Não parecia,mas o tempo passou rápido demais. Mais um mês que começava,e com ele,a rotina daquele manicômio.
- Bom dia a todos! Disse Dr Arthur, entrando rapidamente, passando pelo salão principal,em direção a sua sala fria,sem nenhuma plantinha se quer,para dar um toque de vida naquele lugar. Era simplesmente uma sala de atendimento, não existia a mínima possibilidade de aconchego aos internos.
A enfermeira assistente, já o aguardava na sala,e nesse dia,era Lúcia.
- Bom dia doutor! Tudo bem com o senhor? Perguntou Lúcia.
- Bom dia! Tudo bem. Respondeu secamente o médico. Ele era exatamente assim,seco , grosso ao falar,cara de quem matou dez,e deixou um escapar.
- Lúcia,pode trazer a paciente Laura! Disse o médico.
- A Laura? Mas,o senhor sempre a atende por último! Questionou Lúcia.
- MEU DEUS DO CÉU! SERÁ QUE EU TE DEVO SATISFAÇÃO CRIATURA! Gritou o médico.
- Desculpa! Eu só fiz uma pergunta! Resmungou a enfermeira.
O médico não respondeu nada, só gesticulou,para que buscasse a paciente logo.
Minutos depois,entra Laura,toda bagunçada, descabelada, com a manga da blusa torta no corpo, com as mãos entre as pernas,e andando, como se estivesse drogada.
- Bom dia Laura! Como tem passado? Perguntou o doutor.Ela ficou em silêncio.
- Eu quero saber como você está! Eu soube que recebeu uma visita, é verdade? Continuou.
- Eu estou bem mal,e esse homem aí, perto de você, não para de me perturbar. Respondeu Laura, como se de fato, estivesse delirando. A essa altura,ela só tomava o antidepressivo,e nada mais. Claro que só ela e. Mel sabiam disso!
- Ah é? E cadê aquela mulher linda,e com uma ótima memória que Luiz me descreveu?! Questionou o médico, como se tivesse percebido que a moça mentia.
- Cadê ela? Perguntou Laura.
- DEIXA DE PALHAÇADA MULHER! QUANDO SEU MARIDO ESTEVE AQUI, VOCÊ O RECONHECEU,E AINDA DISSE QUE NÃO QUERIA MAIS VÊ-LO! Gritou o médico, com cara de ódio.
- PARA,PARAAAAAA! NÃO GRITA COMIGO SEU VELHO IDIOTA! Respondeu Laura, já pulando direto no pescoço do homem.
- SENTINELA! BUSQUE AJUDA, LÚCIA TRAGA UMA CAMISA DE FORÇA ,SUA INÚTIL! Gritou o médico assustado. Isso era muito incomum,acontecer com Lúcia,pensou ele.
Vieram três enfermeiros fortes,e imobilizaram Laura, com uma camisa de força.
- Deixa ela aí mesmo,eu não terminei a consulta. Disse Arthur muito irritado. Vocês podem sair!
-Agora é você e eu,sua mal educada! Falou Arthur.
Laura olhava para ele, como se não houvesse acontecido nada.
- Responda a minha pergunta Laura, porque está mentindo para mim? Questionou o médico.
- Eu não sei do que você está falando! Disse Laura.
- Seu marido,a visita,o cabelo bem feito, tudo, estou falando de tudo o que aconteceu naquele dia em que Arthur veio te visitar..... você se lembra? Dessa vez,o médico estava mais calmo, com a moça contida
-Eu não tenho marido, já falei, não tenho visita, já falei....PARA DE PULAR EM MIM! Gritou Laura no meio da conversa.
Arthur, não conseguia entender o que havia ocorrido.
- Quem está cuidando dessa paciente? Perguntou para Lúcia.
-A enfermeira Mel! Respondeu a moça.
- Vá chamá-la ! Disse Arthur.
Minutos depois,entra Mel.
- Bom dia doutor, mandou me chamar? Algum problema? Pergunta Mel
- Bom dia! Sim,estou com problema, ou melhor, Laura está com problema!
