Ultimamente, eu tenho me perdido em você. O dia amanheceu estranhamente calmo. Eu despertei mais cedo do que de costume, creio que a razão seja o fato de que estou estranhamente agitada, mas isso não tem relevância. O fato é que eu estava admirando o nascer do sol e me deixei a mercê da brisa leve da manhã. A vista da varanda do meu quarto é deveras encantadora e eu nunca havia parado para observar tal detalhe.
Eu nunca passei tanto tempo em uma batalha perdida. Mil e uma coisas se passavam pela minha cabeça. É como se eu estivesse me afundando mas a sensação fosse o oposto disso. É tudo muito novo, só que me parece tão íntimo e tão antigo. É um sentimento ansioso e quente. Posso lhe contar um segredo? Tenho pavor da ideia de abandonar o meu egoísmo. Tenho pânico de descobrir o que existe além do que sou agora. Tenho medo de entender a farsa que habita dentro de mim.
Entre esses mil e um pensamentos, o sorriso dela era o que mais prevalecia. Ah meu amigo, pelo visto serei escrava da mentira e seguirei perdendo todas as noites e dias. A verdade é que não quero deixá-la sozinha, mas daqui a seis meses eu ficarei sem amor e terei que assisti-la partir. Sim, tenho consciência do tempo limite dado pela minha mãe e sei das consequências. Sim, também sei que deveria ter o senso e contar tudo agora, só que eu sou egoísta, se lembra?
Eu não posso aguentar o peso do que sinto. E assim, vendo o nascer do sol, penso que o melhor é não sentir e jamais esquecer as razões que têm me levado a assistir desenhos até Emma adormecer. Eu fico em seu quarto até vê-la serena em seu sono e depois saio sorrateiramente. E sorrateiramente, serei obrigada a sair da sua vida.
E aqui estamos nós, outra vez vivendo o futuro, sem nem compreender a mentira do agora.
— Pra você! — Augusto me entregou uma xícara de chá. Eu não havia notado a sua chegada.
— Eu odeio chá. — Eu disse, mas bebi o líquido quente. Pelo menos estava quente. Ufa.
— Eu sei. O seu vício é em tudo que faz mal, inclusive o excesso do café.
— Por isso nasci brasileira. O país das maravilhas e dos pecados. Eu não saberia ser europeia, Deus me livre. Mil vezes o meu estômago queimando, mas a minha alma podendo sentir o prazer de ingerir uma bebida descente pela manhã.
— Eu vou simplesmente te ignorar, Isadora.
Augusto deu de ombros e resolveu olhar para o céu azul. O meu amigo também gosta de belas paisagens.
— O que veio fazer aqui?
Augusto respirou fundo e pareceu estar organizando a sua resposta.
— Te trazer chá?!
— Sem gracinhas, por favor.
— Tenho medo de tudo que tem acontecido. — Ele disse. — Eu te conheço bem, Regina. A hora que tudo acabar, toda essa sua coragem se transformará em desespero. Não quero vê-la se perder em mais vícios.
— Eu estou bem. Desde o acontecido, tenho ficado firme. Não bebo, não fumo e não me drogo.
— É exatamente esse o problema. Tudo na sua vida é o extremo. — Augusto se virou para me olhar nos olhos. — Só não se apegue na garota, por favor. Isso seria a sua perdição. Se você resolveu mentir, okay, mas não vista essa fantasia por completo.
Um breve silêncio.
— Você pode me ajudar com o trabalho de hoje? Preciso acabar rápido para levá-la ao cinema.
Augusto riu e balançou a cabeça. Ele parecia não estar acreditando no que ouvia. O meu amigo sabe que independente do que for falado, irei agir impulsivamente.
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La Solitudine
RomanceRegina Mills leva uma vida sem regras, sem afeição e sem amor. Não pensa nas consequências dos seus atos e por isso foi obrigada a ficar noiva de Augusto. Os seus pais acreditavam que aquela era a única saída para a filha. Tudo muda quando a sua imp...