chove, chuva.

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Shion tinha uma relação engraçada com dias chuvosos. Ele ficava dividido entre amá-los e odiá-los.

Noite passada havia sido quente, abafada, e agora pela manhã o mundo estava desabando. Dias chuvosos eram gostosos, mas carregavam consigo uma sensação de mau presságio. E era aquilo o que Shion sentia naquela manhã, um mau presságio indescritível. E esse sentimento piorou quando Safu lhe mandou uma mensagem dizendo que não iria pegá-lo porque estava indo tirar sangue, e foi tarde demais para pedir a Pietro, que já havia ido embora para o trabalho com Lily.

A única pessoa com carro que estava a sua disposição era...

— Nezumi? — Karan pareceu surpresa quando o viu em sua porta logo cedo pela manhã, vestindo roupas pretas e parecendo um gato molhado.

— Nezumi vai me levar hoje, mãe — Shion rapidamente disse. — Safu tá no médico.

— Ah, entra, Nezumi. Você está todo molhado! Essa chuva está péssima.

— Vou escovar os dentes para irmos — Shion verbalizou e levantou às pressas para ir ao banheiro.

Ele não queria encarar Nezumi tão cedo pela manhã, não depois do que acontecera na noite passada. Aqueles beijos e a confissão fez com que todo o corpo do albino começasse a tremer e agir de um modo estúpido todas as vezes que seus pensamentos eram guiados para a figura de Nezumi. Era esse o sentimento de estar apaixonado? Você ficava obcecado e completamente abestalhado por alguém?

Era algo novo. Algo passível de exploração, mas Shion nunca tivera interesse em ser explorador. Estar sendo exposto a um relacionamento era esquisito e alarmante, uma parte de seu corpo queria permanecer na zona de conforto, na parte segura, enquanto a outra queria se jogar naqueles sentimentos e afundar no desconhecido. E o que se fazia em situações assim? Shion não tinha ninguém para conversar, não conseguia se imaginar falando com sua mãe ou irmã, não conseguia sequer preparar um texto abordando cada detalhe daquele sentimento. Era como se ele estivesse encurralado por suas próprias paranóias.

Dar ouvidos ao seus pensamentos era perigoso.

— Shion, a gente vai se atrasar! — Nezumi lhe chamou a atenção e o outro se apressou em se higienizar e pegar suas coisas para ir. Ele voltou à cozinha e deu uma olhada melhor naquele atleta meia boca.

Nezumi usava somente roupas pretas, o que fazia um contraste com sua pele pálida. Vê-lo da cabeça aos pés de preto em um dia nublado fez com que uma memória captasse a atenção de Shion e o fizesse rir. Nezu estava parecendo um personagem de série antiga, um daqueles caras que só era visto em preto e branco. Totalmente monocromático.

— Do que cê ta rindo? — ele perguntou confuso.

— Nada. Vamos?

— Vocês não querem esperar estiar? Vocês vão se molhar _ Karan comentou preocupada.

— Nós vamos de carro, não precisa se preocupar, Sra. Karan — Nezumi respondeu convincente e Shion explodiu em gargalhadas ao ouvir o nome de sua mãe sair daquele jeito. — Shion.

— É que você fica tão fofo tentando ser simpático, desculpa! — ele continuou gargalhando e precisou pôr as mãos em seu rosto para esconder suas lágrimas.

— Vocês dois, sei não. Vão acabar namorando mesmo.

Dessa vez quem riu fora Nezumi, Shion sentiu vontade de dizer que eles já estavam perto de namorarem, mas evitou fortemente ser homossexual na frente da sua mãe.

— Ah, Shion só me maltrata...

— Que mentira! Anda, vamos embora logo! — o de madeixas claras se empertigou a dizer e às pressas empurrou Nezumi em direção à chuva.

sete minutinhos no céu; nezushiOnde histórias criam vida. Descubra agora