Você a acompanhou, quando essa paciente recebeu a visita do marido? Disse o médico.
- Doutor, Laura não recebe nenhuma visita, há anos, que eu saiba,creio que está havendo algum engano. Ela disse que recebeu visita? Respondeu Mel, com muita seriedade.
- Não, não! Foi o marido dela quem me falou que veio vê-la, e que ela estava totalmente diferente,linda, sóbria,conversou normalmente com ele,e ainda o mandou embora,para nunca mais voltar! Respondeu o médico.
- Olha,eu só sei, que Laura ficou e fica na cama,as vezes amarrada, devido as crises que tem,raras vezes no pátio. Se alguém tivesse vindo vê-la, certamente ela teria me falado, agora.... Sobre os outros detalhes que você relatou...... nunca aconteceu de um interno se vestir bem,ou falar bem, com tantos psicotrópicos, principalmente essa aí, que mais me dá trabalho.
Porque o senhor não trás o marido dela aqui,para tirar essa história a limpo? Concluiu Mel.
- Que loucura! Assim que possível, farei o que você me disse, só assim terei paz! Disse Arthur.
- E quando isso acontecer, com certeza o senhor e eu ficaremos muito felizes com a cura de uma interna não é mesmo doutor? Questionou Mel.
" Claro! Com certeza enfermeira,e aliás,vou trocar os medicamentos dela tá bom? Afirmou o médico.
- Ok,pode mandar a receita para a enfermaria, depois eu ou outro enfermeiro confere doutor. Posso ir? Tenho muitos pacientes para cuidar. Concluiu Mel.
- Claro! E continue de olho nessa moça, tá bom enfermeira? Ordenou o doutor.
- Pode deixar comigo doutor,essa eu conheço muito bem, farei um relatório para lhe entregar,na próxima consulta, mês que vem. Disse Mel, enquanto saia da sala,por dentro,ela e Laura, estavam explodindo de felicidade,pela atuação de ambas.
Foi perfeito ! Pensou Mel.
Ao passar pela sara de espera,Mel reconheceu a mãe,e o pai de Paulo.
Eles estavam aguardando a vez da consulta.
Mel cumprimentou o pai do seu colega,mas a vontade dela,era de brigar com ele,pela falta de amor com a esposa de uma vida inteira. Agora que ela está doente, ele irá se livrar dela!
- Mel, você sabe se minha mãe já passou em consulta? Perguntou Paulo.
- Acabei de ver seus pais na sala de espera,a Laura deve ter saído já,ai será a vez da sua mãe. Disse Mel.
- Obrigado, vou entrar com eles! Falou o rapaz.
Enquanto isso, Dr Arthur, estava encerrando a consulta.
- Quero ver se consigo voltar aqui com seu marido,dona Laura... aí vamos ver! Disse o médico, num tom de ameaça .
Laura abaixou a cabeça, deixando seus cabelos negros como a noite, caírem sobre o seu rosto, com os braços todo amarrado naquela camisa de força,foi acompanhada por Lúcia, até seu quarto.
Lá,foi retirada a tal camisa,e Laura correu para a sua cama, ficando toda encolhida, fingindo agora, que era mesmo maluca.
Paulo entrou rapidamente na sala do médico,onde sua mãe, já estava sendo examinada por ele.
- E então Dr.? Como está a minha mãe? Perguntou o rapaz.
- Essa é a sua mãe não é Paulo?
- Sim doutor! Concorda.
- Ela está ótima num estado geral,mas pelo que vi, é uma demência senil. Concluiu o médico. Isso naquele tempo,era o que hoje, chamamos de mal de Alzheimer.
-Obrigado Dr Arthur. Eu quero cuidar dela pessoalmente aqui no manicômio. Disse Paulo.
- Tudo bem! Seu pai quer deixá-la aqui,e será bom você mesmo,cuidar da sua mãe. Falou o médico.
E assim foi feito.
Mel e Laura, não se viram mais naquele dia.
Estavam esperando o sol nascer,para conversarem sobre o dia de hoje.
