem comigo. Quando eu acho que consegui me centrar, a vida me passa rasteira.

— Eu já estou chamando um Uber — Digo. Não estou não, a tela do celular resolveu congelar na mesma posição e não sair mais.

— Por que não entra logo e para de marra? Tá escrito na sua testa que tudo está dando errado de novo.

— Eu já disse que tô chamando o Uber.

Ele continua parado, me olhando com uma sobrancelha erguida e semblante sério. Suspiro mentalmente, porque sem o celular eu não sou nada. Ele destrava a porta do carona e dou a volta no carro até lá.

Da última vez que entrei num carro com esse, acabamos um encima do outro. E sério, esse é um joguinho que não tenho energias psicológicas pra jogar.

Me acomodo no banco e passo o cinto por mim. Ele dá uma última checada no retrovisor, e puxa o freio de mão.

Não preciso dizer que o silêncio reinou em nosso meio, né? Lanço uma olhada sútil, capto que o mesmo não usa a sua costumeira gravata, e a gola da blusa está mais arregaçada. Vejo pelo retrovisor a peça roxa jogada no banco de trás, volto o olhar pra janela desapontada.

Tenho tantos fetiche por aquela gravata. Ele se torna mais excitante com ela. Imagino minhas mãos a agarrando firme, tão forte que ele vem até a mim. Ele negando seu beijo em minha boca, porém salpicando selinhos por todo o corpo sem negligência nenhum pedacinho. Não podem me julgar por imaginar seus dedos entrando em mim, conferindo o quão molhada estou por ele. Seu gemido seria a única música que meu coração seria fã, e quando seus lábios chegassem em minha boca, eu o apreciaria, sentindo meu próprio gosto e o seu fundido.

— Tão pensativa — Estremeço ao notar que ainda estamos no carro, e droga, já disse que sou um ser expressivo?— Já disse que você fica tão sexy assim?

O encaro de volta, ele me fita de solaio, a boca riscada de lado. Seu meio sorriso é convencido e sagaz, já imaginando a imagem que se passa em minha mente. Ah, mas ele também imagina a mesma coisa. Noto também que seus cabelos estão úmidos, e apesar de penteados, uma mechinha rebelde cai sobre sua testa.

Mas ainda me recuso a falar qualquer coisa.

— Posso? — Indica o rádio.

— O carro é seu.

Ele ajusta o som. Uma melodia clássica que não conheço. Sua cara se contorce em uma careta e acaba passando para a próxima música.

Justamente nesse exato momento está tocando Yummy – Justin Bieber.

Onde eu vou enfiar minha cara? Isso é música de adolescente...

— Essa é legalzinha, vai — Seu tom de deboche faz ser quase impossível sustentar a seriedade.

Ele mantém a música como uma forma de indireta.

Yummy
Justin Bieber

Yeah, you got that yummy-yum
That yummy-yum, that yummy-yummy
Yeah, you got that yummy-yum
That yummy-yum, that yummy-yummy
Say the word, on my way
Yeah, babe, yeah, babe, yeah, babe
Any night, any day
Say the word, on my way
Yeah babe, yeah babe, yeah babe
In the mornin' or the late
Say the word, on my way"

Essa parte eu sei a tradução.

"Como um garanhão de raça
Não fica no estábulo, não, você se mantém em movimento
Não é minha amante, você é a número um
Sim, toda vez que eu chego, você faz (você faz)"

Mordo os lábios tentando manter a cara séria, mas não dá. A pressão na garganta aumenta e sem poder me conter deixo-me vibrar em gargalhadas.

Não lembro de ter rido tanto na minha vida. De repente volto a ter 15 anos recebendo cantada de um garoto na escola. A vida realmente é uma grande ironia. Ele não aguenta e acaba se juntando a mim. Eu nunca tinha ouvido sua risada antes, é um som caloroso e gostoso de ouvir. Livre, solto.

— Errado ele não tá...

— Quanta apelação, viu? —Meu sorriso aberto e solto não desarma enquanto falo. Esse é um raro momento onde me sinto realmente leve.

— Vou mandar um carro do amor na tua porta — Rio ainda mais alto. — "Nala Reis, essa é pra você... — Sua imitação perfeita do locutor me faz entrar em crise. Meu abdômen dói de tanto rir.

— Se estiver tocando Yummy no fundo saberei que é você.

Dessa vez quem rir é ele.

Passamos por sua casa, o que diz que estamos chegando na minha. Bom, que pena. Nunca pensei que dizia isso, mas ficar no mesmo carro que Falconi não foi uma coisa ruim.

— Te vejo amanhã na reunião? — Ele pergunta, eu apenas assinto.

Chegamos no meu destino. Está virando rotina ele me trazer em casa já. Isso não é nada bom, pra mim e nem pra ele.

O cinto não quer soltar, o carro dele é 100 vezes mais moderno que o meu, se arrebentar a menor peça disso nem meus rins pagam.

— Deixa que eu te ajudo.

Suas mãos tão próximas me dão um nervoso sem fim, sem contar que ele se inclina para destravar.

— Se quebrar a culpa é sua. Eu literalmente não tenho como pagar por isso, e já vou avisando que nem água eu bebo para te dar meus rins.

Ele levanta o olhar franzindo a testa.

— Você não bebe água? — Sério que é tudo que ele ouviu?

O cinto solta.

— Se não tiver como dar os rins, pode dar outra coisa também...

Finjo de desentendida tentando não devolver seu  sorrisinho malicioso e  escarnecedor. Mas o clima pede por isso. Mostro o dedo do meio para ele.

— Nem um beijinho de obrigado? — Pego seu rosto com as mãos e dou um beijo na bochecha.

— Obrigada — Pego a bolsa no chão.

— Tchau, Nala. E beba água.

Assim que sai, a porta se trava e o vejo fazendo o caminho de volta.

Continua...

Senhor Falconi (Ivan Furlan Falconi)Onde histórias criam vida. Descubra agora