capitulo 24

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Foi um dia longo aonde me senti sendo torturada a cada segundo. Eu fui o veneno da minha alma e a causa do meu choro. As minhas lágrimas pareciam ácidas de tanto que estavam me machucando. O meu coração estava apostando uma corrida contra algo inexistente, tentando sair do meu peito para respirar. Eu nunca estive tão perdida e apavorada.

Ah Emma, o que eu vou fazer sem você? Será que a sua alma também está se sentindo sufocada? Acho que o sol nunca mais irá brilhar e o céu não terá mais estrelas. Os arco-íris serão extintos e o amor se tornará parte de um poema medíocre. As minhas ilusões estão morrendo uma á uma. Eu sei que não serei mais alguém a qual você irá amar.

A minha mãe não me abandonou um só minuto. Dona Rosa não quis invadir o nosso espaço e só aparecia para nos levar chás e refeições — rejeitadas por mim. O meu pai ligou, mas também optou por deixar Dona Cora me cuidar. Emma resolveu dar um passeio com Ruby e solicitou que me avisassem. E mais uma vez a insegurança me quebrou por completo.

Ah meu caro, essa sou eu: insegura; incompleta; inconsequente e triste — imensamente triste. Eu realmente não sei o que fazer para lidar com a vida. O meu corpo e a minha alma entraram em colapso. Sinto reações a flor da pele. É tudo em excesso; é tudo mais... eu estou chorando com a mesma intensidade que amei.

Eu vou precisar de sorte para resolver as coisas ou superar. Talvez Emma nunca me perdoe, talvez seja só uma fase ruim. É tudo muito incerto. A única conclusão que temos é sobre o meu amor e de como é cruel as suas consequências. Eu não estou preparada para lidar com o seu olhar decepcionado ou qualquer outra desilusão. Eu não estou pronta para saber que a perdi por todo o sempre.

Dona Cora precisou me forçar a tomar banho e a ter uma reação. A minha única vontade era ficar deitada e fingir que não existo. Não consegui focar no trabalho e muito menos ser produtiva. Os meus olhos já não aguentavam mais derramar lágrimas. Estava doendo e muito — por favor, não se canse dos meus lamentos.

Eu não arrisco a vos dizer sobre o horário, mas deveria se passar das oito quando Augusto chegou e me convenceu a acompanhá-lo. Emma já havia voltado. Enfim, foi o meu amigo quem escolheu as minhas roupas e me apressou. Teoricamente não havia outra escolha. Dona Cora alegou que precisava conversar com Emma e que seria bom eu sair e me distrair. Não, não era da minha vontade, mas tinha muito o que ser feito.


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Augusto fazia várias piadas idiotas tentando me animar — mesmo que não funcionasse. Ele optou por buscar o meu pai para nos acompanhar. Eu não sabia aonde iríamos e nem fazia questão. A minha mente só pensava nela. E por falar nisso, não me julgue por ter saído, mas eu não quis ser egoísta e deixei dona Cora livre para cuidá-la. Emma não tem ninguém além da minha mãe.

Um show sertanejo. Eu acabei rindo do lugar, não por desdém, pelo contrário: agora que o mundo se acaba em choro mesmo.

— É assim que você me ama, Augusto? — perguntei com uma certa descrença.

— Hoje a noite se acaba em modão. — Ele disse e deu de ombros.

— Ah eu gostei da ideia! — O meu pai comentou.

Eu compreendo a preocupação dos dois e admiro a forma como eles fingem estar tudo bem só para me animar. Entre todas as possibilidades de distração, me trouxeram para o meio da multidão. Não era uma má ideia. Quem nunca teve o seu coração destroçado e se perdeu na sofrência raiz?

Eu não vou mentir dizendo que evitei beber (em nenhum momento foi evitado, mas também não houve o exagero de antes). Em um mão estava um copo de cerveja e na outra os meus pedaços. O meu pai seguia me abraçando e dizendo que iria dar tudo certo. Que merda de vida. Que merda de amor. Eu odeio o fato de que sou completamente apaixonada e dependente dela.

