Culpa

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Gabriel

Acordo com uma tremenda dor de cabeça, olho para o lado e não vejo a Lara. Olho para o teto, tomando coragem para me levantar, a ressaca estava brava, devo ter bebido além da conta ontem, tanto que lembro vagamente sobre como vim parar aqui. Espero não ter dito, nem feito nenhuma bobagem, pois as coisas com a Lara já estão complicadas o suficiente. Me levanto, tomo um banho, troco de roupa, pego meu óculos escuro e depois desço para tomar um café mesmo já sendo mais de 12:00h.

Estava sentado na mesa, sozinho tomando meu café, quando o Murillo aparece e se senta no meu lado tocando no meu ombro:

- A ressaca tá grande em meu filho.

- Nem me fala. Você viu a Lara?

- As mulheres resolveram sair e ela foi junto. Na verdade estava esperando você acordar para irmos andar de lancha, o que acha?

- Por mim tudo bem, mas hoje eu vou na água.

Ele ri.

- Melhor mesmo.

Vamos para o lancha onde o Roberto já nos esperava, eu me sento, pego uma água enquanto o Murillo bebia com o Roberto. Eu vim para ser educado, porque na realidade só queria ficar deitado. Acabei almoçando ali na lancha mesmo, pois ele resolveram fazer um churrasco, ficamos  o passeio todo conversando sobre negócios basicamente. 

Quando cheguei, fui direto para o banho, saí do banheiro do de toalha e dou de cara com a Lara, que fica me encarando por um tempo, até que balança a cabeça negativamente e diz:

- Nós podemos conversar? 

Coloco a toalha que estava secando meu cabelo no ombro e falo:

- Podemos, só vou trocar de roupa.

Ela assente, eu vou até o closet e coloco uma roupa. Depois volto e ela está sentada na cama, eu pego uma cadeira e falo:

- Sobre o que você quer falar?

O assunto deve ser sério pela cara dela.

- Sobre a sua falecida esposa.

Eu esperava qualquer coisa, menos isso. Ainda mais assim do nada, cruzo os braços, apoio as costas na cadeira e falo:

- O que você quer saber? Por que esse interesse repentino nesse assunto? 

- Você falou nela ontem quando estava bêbado e outra você quer que eu te perdoe, mas não é sincero comigo, então assim fica meio difícil.

Por que eu tinha que abrir essa minha boca?

- Eu quero que você me perdoe e, estou tentando ser sincero, mas eu não entendo a necessidade de falar sobre a Isis.

- Ela era mãe da Heloisy, sua esposa e se matou. Então eu acho super necessário você falar dela, por que ela se matou? E por que você nunca me contou isso?

Eu estou me sentindo encurralado. Me levanto, sirvo um pouco de whisky que tinha ali no quarto, dane-se ressaca, depois me sento novamente, enquanto ela me olhava, tomo um pouco, respiro fundo e falo:

- Nos conhecíamos desde de crianças, mas só começamos a namorar no final do ensino médio, ficamos alguns anos namorando, até que resolvemos casar, o que foi precipitado. Nos casamos apaixonados, mas com o passar do a relação meio que esfriou, mas nos dávamos muito bem, a Isis era minha melhor amiga. Bem nessa época, ela acabou engravidando, foi uma surpresa, mas nos ficamos muitos felizes, pensamos que talvez fosse uma segunda chance para o nosso casamento. 

Ela ouvia tudo calada, prestando atenção em todos os detalhes. Bebo mais um pouco e continuo: 

- Quando a Heloisy nasceu, ficamos mais felizes ainda, a Isis se tornou super protetora, de um nível exagerado. No começo eu tentava ajudar ela, mas ela sempre reclamava, falava que eu não sabia cuidar dela, que eu não levava o mínimo jeito para ser pai. Eu insisti por um tempo, mas ela acabava que não gostava que eu fizesse as coisas e, sempre dizia que eu não levava jeito, que era melhor deixar com ela. Então foi exatamente o que eu fiz, eu realmente pensei que não tinha nascido para ser pai e deixei tudo para ela. Foi errado? Lógico que foi e eu me arrependo muito de ter tomado esse posicionamento por tanto tempo.

- Bem, quando a Heloisy estava com 1 ano, os pais da Isis morreram, nessa época nós já não vivíamos como um casal faz muito tempo....

- E você não tentou uma reconciliação? Você saía com outras mulheres?

- Quando a Heloisy nasceu, eu tentei, mesmo já não existindo amor de casal, mas depois eu cansei. Sim, eu saía com algumas mulheres.

- E ela sabia? Por que vocês continuavam casados?

- Sim, ela sabia, nos continuávamos casados pelo costume e pela nossa filha.

-Entendi.

- Voltando, quando a Helo tinha 1 ano, os pais dela morreram em um acidente. Isso abalou a Isis de um maneira inexplicável, eu tentei estar ao lado dela, apoiar ela ao menos como amigo, mas ela só me afastava. Ela tinha um irmão gêmeo que morreu de overdose, meses depois dos pais dela. Quando os pais dela morreram ela já tinha ficado muito mal, mas depois do irmão, ela começou a se afundar em uma depressão. Eu sempre dizia para ela procurar um médico, se tratar, por ela, pela nossa filha, mas ela não quis. Eu fiquei triste em ver ela naquela situação, uma pessoa tão especial para mim. 

Me levanto novamente para encher o copo que tinha acabado e para tomar um pouco de ar para conseguir continuar.

- Ela ficou assim por quase um ano. Até que um dia eu cheguei do trabalho e, fui direto até o quarto dela, como fazia todos os dias. Bati na porta, mas nada, então resolvi entrar, assim que entrei, vi que a porta do banheiro estava aberta e, a luz ligada, resolvi entrar e quando eu entrei me deparei com a pior cena que já presenciei na vida.

Respiro fundo.

- A Isis estava submersa na banheira, eu corri para tentar tirar ela de lá, gritei por ajuda, mas já era tarde. Ela havia se entupido de remédios antes. Eu não consegui dormir por várias noites, passei meses me culpando.

Ela coloca a mão na minha perna e diz olhando em meus olhos:

- Não foi sua culpa, Gabriel.

Bebo mais um pouco. Aquela era a primeira vez que eu me abria sobre aquele assunto, meus pais, até o mesmo o Lucas, sabiam da história em partes. Ela segura na minha mão, o que faz eu olhar para ela.

- O que aconteceu não foi sua culpa, infelizmente ela não quis mais lutar e você pode ser um bom pai só depende de você querer.

Me aproximo, colocando a mão no seu rosto.

- E pra ser um bom marido? Pra você você me perdoar? Do que eu preciso?

Ela não responde, continua olhando pra mim.

- Eu aprendi minha lição, Lara, me perdoa, eu não aguento mais essa distância sem a gente. Ficar sem você, sem seu toque, sem seu beijo.

Ela não dizia nada e, eu estava tão próximo, tão próximo, que eu não resisti e a beijei.

...





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