Capítulo 25

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Pela primeira vez, eu não sinto vontade de compartilhar um acontecimento pessoal com a Cecília

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Pela primeira vez, eu não sinto vontade de compartilhar um acontecimento pessoal com a Cecília. Sempre afoguei minhas frustrações nas nossas conversas, mas dessa vez não é assim. Quero deixar pra mim. Até porque eu sei que do jeito como ela é, vai lá tirar satisfações. Também não quero entrar no meu quarto. As lembranças que lá estão impregnadas me trazem a tona toda a cólera que me cega.

Ligar o chuveiro do meu quarto será sentir de novo a boca dele na minha. Pôr a cabeça sobre o travesseiro será lembrar dos meus dentes cravados nele.

Meu lugar de descanso está impuro para mim.

Até meus lençóis têm o cheiro dele.

A porta se abre, Cecília passa por mim, dando um beijo no topo da minha cabeça.

— Como foi lá? — Diferente dos outros dias, hoje ela resolveu sentar do meu lado. Deixo o notebook de lado, dando toda minha atenção para a minha pessoa favorita.

— No Senado ou na psicoterapia?

— Ambos.

— O meu psicoterapeuta é um cretino, me fez as mesmas perguntas que meu médico e me deu uma folha que não serve pra nada. E o Senado, não encontrei o senhor Andrades de imediato, então deixei as pastas na recepção. A boa notícia é que tenho menos trabalho pra essa semana.

Omito a parte que me estressa. Bom, é isso que eu preciso, ver o lado bom da coisa.

— Você tem uma sorte com médicos, admiráveis — Ri irônica. — O que acha de sairmos esse final de semana?

Varro minha agenda mental, meus dias estão todos preenchidos, e preciso urgente voltar para a velha rotina de antes da agravação do problema de saúde.

Menos trabalho essa semana, não quer dizer exatamente tempo livre. E sim, novas chances para antigas prioridades.

— Não vai dá Celi, não tenho tanta energia quanto você. Apesar de apreciar seu entusiasmo — Jogo-me sobre ela, sem me importar com o peso. — Que tal passar um pouco pra mim?

— Eu não sei você, mas eu preciso sair, ver gente pra me manter bem humorada. Vai — Sua voz manhosa enjoa meus tímpanos. Um sorrisinho mínimo nasce em meus lábios, o escondo com as mãos. Ela já sabe que venceu. — Eu estava pensando em pegar uma cachoeira. Tô precisando retocar meu bronze.

— Ou só sair por aí igual umas nômades.

— Isso também funciona.

— Você viu ele? — Sabia que acabaríamos voltando nesse assunto. Xingo mentalmente.

— Vi — Puxo os freios de minhas emoções tentando não transparecer nada além do que ela já sabe. — De longe.

— Qual foi a sua cara ao vê-lo?

— Normal, acho. Não é como se nunca tivesse transado com um colega de trabalho antes, só... Não esperava vê-lo tão cedo.

Tudo o que disse é verdade. Ainda lembro da primeira vez que algo parecido me ocorreu. Guillermo Salvador, no meu primeiro semestre como Secretária adjunta. Não que eu o compare com o Falconi, mas ele nunca foi um envolvimento de se esquecer fácil. Não me lembro ao certo o que aconteceu com ele, acho que foi promovido e transferido de unidade. Gui como a Celi gostava de chamar, foi mais uma amizade colorida, um tipo de sexo casual. Não sei se poderia manter algo assim com Ivan. E agora essas dúvidas foram dizimadas naquele escritório.

Senhor Falconi (Ivan Furlan Falconi)Onde histórias criam vida. Descubra agora