capitulo 13

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Deve ser por volta de umas dez horas da noite. Lá fora cai um temporal. Aqui dentro é confuso em demasia. Tenho um livro em mãos e Emma tem ansiedade para encontrar algum filme exageradamente dramático. Eu não gosto de assistir dramas, mas tudo bem, até porque tentarei continuar lendo Caio.

Não, não pense que estou ignorando-a covardemente. Talvez seja isto, mas não pense assim de mim. Só estou tentando evitar confusões maiores. Não quero correr o risco de ceder aos seus caprichos. Não posso. Não devo.

Podemos fingir que não estou a admirando de relance, que não percebo o bem que me faz e que odeio o seu jeito atrapalhado enquanto aperta os botões errado do controle. Podemos ignorar o quão fofo é a sua irritação com a televisão e o quanto é cruel a sua falsa indiferença comigo desde que teve o beijo negado.

Ah, essa deve ser a história de amor mais bizarra escrita pelo destino. Detalhe: nós não somos uma verdadeira história de amor. E o que tenho a vos dizer sobre isso? Como citado em um texto roubado: “meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém — Caio Fernando de Abreu.

Será que ela irá me odiar? Digo, no futuro, quando souber tudo que fiz e tudo o que sou... será que ela irá cantar com toda a sua alma que eu a fiz odiar centenas de coisas e memórias? Eu não quero carregar a sensação de tê-la feito triste pra caralho. Eu não quero ser a pessoa que feriu o seu coração.

Droga. Droga. Droga. Talvez esta seja a palavra mais repetida por aqui: Droga. É desta maneira que se comunica uma pessoa que está descobrindo as facetas do amor? Droga. Mil vezes droga.
É melhor voltar a prestar atenção no livro, Regina!

— Desisto! — Emma resmungou e deixou o controle de lado. — Não encontrei nada do meu agrado. — Suspirou.

— Quer ajuda para escolher? — perguntei.

— Não. Pode continuar com o seu livro besta.

Hm? O que está acontecendo? É impressão minha ou foi uma péssima ideia ler? Pelo visto, Emma não gosta de dividir atenção. Bom, como sou egoísta e orgulhosa, não vou me importar... não vou... já me importei e coloquei o livro no criado mudo ao lado da cama.

— Qual o nível do drama que tu queres assistir? — perguntei e peguei o controle para selecionar as opções.

— Existe nível? — me olhou com um pouco de doçura (bem pouco, cá entre nós.)

— Sim. A senhorita quer chorar uma poça ou um rio?

— O suficiente para esquecer que você me negou um beijo.

— Hm. Quer chorar um oceano, então. — Tentei fazer uma graça que não deu muito certo.

Emma parecia estar muito magoada. Eu não sei o que se passa na sua cabeça. Na verdade, eu não sei nem o que se passa na minha... Mais uma vez: Droga.

Não demorei muito para encontrar o filme ideal. Por lugares incríveis.  Se é para chorar, que chore até as lágrimas que não foram feitas ainda.

E no final, ninguém prestaria atenção em nada. Assistir era a nossa desculpa particular para prolongar a noite.

— Me conte alguma aventura que a gente viveu, Rê. — Emma me surpreende com os seus pedidos e etc. Eu nunca estou preparada.

— Você deveria prestar atenção no começo do filme pra entender o final.

— Prefiro que você me conte algo da gente...

Fodeu. Agora fodeu tudo. Eu não tenho criatividade para mais nada, não hoje, não agora. Não deu nem tempo de digerir as coisas que aconteceram pela manhã.

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