Photograph (2SON)

Não era um sonho

a pessoa que você mais confia, pode ser a que mais vai te ferir... Eu confiava em você e você me fez sangrar como ninguém

Fragmentos de 22 histórias de amor mal rabiscadas

Após ter a conversa no carro com Son eu percebi que deveria me educar mais e que existiam uma variedade de realidades e possibilidades que eu, na minha insignificante existência, não poderia conhecer, mesmo que me dispusesse a estudar sobre todas elas pelo que me restasse de vida. Mas isso, em absoluto, não me atingia, não era um bom aluno na escola e por isso não lembro quem era o filósofo que disse que a ignorância é algo bom e virtuoso, pois nos dá a possibilidade de sempre aprender, afinal qual seria a graça de já nascer sabendo tudo, não é?

Tudo bem, talvez minha cabeça tenha inventado isso para que eu não me sinta pior, bom, não importa, de qualquer forma isso faz sentido. 

No entanto, apesar da ignorância ser uma dádiva, ela também é uma das piores coisas que alguém pode ter, afinal, uma coisa é um ignorante que reconhece que é ignorante e vai atrás de sabedoria e outra bem distinta é um ignorante que permanece em estado de ignorância. Por isso, durante as semanas que seguiram após aquele dia, dediquei meu tempo fora dos treinos a estudar sobre o processo de adoção inglesa, ler livros de como educar uma criança, como ser um pai solo de uma garota, como ser um bom pai, e outras centenas de livros sobre raça, etnia e multiculturalismo, tentei fazer aulas de tailandês, mas, por ser uma língua tonal e sem nenhuma semelhança com o português ou inglês, acabei desistindo na segunda aula. No entanto, como o contrato com a professora já havia sido assinado e o pagamento feito, decidimos que teríamos apenas aulas sobre a história e cultura do país e, algumas vezes, aulas com algumas frases básicas para comunicação como olá, boa tarde, obrigado e outras coisas mais.

Durante aquele tempo descobri que a  Tailândia é um país incrível! a religião predominante é o budismo, o país é famoso pelas praias, culinária e por suas produções BLs o que, mais tarde, vim descobrir se tratar de séries onde os dois protagonistas eram homens que viviam um romance, em resumo: séries com temáticas LGBT, talvez eu assistisse algumas para exercitar meu tailandês, mas minha vida estava focada em me tornar um homem melhor para conseguir adotar minha filha o mais rápido possível.

Conversando com meu advogado, a sugestão dele foi evitar ser visto com muitas mulheres, bebendo, em boates ou me envolver em qualquer outra polêmica.

Não foi tão difícil porque sempre fui tímido, mas achei meio sem sentido não poder aparecer com várias mulheres, não é como se eu pretendesse criar minha filha sozinho para sempre, eventualmente, eu procuraria uma esposa que, óbvio, se tornaria a mãe da minha filha. No entanto, não questionei. Naquele ponto, eu sequer queria saber de mulher e, bom, estávamos em uma pandemia, isso não seria sequer um problema.

Além disso tudo, comecei a acompanhar pessoas que também tinham filhos racializados.

Pareceu coisa do destino quando, ao entrar no meu Instagram, o primeiro vídeo que apareceu foi um da Giovanna Ewbank contando como conheceu sua filha, a Titi .

Chorei tanto que no dia seguinte tive que colocar algumas colheres geladas nos olhos para desinchar antes de finalmente ir ao treino, infelizmente não foi suficiente para disfarçar. Não era nenhum grande problema tendo em vista que minha intimidade com o elenco era quase nula, mas havia alguém que não deixaria aquilo passar: Son.

— você andou chorando, aconteceu algo? — ele tinha uma cara de assustado e falou cautelosamente, se estivesse mais atento naquele momento, perceberia que havia mais que preocupação em seu tom de voz 

— está tudo bem, não se preocupe my friend —sorri— passei a noite acordado vendo vídeos de uma atriz brasileira que adotou uma garotinha africana e chorei para cacete — completei e, pela minha visão periférica, pude ver que o coreano fez uma cara de preocupação misturado com algo que não consegui identificar.