Capítulo 31

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Eu jurei para mim mesmo que não voltaria nem tão cedo a essa casa, mas aqui estou. Paro a corro na garagem, e deixo o portão automático fechar sozinho. Travo o carro, e sigo para dentro da casa. Não são os mesmos passos que dei da último vez que estive em Guará, esses são leves. Mordo o lábio inferior para guardar o sorriso que ameaça a sair,  nada adianta já que ao encontrar Bella atolada em papéis e agendas, vou até ela e a abraço sem nem dizer o motivo.

— Uai... Que abraço foi esse?— Afasta o rosto risonha. — Não me diga que...

— Vou responder ao processo.

Bella tampa a boca com as mãos, rio a abraçando mais vez. Ela esperou muito para ouvir essa frase.  E agora finalmente pôde proporcionar isso para ela.

— Ivan... O que mudou?

Conto para ela o que aconteceu de uma forma resumida. Bella ouve com atenção, a cada detalhe sua mente parece trabalhar para achar uma possível solução.

— Os tios ligaram. Perguntaram de você, eu desconversei. É um assunto seu, você tem que contar.  — Pega o notebook do sofá e põe em seu colo, abrindo-o. — Você precisa conversar com eles sobre.

— Eu vou contar, só estou esperando tudo se resolver. Sabe como minha mãe é, ela vai querer viajar só para se certificar que estou bem. E Brasília anda muito perigosa...

— Você é péssimo em proteger as pessoas. No seu lugar, deixava essa tarefa para a polícia.

Rio irônico.

— Esse é o problema, Bel. Nós estamos precisando ser protegidos da polícia — Checo o relógio. — E a Ceci, sabe onde está?

— Trabalhando, ué... — A ruiva continua mexendo no aparelho e me ignora.

— E a Nala? Tá em casa? — Ela me fita. Já sabendo da minha intensão.

— Não acho uma boa ideia. Não fez nem um dia que ela esteve no hospital, se você aparecer lá, ela vai arrancar sua cabeça...

— Eu só perguntei — Ergue as mãos em rendição. Deixo o crachá encima da superfície de vidro da mesa, e no caminho para o meu quarto desabotoo a camisa, a deixo aberta e me jogo no meu colchão macio.

Disco o número da minha mãe, porque Bella tem razão. Se algo pior acontecesse eu teria que contar do mesmo jeito. Mas dar notícias nunca foi o meu forte. Principalmente para minha mãe que quase morrer com tudo, meu pai já é mais tranquilo de lidar.

Ouvir a voz dela me faz bem, talvez leve para longe minha negatividade. E quando a chamada é atendida, já não me sinto o Senador Ivan Falconi, e só o antigo nerd, e tímido Ivan.

[...]

(Nala)

Abro a porta do escritório do psicoterapeuta mais vez, ele revira os olhos ao me ver. Hoje é o dia certo da consulta, mas como vim ontem também, ambos estamos cansados de olhar um para a cara do outro.

— Senhorita Reis — O especialista me oferece a mão por pura educação. — De novo.

— Fiz o que pediu, passei a noite toda escrevendo. Porém só fiz um capítulo, acho que devia ser mais, né?

— Depende do que escreveu aí — Nala estende o caderninho para o psicoterapeuta, o mesmo o rejeita.— Leia pra mim.

Quase ri de descrença, mas o moreno em minha frente permanece sério, convicto, com os dedos entrelaçados na frente do corpo.

— Bom... Talvez as palavras que usei sejam um pouco fortes... — Não, ele só pode estar brincando. Eu nunca li nada meu para alguém, nem para a Cecília. Ela sabe porque já leu algumas escondidos, mas nessa hora minhas mãos começam a suar frio.

— São suas palavras. E sinceramente, com base nas nossas conversas anteriores, eu não espero menos da senhorita.

Ele tem razão. E eu sei exatamente o que ele está fazendo.

Ele quer me ouvir. Me ouvir expressar meus segredos e desejos mais íntimos, me fazer admitir meus sentimentos em voz alta.

Argh...

"— Diga que me quer tanto quanto eu..."

A voz dele volta a assombrar minha consciência. Ele adorava fazer isso, me fazer admitir que o queria em voz alta.

Fecho os olhos e conto até três.

O abri de novo, decidida a acabar de uma vez por todas com isso.

"Talvez a escrita desse livro, aperte gatilhos em sua mente. Pois você, caro leitor, está prestes a olhar dentro da minha vazia e obscura alma. Não se assuste se o abismo que há nela te olhar de volta. Mas, se por algum motivo você achar que consegue prosseguir, boa leitura.— Começo a leitura dos manuscritos. — A pessoa que vos fala, desliza pelo salão pouco iluminado, passo por passo. Em meus lábios tingidos de forte vermelho, um sorriso risca meu rosto sereno e inocente. Me delicio com o som alto das risadas do meu amante querido, com o novo porão que dei para ele. Será que estou ouvindo bem, ou seria gritos?As declarações de amor não são exatamente o que parecem ser, transportando em xingamentos que nunca ouvi antes. Mesmo assim os recebo emocionada. Quando me aproximo de seu corpo pendurado pelos punhos, contemplo a maquiagem que fiz em seu esplêndido rosto. O roxeado ao redor dos olhos é pelas vezes que acreditei que eles pudessem ler minha alma. Pela vez que me entreguei tanto que realmente me permiti ser lida por eles. Ele geme quando toco na pele lesionada. O que dizer sobre seus lábios cortados? Ah, eles se tornaram mais beijaveis assim. Lembro perfeitamente deles se encaixando nos lugares mais ocultos do meu corpo, chupando e deixando mordidas por onde passava. Como eles eram felizes naquela época. Deslizo o canivete lentamente pelo seu peito nu, ele não merece tanta dor, então deixo beijinhos para sarar. Não me importo que seu sangue se misture com meu batom. Ele merece. Merece toda a minha atenção. Não é isso que ele queria? Não queria que fosse só sua, pois bem, agora estou aqui! Aperto a lâmina em minhas mãos, cortando os meus próprios dedos. Eu já disse que não me importo porra! Esse é o MEU inferno, eu sou a chefe aqui! Ele tem que pagar pelos seus pecados, e pelos meus também. Mas não, aqui não tem Diabo, sou só eu mesmo. Ivan Furlan Falconi, eu já te matei e beijei na minha cabeça mais vezes do que gostaria de admitir.

Acabo de ler, Levanto os olhos e o jovem psico me fita. Expressão neutra como sempre. Mas há algo de peculiar, sua atenção está toda em mim, sem desfazer o contato visual por nenhum estante.

Droga! O que deu na minha idiota mente de ler um negócio desses para ele? Agora mesmo que ele me prende o resto da vida na terapia.

— Isso é o que você tem vontade de fazer com ele? — Apoia o dedo indicador na têmpora, enquanto anota algo em seu caderno. Sua postura já não carrega o tédio de antes.

— Sim.

— Ótimo, continue assim — Me oferece um jóia. — Nas próximas consultas, quero que dê uma escala de 0 a 10, se você está melhor ou pior do que quando começou a escrever os capítulos. Okay?

— Okay. — O relógio me diz que acabou minha sessão. Estranho, nem vi o tempo passar.

Continua...

Senhor Falconi (Ivan Furlan Falconi)Onde histórias criam vida. Descubra agora