— Meus pais vão me matar.
Foi isso o que Shion falou pela décima nona vez naquela manhã.
— Relaxa, cara. Confia em mim.
E foi isso o que Nezumi respondeu pela décima nona vez naquela manhã. Os garotos estavam parados em frente a casa de Shion, criando coragem para fazer a coisa mais patética que um filho é obrigado a fazer: pedir permissão dos pais para sair.
Shion sentia inveja de Nezumi porque ele já era maior de idade, logo, não precisava dar explicações da sua vida para ninguém. Era aquilo e pronto acabou. Era apenas "estou indo" e não "eu posso ir?". Shion sentia tesão em independência e não estaria satisfeito até tê-la.
Mas naquele momento ele estava sendo colocado em um teste de resistência. Se ele não foi humilhado na primeira vez em que Nezumi estivera lá, seria agora. Ele conseguia sentir aquele mau presságio.
— Eu acho que vou vomitar — Shion passou a mão na barriga ao sentir seu estômago embrulhar. — Vou vomitar.
— No meu carro não! — Nezumi disparou. — Anda, vamos logo!
Shion fez que não, mas se sentiu obrigado a sair do veículo quando observou Nezumi atravessar a calçada e parar em meio ao gramado, com seus braços cruzados e uma perfeita cara de "isso vai demorar muito?" É claro que Shion não havia concordado com aquela ideia de ir para casa do seu tão odiado crush (ele já podia dizer que Nezumi era o seu crush?) Mas acabou tendo que concordar a força. E agora eles estavam ali, se obrigando a fazer o plano homossexual acontecer.
Ele saiu do carro e entrou em sua casa bem lentamente, apenas para testar a energia do ambiente. Ninguém estava discutindo ou tentando se matar. Isso era bom. Isso era muito bom.
— Mãe? — ele chamou em voz alta, mas não houve resposta alguma. Seus passos lentos e cuidadosos pareciam desviar de minas, se ele pisasse em falso, sentia que explodiria.
Os dois caminharam em direção ao quintal, onde a porta estava meio aberta. Shion pôs sua cabeça no vão e observou Lily e Pietro, agachados perto das plantas. Ela sorria e ele parecia querer ensiná-la algo. Shion não quis admitir para si mesmo, mas aquela cena o deixou triste. Era como se ele estivesse vendo algo que queria mas não podia ter. Quando os olhos azuis e penetrantes de Pietro se voltaram ao menino e logo então seu sorriso surgiu, ele sentiu-se com vergonha e com raiva.
— Como foi na escola, Shion? — o homem perguntou com aquele seu bom humor diário. — Você trouxe um amigo!
— Não é um amigo, é o namorado dele — Lily deu uma cotovelada em seu pai e abriu um sorrisinho descarado. As sobrancelhas de Pietro se ergueram e algo dentro de sua cabeça se iluminou, mas ele não falou nada.
— Bem, ele vem comer com a gente? — ele perguntou.
— Não, não... — respondeu ansioso. — Meio que eu queria pedir pra, huh, poder ir almoçar na casa dele? Nós vamos fazer um trabalho para amanhã...
— Ah, claro, divirta-se — Pietro levantou do chão enquanto respondia. Ele retirou as luvas e passou as costas da mão em sua testa, que ficou um pouco suja de terra. — Você é aquele garoto da camisa, não é?
Shion abriu seus lábios para responder, mas percebeu que Pietro não estava falando com ele, mas sim com o garoto atrás dele.
— Nezumi — a voz de Pietro pareceu tão sonhadora quando falou aquele nome. — Número 6. Como está o time? Alguma chance de se tornar capitão?
— Esportes não é a minha coisa, só jogo por puro hobby — Nezumi respondeu, e Shion o olhou com o cenho franzido.
Nezumi havia nascido para ser atleta, para ser venerado, mas não queria seguir esse rumo, por quê?
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sete minutinhos no céu; nezushi
Fiksi PenggemarDois garotos. Uma festa. Uma confissão.