culpa

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— desmaio e tonturas são normais quando se bate a cabeça, na maioria das vezes não apresenta nenhum problema e, com base na tomografia, tudo está perfeitamente normal — o médico falava sem olhar para Richarlison

— O Son c-como ele está?  — o brasileiro perguntou ignorando a notícia de que precisava ficar ali por mais tempo para verificarem se não havia nenhum risco e que a tontura era mesmo um sintoma que iria embora com o remédio receitado

O doutor olhou para Richarlison por cima dos grandes óculos de fundo de garrafa, ele levava uma cara feia enquanto analisava a face do atacante, até perceber que se tratava de um jogador do Tottenham e não um jornalista atrás de informações confidenciais para vender a mídia 

— Não tenho essa informação, o médico responsável por ele é o Tom e ele acabou de perder a esposa, possivelmente o caso deva ser transferido para outro médico enquanto o luto de Tom não termina, vou tentar descobrir quem é para vocês — ele voltou os olhos para a prancheta em sua mão e saiu do quarto deixando apenas um Richarlison pensativo acompanhado de um Emerson que encarava o amigo como se pudesse ler sua alma

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— por que ele ainda não acordou?— Richarlison se questiona em um tom baixo para si mesmo, sem perceber a presença do médico e da enfermeira que analisavam a evolução do quadro. 

— Ele não quer — o médico respondeu direto, ao lado do jogador que pulou um pouco com o susto, ele estava tão submerso em seus próprios pensamentos que nem notou a movimentação no quarto

Richarlison se recompôs e pigarreou para chamar a atenção do doutor, com um olhar cauteloso e a incerteza na voz, ele questionou 

— por que ele não quer? Isso é realmente possível? 

O médico pegou um amontoado de raio x e de resultados de exames, como se estivesse pronto para dar um seminário sobre o caso do jogador 

— não posso dizer com total convicção, mas não existe nenhum outro motivo para que ele esteja nesse estado, veja — ele apontou para imagens do cérebro de Heung-min— nenhuma anomalia foi apresentada na região cerebral e, apesar de ter passado por uma queda de temperatura danosa, seus órgãos vitais continuam trabalhando perfeitamente e todas as regiões afetadas já se recuperaram perfeitamente. Assim, o que posso dizer é que, o problema do paciente talvez seja algo ligado ao inconsciente e, por mais que os estudos sobre isso tenham evoluído desde Freud, estamos muito longe de entender essa parte do cérebro humano, já que não existe algo propriamente físico para o estudo

— então, o que o senhor quer dizer é que, inconscientemente, Son está escolhendo ficar desacordado? 

— bom, pelo menos é o que parece, já que ele tem casos de consciência que logo são seguidos por períodos longos de inconsciência— o médico ficou um tempo pensando e começou a tagarelar sobre a situação de Son—  esse é realmente um caso empolgante, nunca tivemos nada assim antes e ver que essa possibilidade é realmente possível é fascinante! 

O homem falava tão empolgado que nem parecia estar falando de um caso grave, ele chegava a dar pulinhos enquanto explicava o quanto aquele momento era único. A atitude do homem irritou Richarlison, que não se conteve em manter sua opinião só para si 

— Sabe, eu realmente odeio o cara que está deitado nessa cama, ele é simplesmente o ser humano, mas sem vergonha, mau-caráter e desprezível que já tive o desprazer de conhecer. No entanto, com todo o respeito para os familiares dele e com o pouco de empatia que me sobra para com ele, me limito a não demonstrar felicidade ou ânimo. Não estou feliz com essa situação, na verdade. Você, como profissional da saúde, não deveria ficar saltitando de felicidade por um paciente estar nessa situação. 

Photograph (2SON) Onde histórias criam vida. Descubra agora