Capítulo 17

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— A senhorita está tomando seus remédios? — O grisalho ajeita os óculos no rosto, sem olhar para mim

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— A senhorita está tomando seus remédios? — O grisalho ajeita os óculos no rosto, sem olhar para mim. Avalia minha nova receita passada pelo médico que me atendeu no hospital central.

— Sim. Te manhã, tarde e noite como o senhor mandou. — Respondo um pouco mais envolvida no diálogo.

— Pelo que vejo, ainda não tem sintomas de anemia. O exame de sangue está okay, só vou passar uma bebida de beterraba e laranja pra tomar uma vez na semana. Só por garantia.

Aspiro cansativa, morrendo por dentro.

— Sobre a sonolência... — Não termino, pois sou interrompida pelo médico de aparentemente 50 anos.

— Efeito do medicamento. Vou encaminhar todo o tratamento para o seu nutricionista. — Carimba a folha de papel azulado e me entrega.— Agora é só vê como está esse estômago. Pelas dores, não tenho muitas dúvidas do que pode ser. Até lá, evite esses alimentos que listei e mantenha a alimentação básica do feijão e arroz ao menos.

— E sobre as circunstâncias que as dores ocorrem?

— Como disse, preciso dos exames pra ter certeza, mas suspeito que você tenha desenvolvido uma gastrite, não sei o tipo da gastrite, mas encaminhei uma endoscopia. Aí saberei se há ou não inflamação. —  Enfim olha para mim. — Esse é só mais um dos problemas que você desenvolveu com a má alimentação. Nala, você é jovem e tem uma vida construída. É muito triste ver gente da sua idade morrendo por burrice. Eu tenho esperança em você, e a prova de que estou certo é o fato de você ter procurado ajuda médica. Estou feliz em revê-la.

— Dessa vez não irei decepciona-lo, doutor — Levanto da cadeira, estendo a mão para o homem ao qual costumava ser meu antigo médico. Ele aceita, imitando meu toque.

— Acho bom, senhorita Reis.

Sorri.

[...]

— Como foi lá? — Pergunta Cecília carregando as sacolas para dentro de casa, uma em cada braço. Abro a porta para ela dando espaço para minha amiga entrar. Tiro os sapatos e jogo em algum canto isolado.

Massageio meus músculos tensos,  e a nuca febril.

— Estressante. — Respondo.

Meu corpo parece que foi atropelado por um caminhão. Só o pó da rabiola.

Me jogo no sofá ouvindo o som das panelas batendo, a geladeira abrindo, a torneira pingando,  o ar condicionado funcionando. Cecília está cozinhando,  Então arrasto meu corpo preguiçoso para o quarto.

Meus dias estão sendo tão monótonos que perdeu a graça ler fanfic, nenhuma filme do catálogo da Netflix me atrai. As horas no home office parecem não passar, está tudo tão entediante.

Consto o inevitável. Eu não sirvo pra ficar presa, eu não nasci pra isso. Eu preciso estar na ativa, ver gente, interagir com seres humanos iguais a mim.

Me traz um sentimento de inatividade.

Horrível.

Sento em posição fetal sobre a cama e mais uma vez ligo meu notebook, mas dessa vez não é para gastar meus neurônios lendo, e trabalhando para o estado. Mas abrindo a página que parei do bloco de notas, continuo a cena. Faz semanas que não visito meu app de escrita. Deve ser por isso que meu estado de espírito anda tão irritadiço.


"Todos têm suas obsessões na vida. Alguns uma, ou duas, até mesmo várias. Pensei ter o total conhecimento das minhas, ao qual daria tudo para saciar. Isso, antes dele. Pois agora, passo cada segundo da minha consciência pensando nele. Na hora do banho, quando vou dormir, todas as gravatas roxas que aparecem na minha frente, eu só penso em como elas ficas melhor nele. Eu preciso tirar esse homem da minha cabeça, o álcool não está mais funcionando. Meus músculos doem em pensar que o calor de seu corpo não me acalenta mais. Eu preciso arrumar um jeito de vê-lo, e senti-lo em mim novamente. Ele pode ser uma droga, e eu estou em estado de abstinência."

A noite cai rápido quando você está entretida. E não sei se agradeço, ou se odeio isso. Porque não acho que escrevi o suficiente.

Sobre a fanfic, Deus me livre Falconi um dia descobrir sobre a existência desse arquivo. eu adoro o Ivan que eu criei, a química que há entre ele e a protagonista não tem tamanho. Esse é o problema, eu gosto mais da versão fictícia do que do verdadeiro. Esse Ivan é arrebatador, leva uma mulher ao céu e ao inferno. Esse não precisa lidar com meus problemas, fazemos de conta que eles não existem.

Mas eu sou problemática, não sei o que sinto. Não sei lidar comigo mesma. Se de fato ele já foi como eu um dia, não é justo com ele fazê-lo enfrentar tudo de novo, tudo o que ele já havia superado.

Eu só quero entender por que ainda estou pensando nisso?

Se não quero, por que estou aceitando suas investidas sempre que tenta?

Aliás, nem vale a pena pensar isso. Nem sei se ainda seremos o mesmo quando eu voltar.

Continua...

Senhor Falconi (Ivan Furlan Falconi)Onde histórias criam vida. Descubra agora