quem é o culpado?

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" você pode esquecer tudo. Mas, por favor, não me esqueça"

— fragmentos de 22 histórias de amor mal rabiscadas

Richarlison olhava para aquela construção com ódio, ele tinha ido até ali tantas vezes com Son que não conseguia entender, mesmo com a explicação dada pelo coreano, como ele havia sido capaz de planejar aquilo tudo por trás das suas costas com tanta frieza. 

O brasileiro gostaria que Son lhe desse alguma explicação de fato válida.

ele havia perdido noites de sono inteiras pensando se ele é quem estava sendo o injusto da história, se Son fez aquilo pelo erro que ele cometeu ao citar a cor de Sam como sendo mais escura que a dele e das outras pessoas asiáticas que ele teve contato, Richarlison ainda lembrava do olhar decepcionado do amigo. Agora Richarlison enxerga as diferenças de tons e aprendeu um pouco mais sobre o colorismo asiático, mas sua mudança de percepção não o fazia se sentir melhor sobre o equívoco que cometeu. Talvez, Son também continuasse decepcionado. Mas, Son teria se sentido ofendido a ponto de fazer algo tão cruel como aquilo?

Essa pergunta assombrava e ecoava na mente do jogador brasileiro todos os dias depois do fatídico em que descobriu a traição do amigo.

Algumas crianças brincavam ali na frente, algumas até tentavam se esgueirar até os galhos da árvore, mas Richarlison não conseguia ver Sam. Talvez ela estivesse com o pai. 

Pensar em Son como pai de Sam o machucava um pouco — ou talvez muito— 

Richarlison queria sair dali, primeiro porque era um pouco estranho ficar no local, mesmo que ele nem tivesse se dado conta que dirigiu até lá, além disso, as pessoas poderiam interpretar de forma errada e, bom, estar ali só lhe machucava mais.

— Alfred, o mesmo de sempre e, por favor, que essa merda esteja gelada ou não irei responder por mim— ele bateu no balcão como se estivesse mesmo com raiva. Ele estava, por vários motivos, o principal era: ele odiava a Inglaterra, nada naquele país era bom, exceto pelo café da manhã que até era razoável, o outro: todos os lugares que ele iria lhe fazia lembrar de Heung-min ou de Sam, parecia que a situação lhe perseguia. 

Por isso, quando Richarlison ouviu o nome de Heung-min sendo mencionado por um homem que bebia ao seu lado, ele pensou estar alucinando

— sim, quando cheguei em casa ouvi alguém sussurrar algo como um pedido de socorro, não liguei muito achando que era efeito do remédio que tomo, você sabe. Então, imagine minha surpresa quando a ambulância encostou bem na frente da casa de Son. Cara, eu nem sabia que um jogador morava do meu lado, só tinha visto um senhor rabugento sair de lá.

Richarlison paralisou, bebeu de uma vez todo o conteúdo dentro do copo que Alfred tinha acabado de servi-lo, fez careta ao sentir sua garganta queimar e tentou ignorar o que ouviu o homem dizer, tentando se convencer que sua tradução daquelas palavras estava errada, em sua cabeça ele pensava em Sam, será que ela estava bem? Ou era dela a voz que o homem escutou? 

Alfred já tinha preenchia o copo do brasileiro mais uma vez quando se meteu na conversa do outro homem

— Aconteceu algo com Son?— ele dizia enquanto olhava para Richarlison como se pedisse uma confirmação daquela informação, o brasileiro deu de ombros e voltou a tomar sua bebida

— cara, não sei, entrei em casa fazia tempo e não vi nada, minha esposa que contou 

naquele momento Richarlison quis sorrir, pois se fosse no Brasil todos os vizinhos estariam do lado de fora e pelo menos 500 versões do que aconteceu seriam contadas mesmo que destoassem do fato, mas ele não podia sorrir já que sua mente estava totalmente focada em pescar informação

seria esse o motivo de Richarlison ter que assumir a posição do outro atacante? Conte não tinha entrado em detalhes, não deveria ser nada grave, pelo menos não com Son 

O coração do brasileiro apertou ainda mais com possibilidades o forçado a virar toda bebida que lhe saiu pelo nariz quando o homem prosseguiu contando o que havia acontecido

— acabei de confirmar com minha esposa, ela disse que não viu quem era e que muito provavelmente era Son, pois viu uma moça bonita de cabelo preto que, bom, deve ser a namorada dele; ela parecia nervosa e deslocada

Richarlison nem se preocupou em pagar a conta e saiu atordoado em passos largos até o carro, a mente totalmente nublada ao cogitar que a mulher era Stefani e que, se ela estava lá, era porque algo havia de ter acontecido com Sam.

As mãos de Richarlison tremiam, ele quase não conseguia guiar o volante, o coração acelerado demais como se ele estivesse prestes a cobrar um pênalti decisivo em uma partida importante, o ar faltando os pulmões e a vista ficando turva, forçando-o a apertá-los para ver a estrada em sua frente, uma neblina fina dificultava tudo para o brasileiro que sentia um pânico se apossar do seu corpo de uma forma que ele não podia controlar ou deter.

De repente uma luz surge em sua frente, a luz amarelada inibe sua vista, Richarlison tenta frear, mas tudo acontece rápido demais, ele força o volante e joga seu próprio carro para fora da pista. 

O carro capota girando 3 vezes até cair em uma ribanceira, o brasileiro saiu ileso, mas sua vista ainda está comprometida.

Ele foi na lista telefônica, apertou no primeiro número que viu e, com a voz embriagada por um choro que ele nem mesmo sabia o motivo, se limitou a pedir ajuda e dar as coordenadas de onde estava mesmo sem saber quem tinha atendido a ligação ou de onde ele próprio estava.

Uma atualização só para animar depois das notas do Enem que saíram hoje. Não sei se alguém que está lendo fez, mas eu fiz e fui horrível kkkkk
Ps: se vocês tem sintomas semelhantes aos narrados quando passam por estresse ou em alguma situação específica, procurem ajuda profissional
Enfim, finalmente a história vai andar um pouquinho mais e nós sairemos desse chove não molha!!

Photograph (2SON) Onde histórias criam vida. Descubra agora