Mon cœur

30 3 4
                                    

Mais um dia se iniciava na ilha de Tipora, os professores planejaram trilhas até o pequeno vilarejo no centro da ilha, procurando distrair os estudantes do recente ocorrido.

Olivier só queria voltar pra casa e acordar de tudo isso como se não passasse de um terrível pesadelo. O francês estava tentando se concentrar no discurso motivacional da professora de artes, mas seus pensamentos insistiam em atrapalhar.

— Vamos conhecer novas pessoas hoje e espero que vocês se acalmem um pouco e aproveitem o passeio! — A professora diz com um sorriso doce. — Vocês vão com as duplas escolhidas no início do passeio, qualquer imprevisto nos avisem.

Os alunos começam a caminhar e Olivier percebe Milo o seguindo.

— Que passeio idiota. — Olivier resmunga.

— Tenta se distrair hoje, vai ser bom! — Milo passa o braço ao redor do pescoço do francês.

As duplas vão caminhando juntas e alguns param pra descansar, Amelie se apoia em uma árvore e Bárbara fica tentando puxar a amiga.

— Não aguento mais andar, estou morrendo. — Ela coloca a mão na testa fazendo drama. — Barb foi bom te conhecer, Olizinho você é chato e Milo, você é incrível.

A loira revira os olhos e continua puxando a francesa que agarra o tronco da árvore.

— Mon Dieu. — Olivier olha a cena com desgosto e vira tomando rumo em outro caminho.

Olivier percebe que Milo o segue e parece se dar conta de que estão indo em outra direção só quando esbarram em um pequeno portão.

— Olivier Florence, você quer nos matar? — O garoto pergunta e logo começa a se afastar da mansão.

Olivier volta a andar e sobe os degraus que levam à porta principal, Milo suspira e segura o braço do maior tentando impedi-lo de entrar.

— Milo? Me solta. — Ele puxa, mas não obtém sucesso, pois o outro se agarra ainda mais no braço dele.

— Você está louco! Essa casa me traz uma sensação estranha e eu não quero que você entre aí. — Olivier parece querer protestar, mas Milo prossegue. — Sei que a Mia era muito importante pra você, mas temos que deixar essa parte com a polícia, ainda mais tendo essa mansão bizarra e assustadora aqui.

Olivier poderia perfurar Milo com o olhar agora mesmo, ele não entendia como todos naquela maldita ilha pareciam estar pouco se importando se Mia estava viva ou sofrendo, ninguém fazia nada para mudar a situação e ele não aguentava mais.

— Você é um covarde de merda, Milo. — O menor se solta do braço dele, pois não estava esperando aquela reação do francês que na maioria das vezes parecia indiferente com as coisas. — Se não vai me ajudar, então não me atrapalhe.

Ele entra rapidamente na casa e tenta não pensar se foi grosso ou se aquelas palavras eram necessárias no momento, sabia que teria de se desculpar mais tarde e se explicar aos professores, mas pouco importava isso agora.

Conforme seus passos se tornam presentes nos degraus da escadaria, ele percebe que nunca tinha dado a devida atenção ao quadro posicionado bem no centro das escadas, na tela antiga era possível enxergar um homem com olhar sério como se observasse tudo e todos.

Olivier continua caminhando e logo está no quarto de Mia, mas seus pés param na porta quando ele percebe que o local está cheio de quadros e a tinta parece derreter escorrendo da tela como um rio e ele estava prestes a se afogar, ele sentia seus sentimentos borbulhando dentro de si e não conseguia se mover.

Ele sentia como se pudesse entrar nos quadros e então tudo iria desaparecer, o peso da culpa e de tudo ao seu redor, como se sua felicidade iria voltar novamente e nunca mais deixá-lo, ele estava se entregando completamente e parecia não se arrepender da escolha. Olivier estica sua mão e percebe que a tinta o consome cada vez mais e está difícil de fugir agora.

A arte pode tentar te consumir e te prender, mas ela é e sempre será apenas o reflexo de quem a contempla.

Olivier Florence, quem é Olivier Florence? O garoto sempre teve uma vida boa e sem passar dificuldades, mas como? A arte sempre esteve lá, no trabalho de seu pai, na sua casa e em tudo à sua volta.

A arte sempre esteve presente em sua vida e agora ela está aqui, ele consegue enxergar Mia dentro da pintura como se estivesse o chamando e ele está indo, Olivier sente que a cada passo parece que a garota se afasta, seus olhos estão tristes e ela parece assustada, mas ele estica o braço tentando puxá-la e Mia começa a correr, fazendo-o perceber que está caindo em um mar de tinta azul e não consegue subir até a superfície.

O castanho desiste de lutar se deixando levar para as profundezas da tinta e aceitando que sua vida nunca seria feliz o suficiente e ele nunca seria bom o suficiente para ninguém, pois se não conseguia nem salvar sua melhor amiga, então como iria salvar a si próprio?

Ele só queria que seus pais tivessem orgulho dele, ele se esforçava na escola e nunca deu "trabalho", mas sabia que seus pais sempre dariam o universo para Amelie e ele ficaria apenas com a Terra, sabia que o culpavam pela queimadura escondida na luva e ele achava isso loucura, pois era só uma criança e seu pai estava tão entretido em uma obra que nem viu o acidente acontecer.

Na época achavam que ele tinha feito de propósito para chamar atenção e talvez ele tivesse feito mesmo, só para provar que realmente estava vivo e que não era apenas a sombra da irmã, que sempre era a segunda opção e nunca passaria de ser o resto. Amelie sempre cuidou dele e ele sabe que ela nunca o deixaria sozinho, mas ele conseguia se sentir vazio até mesmo quando estava rodeado de pessoas.

Mia conseguia fazer com que essa sensação sumisse e ele se sentia genuinamente feliz ao seu lado, sem segundas intenções, deixando espaço apenas para uma linda amizade e ele conseguia sentir que aquilo tinha acabado, Olivier sentiu que Mia tinha partido e ele não conseguia saber em qual direção, mas sabia que nunca mais teria a mesma Mia ao seu lado e provavelmente aquela teria sido a última vez que a viu.

— Olivier? — Escuta seu nome sendo chamado e consegue reconhecer a voz de Milo e tenta responder, mas não consegue, pois agora ele faz parte do quadro não pode nem se mover sozinho.

Em um instante ele está parado e no outro sente tentáculos o envolvendo e puxando ele pra cima novamente, ele consegue sentir a luz se aproximando e o sentimento de solidão sendo deixado nas profundezas daquela tinta serena.

O francês sente seu corpo pesado e só quer que tudo volte ao normal, mas quando abre os olhos percebe que está coberto de tinta azul e Milo está o abraçando como se corresse risco de perdê-lo a qualquer momento, o quarto ao redor está com as mesmas telas, todas estão em branco e Olivier sente que talvez tenha roubado toda tinta para si e agora ela envolvia seu corpo, fazendo Milo se sujar também no abraço.

Olivier sabia que Milo deixava sua cabeça confusa, mas sabia que seu coração já havia o escolhido.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

 

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Mar 09 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Je veux ton amourOnde histórias criam vida. Descubra agora