O amor mais bonito é aquele que não te exige nada em troca
⚠️ o capítulo seguinte apresenta menção a agressão contra mulher, criança, cárcere privado e preconceito. Se você for sensível a tais assuntos, NÃO LEIA ⚠️
O lugar era escuro, a única luz que chegava até ali era a dos poucos raios do sol que conseguiam ultrapassar as cortinas grossas e a luz de uma lanterna usada para verificar o pequeno cubículo debaixo da pia, outrora usado para guardar panelas.
Agora, as mãos que carregam a lanterna e a balança de um lado para o outro em direção às frestas do pequeno espaço, não estão ali para escolher a melhor panela para preparar o jantar, elas estão ali para conferir se a criança presa ali está viva.
Essa criança é Son, que tem apenas 7 anos. Ele não sabe quando foi a primeira vez que parou ali, naquela condição, mas as risadas de crianças e de um adulto ressoam em sua memória e despertam sentimentos dolorosos e fortes demais para serem ignorados.
Ele também não consegue lembrar dos seus rostos, mas lembra que sua principal tarefa era mantê-los entretidos.
Sempre que o homem alto, de cabelos loiros e compridos, e olhos verdes vinha até seu quarto, ele sabia que era a" hora da diversão". Não a sua, claro. Mas a de seu padrasto e seus filhos.
A hora da diversão pode durar dias, até semanas. Ele não pode chorar, não pode pedir por comida e nem resmungar, suspirar ou, até mesmo, reclamar do pequeno espaço, caso o faça o tempo ali só irá aumentar.
Seu papel ali é ser objeto de tortura e divertimento. Ele não é parte da família, todos lhe tratam como um animal, como se ele não tivesse sentimentos.
Sua comida é servida de qualquer forma, não são restos, mas ele só come após todos. Além disso, nenhuma colher é ofertada ao menino, já que o inglês tem" medo" de que o garoto possa usá-la para sair dali.
Son também quase não recebe água ou qualquer outro tipo de líquido. Às vezes, quando sua mãe está lavando os pratos, algumas gotas de água vazam do encanamento, então o garoto estende a língua para poder saciar sua sede, o gosto do detergente é persistente, mas o menino se acostumou.
Por vezes, ele escuta a mãe chorar, então também chora
O padrasto de Son é inglês, tem 46 anos e já tinha 2 filhos quando se casou com a mãe do menino, uma coreana dez anos mais nova que ele.
A mãe de Son foi iludida pelas promessas doces do homem, eles se conheceram em um momento de vulnerabilidade dela, seus pais tinham acabado de descobrir que ela estava grávida e o pai da criança não iria assumir a responsabilidade, então ela morava de favor com uma amiga, e ele se aproveitou da situação para tirar proveito da mulher. Em pouco tempo eles se casaram, ela estava apaixonada e pensou que ele também estivesse, mas esse não era o caso.
Ainda com 7 anos, o garoto não nutre nenhum sentimento de raiva ou desprezo pela mãe, ele sabe que os choros e gritos altos que escuta durante a noite, não são apenas por ela não poder tirá-los daquela situação
[ ]Son ainda se lembra dos olhos chorosos da sua mãe da última vez que a viu, ela tinha hematomas por todo o corpo e um dos seus olhos estava tão inchado que ela nem conseguia abrir, seu corpo parecia magro demais. Ela estava magra demais. Son não podia notar na época, mas os braços que lhe rodeavam em um abraço- que deveria ser apertado- enquanto a mulher em lágrimas o suplicava por perdão, estavam fracos demais.
O padrasto de Son havia saído com os filhos para um dia de caça e a mulher aproveitou a oportunidade para livrar, ao menos seu filho, daquele inferno.
Agora, Heung-min, vinte anos depois, ainda pode sentir a sensação dos beijos molhados em lágrimas que sua mãe destruiu pelo seu rosto assim que consegui tirá-lo daquele lugar.
Naquele mesmo dia, a mulher andou com ele por alguns quarteirões, o deixando numa esquina movimentada. Ela não se despediu, apenas disse para Son ficar ali até alguém ajudá-lo e partiu sem olhar para trás.
Naquela mesma noite ele encontrou o homem que agora chama de pai.
Ele andava cabisbaixo, com uma bola baixo dos braços e não viu a criança parada no meio da calçada, ambos foram parar no chão
— filho, você está bem — o homem lhe pergunta em inglês
Ele não respondeu à pergunta porque sentiu seu corpo ceder.
[ ]
— como você quer se chamar — uma mulher gentil, de cabelos compridos perguntou a Son que estava sentado em seu colo. Ele olhou para os olhos grandes e brilhantes da mulher, depois para os braços dela que lhe seguravam forte como se ele fosse fugir a qualquer momento.
— Son — ele respondeu baixo ainda fitando os braços fortes da mulher
— Son me soa muito bonito e significativo— ela sorriu para o menino — por que você escolheu esse?
Son olhou para ela que agora tinha os olhos mais brilhantes pelas lágrimas que ela tentava evitar cair, depois olhou para o pai encostado desajeitadamente na porta, e então respondeu
— foi a primeira coisa que escutei depois que tudo acabou
O homem que ainda não tinha olhado para Son, levantou a cabeça e sorriu para o garoto, ele poderia sentir a gratidão em cada sílaba daquela frase
PS: esse capítulo foi bem difícil de escrever, porque escrever sobre violência contra a mulher e crianças ( ou qualquer outra situação que envolva violência contra minorias) envolve muitas coisas e exige uma responsabilidade imensa para não deixar ser só mais um assunto na história a ser ignorado no decorrer dela. Pensei muito em não utilizar tais assuntos, tanto pela questão de ter a possibilidade de se perder, quanto o fato de serem possíveis gatilhos. Mas, mesmo com medo de ser só mais uma a abordar o tema pra crescer personagem, sinto que são temas que merecem serem discutidos, até mesmo em uma fanfic do wattpad. Agora, espero que continuem lendo isso e se sintam a vontade de me dar um puxão de orelha em qualquer momento
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Photograph (2SON)
Fiksi PenggemarRicharlison e Son tem visões semelhantes do que é o amor, para ambos o amor é descomplicado, simples e perfeito mas, juntos em uma aventura, eles irão descobrir que, definitivamente, o amor não é nada simples e tampouco perfeito. Ou Richarlison...