Dr Arthur, encerrou seu expediente,e foi embora.
A noite caiu,e todos os internos foram dormir.
Os funcionários, foram dar uma olhada,no resultado do trabalho em grupo, que fizeram no jardim.
Que sob a luz da lua, estava belíssimo!
Deu tanta vida e beleza,para aquele lugar, que começaram a pensar,em restaurar aos poucos o lugar,de acordo com as possibilidades do grupo.
A ingrata da diretora Sandra,nem obrigada falou aos funcionários.
Mas todos sabiam que ela era assim mesmo!
O importante,era que agora,os internos tinham um belo jardim para admirar!
- Bom dia Laura! Entrou Mel, sorrindo para a amiga.
- Toma seus remédios querida, hoje são diferentes dos outros, devido a troca feita pelo Dr Arthur. Disse Mel, enquanto entregava dez comprimidos de uma só vez,a moça.
- Ele disse mesmo que trocaria os remédios dessa maluca: Disse Lúcia, que chegou sorrateiramente na entrada da porta do quarto de Laura.
- Não vou tomar! Retrucou Laura.
- Abra essa boca mulher! Eu mesma vou fazer você engolir! Abra já a boca! Falou com firmeza Mel!
A enfermeira,fez de conta que forçava a paciente tomar os remédios, apertando a bochecha dela,e fingindo dar os comprimidos. Mas na verdade,Mel jogava todos os remédios para dentro da gola da blusa de Laura, que mais tarde,os jogavam na privada.
- Lúcia ria na porta e dizia:
- Aí sim Mel,tem que mostrar quem manda! E pelo que eu vi,o médico dobrou as doses dos psicotrópicos dessa doida!
- É meu dever garantir que todos os meus pacientes tomem os medicamentos, isso para seu propósito bem! Hoje que ela se recusou a tomar os remédios. Ela sempre foi muito boazinha. Falou Mel,se retirando para atender a outro interno.
A tarde,as amigas se encontraram para conversar sobre o ocorrido. Novamente fazendo um picnic.
- Boa tarde Laura, com você está? Perguntou Mel,se sentando ao lado do novo jardim com Laura.
- Estou muito bem amiga, agora estou muito interessada em descobrir toda a verdade do que aconteceu,e ainda está acontecendo comigo. Realmente você tem razão Mel, está tudo muito estranho. Parecia que Luiz estava feliz em me rever,mas ao mesmo tempo,estranhou quando conversei com ele normalmente. Disse Laura.
- Exatamente o que eu pensei, quando você me falou da conversa de vocês.Mas o mais estranho para mim,foi o Dr Arthur,dobrar seu medicamento, simplesmente porque você "teve outra crise". Tenho certeza de que os dois homens estão totalmente sem entender o que houve com você. Disse Mel.
-Se eles vierem juntos fazer uma visita para você, teremos que estar preparadas,para não errar em nada. Concluiu a enfermeira.
As duas mulheres, combinaram que,caso os dois homens viessem procurar provas da saúde de mel,iriam sair sem nenhuma resposta. Esse era o plano! Fazer com que Luiz e o Dr Arthur,se desentenderem, assim, ficaria mais fácil descobrir alguma coisa, colocando um,contra o outro.
E não deu outra! No próximo final de semana, lá estava Luiz, com o Médico.
Uma raridade, já que o doutor Arthur, só vinha uma vez por mês.
Qual a razão de tanta pressa?
Com certeza,eles se encontraram na cidade,e o que Luiz disse sobre Laura, não bateu, com o que Dr Arthur viu, quando a examinou da última vez.
Dali em diante, Laura se mantinha sempre desalinhada,do jeito que era,antes de conhecer a Mel.
Nem bem a carruagem parou,e Luiz desceu chamando por Mel,e logo atrás o médico também desceu.
- Enfermeira Mel?
- Pois não senhor Luiz! Dr Arthur? O que faz aqui hoje? Perguntou Mel.
O médico ficou calado.
- Por favor,traga minha esposa até aqui? Pediu Luiz.
