Prólogo

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Prólogo.

 

Não corra tanto, você vai me machucar! — Ela dizia.

Mas quem era ela? Eu não me lembro de ter dado carona á alguém. Na verdade, não me lembro de ter saído, de ter bebido, de ter chego aqui. Mas sinto o cheiro de whisky, o fedor do cigarro e a adrenalina no corpo. Será que me droguei ao ponto de ter amnésia momentânea?

Para ser sincera, eu não sei, mas não vou negar que gosto disso. Gosto quando o vestido justo e a maquiagem bem feita, fazem parte da minha realidade. Sim, eu sei que sou a própria definição da palavra: perfeição... também sei que o meu ego deveria ser menor, porém, não vai rolar. Gosto do que sou porquê se fosse de outra maneira, não estaria mais aqui.

— Por favor, me escute e não corra tanto. Você vai me matar de novo! — a doce voz parecia inquieta.

Aquela afirmação fez o meu sangue ferver. Eu nunca matei ninguém. Eu tenho os meus defeitos, mas nada chega perto disso. O que ela estava dizendo era absurdo demais e eu não iria conseguir controlar a minha raiva.

— O que tu pensas que estás  fazendo? ‘Tá pensando que é quem pra me acusar de algo tão cruel?

— Não corra tanto, eu lhe imploro. Toda vez é o mesmo final. Eu tento te amar e tu acabas por me matar. É sempre culpa da sua vaidade!

Tais palavras me feriram, pareciam envenenar a minha alma. Era cruel demais pensar que era verdade tal situação.

Uma angústia me dominou. Escutei um barulho. Chovia forte. Escutei um grito. Como aquilo era possível? A dona da voz que parecia estar ao meu lado, estava caída na frente do meu carro.
As lágrimas escorriam pelo meu rosto. O meu coração parecia ter sido dilacerado. Tudo doía. Tudo girava. O que eu tinha feito?

— Não!!!!!!! — tudo o que eu consegui soltar foi um grito rouco, antes de acordar.

Eu estava soando frio. Me senti aliviada quando percebi que não passava de um pesadelo. Um maldito pesadelo. O mesmo pesadelo que me assombra por anos. Por quê, meu Deus? Por quê? Eu não gosto de tais sensações. Posso dizer que boa parte da minha infância se resume no meu pai me levando na benzedeira, no intuito de me acalmar, porém, nada adiantou. Eu cresci e o sonho continua repetitivo. É sempre a mesma voz; o mesmo grito e a mesma culpa... por quê? Eu nunca machuquei ninguém.

Eu estava chorando e não saberia explicar as razões. É sempre a mesma angústia. Se eu tivesse alguma crença no futuro, diria que recebo um aviso, mas não sei se alguém tão pagã tem a capacidade de crer em algo. Ah, que droga! Ás vezes penso que não deveria me importar e talvez eu nem me importo. A questão é que o meu coração acelerado é apenas uma reação normal. Eu não tenho medo do que vivo, quem dirá do que sonho.

O meu celular tocou, me tirando das garras dos meus pensamentos.

— Você teve aquele sonho outra vez? — é incrível a ligação que tenho com o meu pai. Parece que somos conectados. — Eu estou tentando dormir e nada de conseguir. Uma angústia dominou o meu peito, logo me lembrei de ti, minha filha.

— Está tudo bem. É bobagem, meu velho.

— Eu não acho que seja. Quer que eu vá aí?

— Não precisa. Vou fazer um chá pra ver se me acalma.

— Okay. Qualquer coisa me liga, Regina.

Eu sabia que não demoraria trinta minutos para vê-lo chegar. O meu pai daria o mundo para não me ver sofrer, em contraponto, a minha mãe pagaria o capeta para me fazer chorar. Eu não a entendo e não faço questão.

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