— E se doer por dentro, não chora... — Augusto cantarolou a bela música. Ele me olhava com muita ternura, como se fosse me proteger de mim mesma.

E lá estava eu: chorando.

A bebida descia amarga. Havia gosto de lembranças. A música entrava no meu ouvido e alugava um triplex na minha mente. “E se bater saudade”, será que ela volta?. Droga. Por que caralhos me parece um fim definitivo? Eu odeio pensar que esse é o nosso futuro.

— Por quê é tão difícil me amar por completo? — Eu perguntei... Era mais um desabafo da minha alma.

— Porque você é extremamente complicada... mas é exatamente esse o seu charme. — Augusto respondeu.

A multidão não parecia muito diferente de mim. Talvez todos carregavam uma certa frustração amorosa, até mesmo os mais apaixonados.

— Não pense nisso não, minha filha. Apenas viva essa noite e deixe as suas emoções transparecer. É melhor não guardar nada do que está sentindo, se não vira veneno.

Eu não vi o tempo passar. Eu bebi. Eu chorei desesperadamente. Eu entrei na vibe das outras pessoas e curti o show com todo o meu ser. Mas não, em nenhum segundo deixei de pensar nela. Espero que minha mãe tenha a levado para algum lugar e lhe dado apoio. Acredito que Emma esteja sofrendo dobrado, afinal a mentirosa é inconsequente sou eu.


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O dia já estava quase amanhecendo. O meu pai e o Augusto cuidaram de mim, mas não consegui ir para o meu quarto quando chegamos. Eles até tentaram me aconselhar, mas o coração é imprudente.

— Eu não vou aguentar o seu desprezo! Vai me matar aos poucos. — Eu disse assim que entrei em seu quarto.

Emma ainda estava acordada, assistindo. Dona Cora já não estava mais.

— Você está bêbada! — Ela disse de maneira ríspida.

— E completamente perdida depois de te decepcionar. — Fui sincera e me sentei ao seu lado da cama.

— Isso não vai resolver nada. — Ela evitava me olhar.

— Se não resolver eu vou continuar bebendo, chorando e agindo como se o meu mundo tivesse acabado. — Uma pessoa bêbada fala até demais.

Eu queria segurar em suas mãos ou lhe fazer um carinho, mas tive medo de ser rejeitada.

— Me deixe sozinha, por favor. — Emma continuava sendo dura comigo.

Um breve silêncio. Mil e um pensamentos se apossando de mim. A dor no meu peito me fazendo acreditar que era o início de um infarto e as lágrimas que seguiam caindo dos meus olhos entregavam o quão frágil eu sou.

— Eu fiz de você o meu mundo e agora temo ter te perdido.

— Te amar foi um erro, Regina. Nós somos dois polos extremamente diferentes. Você pode comprar tudo com o seu dinheiro, menos a minha admiração.

Eu não soube o que falar e muito menos controlar os meus batimentos cardíacos. Aos poucos a minha alma foi absorvendo cada palavra e a minha visão escurecendo. Eu senti cada batida acelerada do meu coração e depois a lentidão de cada uma — Sim, foi uma alternância estranha e dolorida. Não pense que a causa é apenas o agora... não, os meus sentidos morrendo são resultados de uma vida toda de ansiedade não tratada.
Eu queria gritar o quão importante Emma é para mim, mas não consegui falar nada além de um:

— Eu te amo...

— Hey, o que está acontecendo? Você está ficando pálida! — Só então ela me olhou e se desesperou ao não obter mais respostas. — fala comigo, Regina. Hey, não faz isso, por favor!

Como eu estava na beirada da cama, não teve como ser diferente... A última coisa que me lembro é do meu corpo caindo no chão e dos seus gritos.











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