Mon chéri

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Após nos apresentarmos, o garoto cujo nome é Milo me diz que a escola é bem receptiva e que irão gostar muito de mim e de Amelie, mesmo estando no meio do ano seremos bem recebidos.

— Bom, devo estar atrasado pra aula de português... vou nessa então. — Milo diz se afastando e o vejo encontrando uma menina loira no caminho e os dois saem rumo à aula de português.

Resolvo nem entrar no banheiro e acabo dando meia volta em direção à sala do diretor. Enquanto caminho percebo que piso em algo e faz um som de corrente, quando olho para meus pés vejo uma correntinha que contém uma foto dentro do circulado dourado, observo a foto com mais atenção e percebo que é muito semelhante ao garoto que acabou de me deixar sozinho.

Fico um tempo admirando a fotografia e percebo que os olhos dele são azulados e amendoados, seus cabelos são castanhos quase como damasco, seu rosto é levemente corado e seus lábios sutilmente rosados e carnudos.

Guardo-o comigo resolvendo devolver no dia seguinte.

— Ah, Olivier onde estava? — Minha mãe pergunta curiosa, fazendo com que o diretor me olhasse também.

— Procurando o banheiro.

— Rapaz, podia ter me dito e eu pediria para meu filho o levar. — O diretor diz enquanto parece digitar no celular e alguns minutos depois escutamos alguém batendo na enorme porta amarronzada.

— Pai, precisa de ajuda? — O rapaz parece perceber nossa presença e ajeita a postura para continuar. — Digo, diretor Bartô.

Percebo que é Milo, o garoto da correntinha a qual preciso devolver.

— Dê as boas-vindas ao Olivier e sua irmã mais velha, Amelie.

— Oh, já conheci o Olivier no corredor, mas muito prazer Amelie. — Ele diz estendendo a mão para apertar a de Amelie e percebo que o mesmo tem uma enorme tatuagem de polvo no braço.

— Hoje mesmo já passo a grade de aulas dos dois e eles podem começar amanhã! Serão muito bem recebidos. — Bartô levanta abrindo a porta enquanto nos despedimos, mas fico pra trás de Amelie e minha mãe, aproveitando para devolver a correntinha de Milo.

— Milo? — Seguro levemente seu braço impedindo-o de caminhar.

— Olivier, algum problema? — Fala com olhos atentos na pressão em seu braço, logo percebo e solto.

— Ah- Ah não. — Gaguejo, mas logo encontro a corrente em meu bolso. — Você deixou cair no corredor. — Entrego para ele e o mesmo pega rapidamente a colocando no pescoço.

— Nossa, nem percebi! Muito obrigado, Olivier.

— Sem problemas, bom... tenho que ir. — Minha voz vai ficando mais baixa conforme me afasto do menor. — Até amanhã.

Assim me despeço indo em direção à Amelie e encontro ela me olhando com uma sobrancelha erguida.

— Olizinho já chegou encantando desavisados, j'ai adoré. — Diz brincalhona, ignoro e entro no táxi ansioso para chegar no maravilhoso hotel e rapidamente adormecer.

O carro passa por várias ruas, vejo pessoas andando apressadamente, umas com crianças, outras sozinhas e muitas reclamando do forte calor.

Paramos na entrada e minha mãe diz para procurarmos um restaurante, mas Amelie diz para esperarmos o papai.

— Mama, o papa não quer almoçar também? — Fala, mas logo dá um grito assustando o mosquito que chegou perto dela.

— Amelie, desse jeito vai assustar o pobre mosquito. — Digo com um falso desapontamento.

— Pobre mesmo, não tem comida e quer vir sugar meu sangue de rica. — Ela entra em um restaurante com piso de madeira e tendas laranja, chamado "Bistequinha".

Suspiro e vou atrás dela que já achou uma mesa e se empoleirou com a mamãe do lado, pego o cardápio e começo a folhear em busca de um prato conhecido.

— Acho que vou pedir esse "caranguejada". — Observo o garçom se aproximando com um pequeno caderninho em mãos e uma caneta com desenho de polvo azul.

— Mama, não tem nenhuma comida decente aqui. — Amelie choraminga e mamãe olha pro garçom envergonhada da cena.

— Querida, os pratos parecem ser muito gostosos! Vou pedir o mesmo que seu irmão.

Depois de muito debate sobre o prato ser feito com carne de caranguejo, Amelie finalmente cede e acaba pedindo o mesmo.

Saímos do restaurante e caminhamos na calçada cinzenta rumo ao hotel, o cheiro de grama se faz muito presente quando chegamos no jardim e entramos no elevador.

Minha mãe diz que vai procurar o papai, então eu e Amelie vamos para o quarto.

— Olivier, vou dar uma volta e se precisar de ajuda não me ligue, oui? — Fala pegando uma bolsa lilás com estampa de flores e parando na porta do quarto esperando uma resposta.

— Lógico que se eu precisasse de ajuda você seria a primeira pessoa que eu ligaria. — Reviro os olhos e assim ela sai me deixando só.

Fico um tempo olhando o teto e resolvo dormir, pois amanhã tudo será diferente, porém um barulho de notificação me faz despertar novamente.

Olho a nauseante luz do celular e encontro uma notificação do instagram, abro e me deparo com "milo_castello começou a te seguir", como ele achou minha conta? Talvez seja pelo simples fato de ser meu nome, mas sigo-o de volta, apesar de eu não ter tantos amigos, muitas pessoas me seguem.

Sento na cama e abro a conta dele curioso, encontro várias fotos dele com pessoas que devem ser amigos ou familiares, um gatinho laranja e apenas ele ou paisagens.

Entre as fotos de paisagens identifico o restaurante em que fui mais cedo, estou observando seus destaques quando recebo uma mensagem do mesmo.

Abro a mensagem apesar de estar muito cansado e ela diz "Olá Olivier, ansioso por amanhã? Sou o Milo, caso não se lembre :)" encaro ela por alguns segundos antes de responder "Na verdade não, pra ser sincero. Me lembro de você sim."

Vejo-o digitando e apagando várias vezes, mas logo manda "Você vai gostar da escola, desculpa demorar para responder... estou fazendo tarefa de química. Odeio."

Ele odeia química? Que absurdo!

"Como você pode odiar química? Eu posso te ajudar amanhã, se quiser claro." Observo ansioso pela resposta que não tarda em aparecer.

"Duvido que alguém consiga gostar disso e duvido também que você consiga me ensinar."

Não penso muito antes de começar a digitar e nem percebo quando mando: "Veremos se não consigo te ensinar então, mon chéri."

Entro em desespero quando percebo que o chamei de "meu querido", mas já é tarde demais, pois ele logo visualiza. Agora é esperar que ele não entenda francês ou seja, estou esperando o impossível.

Desligo o celular rapidamente quando vejo que a resposta demora mais do que deveria e jogo-o longe, que cai na cama de Amelie.

Espero ficar doente e não ter que pisar na escola.

Je veux ton amourOnde histórias criam vida. Descubra agora