— Se eu pudesse voltar no tempo, te juro que iria fazer diferente.
Um breve silêncio.
— Se eu soubesse que iria te machucar de verdade, não teria saído de casa. Me perdoa. É que o pesadelo me parecia irreal demais para acontecer. Me perdoa. — um breve silêncio. Uma breve pausa no meu monólogo. — É que ás vezes sou egoísta e orgulhosa demais... não penso em nada e nem em ninguém... mas... oh, eu te juro que se você voltar, irei cuidar de ti. Essa é a promessa que mais irá escutar de mim. Eu preciso muito que tu me ouças.
E entre desabafos e culpas, eu adormeci na cadeira, segurando a sua mão.
Eu ouvia vozes. Gritos. Sussurros. Sei que é um pesadelo. Eu tenho controle disso. Era ela, perdida em mil versões e me implorando para não correr. Ah bela jovem, já foi cometida tal imprudência, mas lhe prometo nunca mais beber e correr de tal maneira, só volta pra mim. Ok, foi estranho tal pedido, mesmo que tenha sido em meio a um pesadelo. Não se volta para onde nunca foi. Não se volta para um desconhecido.
Eu não sei quanto tempo dormi, só sei que me assustei com a enfermeira me chacoalhando, na tentativa de me acordar.
— Vá para casa descansar. — Ela me disse. Eu pisquei algumas vezes e tentei me situar. — A sua noiva não irá despertar tão cedo. Os remédios são fortes.
— Ah, eu não posso ficar? — perguntei. Não era do meu querer ir embora. Eu queria estar ao lado da desconhecida por todo o tempo necessário.
— Não é preciso. Isso só irá te causar exaustão. A senhorita já está aqui por horas e o senhor Henry está a sua espera.
Eu havia me esquecido totalmente do meu pai. Droga. Me levantei e me desculpei com a enfermeira, antes de sair do quarto de hospital.
🌹
O caminho de volta foi feito em silêncio. Eu não posso vos dizer sobre os meus pensamentos porque não os compreendo, não posso descrever o que sinto porque estou atordoada e não posso vos contar sobre a moça porquê ainda não sei absolutamente nada, mas ela me parece ser um anjo... O meu anjo salvador. E tudo bem se achar que sou tola ou que mudo de personalidade com facilidade... te garanto que não é bem assim. Ela só parece ter a chave dos mistérios da minha vida.
Eu estava tão distraída que não havia reparado no local em que estacionamos. Não fomos direto para a casa. O meu pai decidiu que eu precisava me alimentar e que comida italiana era uma boa opção. Que tolice. O meu estômago rejeitará qualquer coisa que bater aqui dentro. É uma mistura de ressaca e dor. Mas não era preciso discutir e então desci do carro e o acompanhei até o restaurante.
Ah, ele é um rei em todas as suas essências. Henry Mills: um grande nome da indústria cinematográfica; responsável pelos investimentos em filmes nacionais com potencial para dar certo; tem parcerias com agências mundiais e o mais importante: é pau mandado da minha mãe. Ao lado de um grande homem, sempre tem uma mulher extremamente perfeccionista e brava. Posso confessar um segredo? Ele vai passar uns dois dias me ajudando, mas não só por me amar incondicionalmente e sim porque tem medo de contar para dona Cora, o meu feito. Na cabeça dele, é mais fácil escapar até o último segundo e fingir que não sabia de nada.
Enfim, nós nos sentamos em um canto reservado e pedimos ravioli. Eu disse a minha preferência por qualquer bebida não alcoólica e notei a surpresa do meu pai.
— Enquanto a moça não estiver bem, não vou ingerir álcool.
— Eu gosto disso que está falando, filha, mas te conheço o suficiente pra saber que não vai durar. Por quê não paga as despesas que ela terá com remédios e esquece isso?
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La Solitudine
RomanceRegina Mills leva uma vida sem regras, sem afeição e sem amor. Não pensa nas consequências dos seus atos e por isso foi obrigada a ficar noiva de Augusto. Os seus pais acreditavam que aquela era a única saída para a filha. Tudo muda quando a sua imp...