- Um minuto,vou chamá-la! Respondeu Mel.
- Logo, chegou Laura,toda desarrumada, descabelada,e com cara de demente.
- Oi meu amor, voltei para vê-la! Falou Luiz.
- Cadê aquela mulher maravilhosa que vi da última vez? Concluiu o rapaz!
- Quem é você? E o que quer de mim? Perguntou Laura, balançando os braços de um lado para o outro.
- É essa mulher que você disse que estava curada? Perguntou o médico. Quem é mentiroso agora Luiz,eu....ou você? Questiona Arthur, muito irritado.
- Eu não sei o que houve,mas vou chamar a cuidadora de Laura,para te provar que eu falo a verdade. Respondeu Luiz ao médico.
Naquele lugar,casa Enfermeira (a),cuidava de três internos,e estavam sempre com eles,e um dos pacientes de Mel,era Laura.
Os outros funcionários,tinham os seus três pacientes, sendo assim, ninguém queria saber de ninguém,a não ser dos seus próprios pacientes.
- Enfermeira Mel! Por favor, venha aqui! Chamou Luiz a enfermeira, fazendo um gesto com a mão.
- Pois não senhor! Respondeu Mel.
- Você se lembra,a última vez que eu estive aqui,e Laura veio me encontrar, linda,bem vestida,e conversamos como se ela estivesse totalmente curada? Você não pode ficar junto com as visitas eu sei,mas fica numa posição,em que consegue ver seus pacientes ao mesmo tempo, certo? Perguntou o homem para a enfermeira.
- Queira me desculpar senhor,mas a Laura não recebe visitas há anos! Respondeu Mel.
- Como assim? Você está louca também? Era exatamente a senhora que a trouxe até mim, assim como hoje! Retrucou Luiz. E vai me dizer que você não foi até o meu castelo,buscar informações sobre a vida de Laura também? Continuo o homem.
Senhor,eu estive sim no seu castelo,fiz perguntas sobre a vida da minha paciente, exatamente como está dizendo..... agora....o senhor ter vindo aqui, recentemente visitá-la...... já não é verdade!
- Explique se Luiz! Questionou Dr Arthur.
- Explicar o que? Eu estou dizendo a verdade! Não sei o porque, você está mentindo mulher! Disse Luiz, olhando para Mel, sem acreditar no que ouviu dela.
- Bem senhores, tenho internos para cuidar, com licença! Eu já disse tudo, não tenho mais nada para falar. Converse com sua esposa senhor Luiz,ela precisa de sua atenção. Disse Mel saindo,e deixando os dois homens no vácuo!
-. VOLTA AQUI SUA MENTIROSA! Gritou Luiz!
- O senhor está falando comigo? Perguntou Mel.
- Conhece outra pessoa que,mente como você está mentindo para mim? Disse Luiz.
Olha,eu vou fingir que não ouvi,ser chamada de mentirosa,para o seu próprio bem! Mas não ficarei mais um minuto, ouvindo seus desaforos! E o único mentiroso aqui é você senhor! Não sei o porque quer me envolver nisso, sinto muito se sua memória está falhando! Disse Mel furiosa, saindo sem olhar para trás.
- Luiz ainda tentou falar com Laura,mas ela não dava atenção a ele,e ficava falando sozinha e correndo atrás de borboleta.
- Conversaremos na sua casa Luiz! Disse o médico,já sentado na carruagem para ir embora.
Luiz também se sentou do lado de Arthur,e voltaram para a cidade,sem trocar uma palavra.
Luiz ficou como mentiroso para Dr Arthur.
E isso o incomodou muito!
Enquanto isso,Laura e Mel, estavam felizes com o resultado do primeiro" round "na luta da vida.
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NO PARALELO
RandomLaura é uma jovem, que vive em um mundo paralelo, ao mundo real,e quando percebe, que está presa no mundo fictício, fica difícil retornar a realidade.Ainda mais, que começou a acontecer cada vez mais, fatos intrigantes e incompreensíveis em sua vida.