capitulo 14

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A ressaca moral é a pior coisa que existe. Não me importo com a dor de cabeça ou com o fato de que quase vomitei as minhas tripas. Sou indiferente ao amargo do whisky em minha boca e ao seu fedor que impregnou na minha pele. Nada disso me incomoda, nada disso me tira do eixo. Mas sinto ânsia e nojo quando me lembro da minha covardia.

Talvez teria sido mais fácil encarar a cadeia. Não existiria o peso do certo e do errado, apenas a condenação dos meus pecados. Poderia não haver luxos e nem uma boa refeição, mas eu não seria obrigada a engolir doses de remorso diariamente. Eu não olharia apaixonadamente para um anjo perdido. Sim, Emma é um anjo que se perdeu nas minhas aflições. Eu não conheceria o meu lado bom, tão pouco me afundaria na minha consciência.

 Pegue meu corpo. Pegue meu corpo. Eu só preciso encontrar alguém. Eu acreditei que seria fácil voltar a se perder em mim mesma. Eu não pensei que seria doloroso acordar e saber que quebrei uma promessa. Eu nunca me importei com promessas e coisas assim. Eu não era uma mulher de palavras. Ah meu amigo, pelo visto, eu continuo sendo uma menina assustada com a vida.

As lágrimas escorriam pelo meus rosto. Eu mal havia despertado e já estava me condenando. Tanto faz que Dona Cora ainda estava aqui comigo. Tanto faz que o meu coração se sentiu seguro por tê-la aqui. Tanto faz que aparentemente gosto do seu amor inexistente. Tanto faz que eu deixei a minha fragilidade exposta pelo simples fato de que ela estava cuidando de mim.

Eu vou fingir que não teve importância nenhuma saber que dona Cora preparou o meu café e ainda tinha pego um remédio para mim. Eu vou fingir que não era isso que eu desejei a minha vida inteira. No ápice da minha dor, podemos perceber que a minha abstinência não era sobre os vícios.

— Chorar não vai apagar a noite de ontem, Regina! — Ela disse e me olhou de um jeito indecifrável. O que será que dona Cora tanto pensa? — Se recomponha e viva apenas as emoções do dia de hoje.

Eu me ajeitei na cama e até pensei em começar a fazer o desjejum, só que tive que correr para o banheiro e vomitar. Droga. Eu nunca mais bebo whisky. Okay, está certo que metade disto é o álcool e a outra metade é a ansiedade aflorada.

É melhor deixar o café da manhã pra outra hora. Eu vomitei e vomitei e vomitei. Chorei também. Merda! Eu sou muito frágil e isso é tão ruim. Não havia muitas opções além de tomar um banho gelado e se desligar do mundo pós vômito. 

E foi exatamente isso que fiz. Eu pensei que dona Cora iria embora e me deixar ali, mas não foi assim. Lá estava ela, pensando, inerte em seu mundo. Em silêncio. Aqui estou eu, vestindo a primeira roupa que achei e com medo.

— Que horas são?

— Meio dia. — Ela me respondeu. Droga. O café da manhã da Emma. Eu havia me esquecido completamente de se fazer presente no dia de hoje. — Mas não precisa se preocupar, já conversei com a moça e disse que você estava indisposta. Ela realmente gosta de ti.

— Eu não acho. Ela só está acostumada com a nossa convivência.

— Os olhos são o reflexo da alma e a dela grita que és parte de ti. Talvez o seu pai esteja certo e o destino realmente exista.

— Isto é bobagem. Logo, logo o tempo acaba com toda essa farsa.

Um breve silêncio.

— Não há tempo o suficiente para acabar com um amor de almas, Regina. Quanto mais rápido você compreender a missão dela na sua vida, menos você irá sofrer.

— Dona Cora, nós sabemos que neste caso, o sofrimento é inevitável.

— Mas a covardia não. — Ela disse. — Bom, agora que tenho a certeza que tu não teve um coma alcoólico, vou ir embora. Se alimente e fique bem. — Ela quase sorriu pra mim. Quase. Se despediu com um aceno e se restou.

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