capitulo 4

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Um dia depois. Emma foi levada para a minha casa, mas não posso retratar com maestria as suas reações porquê elas quase não existiram. Entenda, por favor. Deve ser difícil para a jovem.

O meu pai tentou o máximo esconder os fatos da minha mãe, mas não foi possível. Não vou negar que tive medo da sua reação, só que não havia mais para onde fugir. Estava na hora de colocar tudo as claras e também fingir demência. Como sou covarde, chamei o Augusto para estar presente. Qualquer coisa, o meu amigo/ex noivo forçado, assumiria a responsabilidade.

Não, eu não acho justo culpar um outro alguém por falhas minhas, só que quando envolve a minha mãe, o negócio é mais delicado. Eu definitivamente não tenho estruturas para lidar com Dona Cora. É que ela é fervorosa nas suas decisões, intimidadora e fria. Não há nada capaz de abalar a sua postura e lhe fazer descer do salto. Eu sei que independente do meu arrependimento e das minhas correções, continuarei irresponsável e insensível aos seus olhos. Cora não costuma demonstrar a sua doçura e se em algum momento eu for motivo de orgulho, não saberei.

Eu estava nervosa. Emma estava dormindo no quarto que lhe foi preparado.  O meu pai passava um café e Augusto tentava forçar um sorriso — com certeza estava pensando qual “morte” seria menos dolorosa. E Dona Cora? Havia acabado de chegar e se acomodar no sofá da sala, fingindo tranquilidade, enquanto não íamos até ela. Ah, por que eu disse fingindo? Porque qualquer reunião marcada em cima da hora é sinônimo de problema.

— Por quê você foi atrás da garota, Regina? — Augusto me perguntou, nervoso. — Era só mandar o dinheiro do tratamento no anonimato.

— Isso seria cruel demais. — Eu respondi.

— Cruel demais? Foda-se! Não tem como concertar uma imprudência desse tamanho! Você só vai terminar de estragar tudo.

— Não é bem assim... ninguém me descobriu até agora, então...

— Para de ser louca! A garota pode recuperar a memória! Ou pior, se não recuperar, terá que desmentir o noivado. A gente vai se casar!

— A gente não vai mais... enquanto eu não conseguir resolver isso, não podemos seguir com o noivado. E é exatamente por isso que chamamos a minha mãe aqui.

— Seu Henry, me ajuda aqui!

— Não posso. Eu havia prometido para a Regina que iria ajudá-la.

— Dona Cora tem razão, você é o motivo da irresponsabilidade dela. — Augusto disse e suspirou. — O pior é que terei que enfrentar a fera junto. Puta que pariu!

Como podem ver, todo mundo tem medo da minha mãe. Não, ela não grita e quebra tudo... É exatamente esse o ponto... Enfim, rezei mentalmente e tomei coragem para ir até a sala. Óbvio que usei o Augusto de escudo. Não demorou para o meu pai nos seguir com o bule e as xícaras.

Dona Cora manteve a sua seriedade e ignorou o nosso pânico. O meu pai foi lhe oferecer uma xícara de café e quase a derrubou — de tanto que tremia. Eu me sentei na poltrona mais distante que tinha e o meu amigo/ex noivo ficou ao meu lado (em pé).

— O que você fez desta vez, Regina? — minha mãe foi direto ao ponto.

— E por quê eu tenho que ter feito algo? Por quê sempre precisa me acusar? — Eu questionei de maneira irritada e equivocada.

— Preciso mesmo responder?

— E se eu te disser que só estava com saudades?

— Nem você mesma acreditaria em tal farsa. — Dona Cora é firme em sua fala. Talvez seja porque me conhece bem demais. — Diga logo. — Insistiu. Ah meu caro, a minha boca nem se mexia. — Henry...

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