capitulo 21

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Eu sei que isso pode parecer bobo e sem importância, mas sinto o meu coração radiante toda vez que me lembro do colar que sigo usando. Ainda me recordo dela falando que sou o seu raio de sol. Não existe mais a culpa presente no objeto ganhado. Emma sabia que eu não era nada em sua vida e mesmo assim se permitiu sorrir ao meu lado.

Independente do início, me agrada o que somos agora. Juro que não era a minha intenção, mas não se foge do destino. Não se pode evitar o amor. Não é possível evitar o amor.

Não, eu não vou fingir que tudo está curado aqui dentro e que não existe mais as minhas questões. É válido dizer que existem dores que o amor apenas ameniza. Mas também não podemos seguir pensando que estou perdida. Eu não estou. Não mais. Nós sabemos que Emma segurou em minhas mãos e me levou de volta para a casa. Ah meu caro, quem seria capaz de amar os seus cacos e admirar o seu caos? Se quiser me invejar, será compreensivo.

É louco, não? Sentir e viver. O mundo não para e não há cirurgia capaz de apagar as cicatrizes da alma, mas tudo bem. Faz parte. O que quero neste momento é aprender a gostar ainda mais da rotina e me perder em sorrisos bobos. Que Deus continue me olhando e tendo piedade de mim. Quero continuar degustando da felicidade. Quero continuar carregando um brilho no olhar e que as chamas do meu coração nunca se apague. Quero aprender a ter esperança no impossível.

Esperança. É está a palavra correta para descrever os meus sentimentos em relação às sessões de fisioterapia que Emma tem feito. Eu acredito em sua recuperação. Eu acredito que por mais impossível que pareça, ela irá voltar a andar. E não, não é para tentar amenizar a minha culpa... eu só quero que o meu amor volte a se sentir completa. Sim, o seu olhar ainda carrega uma certa frustração em relação ao atual momento e só me cabe continuar segurando em suas mãos em todas as sessões.

Emma tenta forçar um sorriso e finge ter fé. Eu tento não desacreditar. Há momentos em que precisamos rezar por dois e eu o faço pela minha garota. “Você está indo muito bem.” O fisioterapeuta dizia e ela o ignorava. Parecia verdade aquela afirmação. Talvez Emma não tenha se dado conta de todo o seu progresso e okay, faz parte.

— Podemos parar por aqui? Eu estou cansada! — Emma resmungou.
— Só mais um pouco, por favor. — O fisioterapeuta insistiu.

— Escuta ele, meu amor. — Eu disse e acabei apertando a sua perna. Sei lá, foi um gesto automático que causou uma reação espontânea do seu corpo e uma reclamação também.

— Assim dói!

Calma. Eu realmente vi o que acho que vi? Se sim, isso é bom, não é? Essa é a primeira vez que Emma tem qualquer tipo de reação. Pode parecer pouco, mas não é. Hoje consigo compreender que a vida acontece nos pequenos momentos improváveis e inquietos. Eu sei que foi por puro reflexo, mas isso não impede a minha felicidade por vê-la mexer as pernas. Foi um gesto quase que imperceptível, só que nós percebemos.

Ah meu caro, eu só não vou transparecer a emoção porque não sou sensível (e tu podes fazer o favor de fingir que acredita em minhas palavras).

— Nós estamos progredindo, Emma... parabéns por hoje. — O fisioterapeuta estava sorridente. Pelo visto o pior momento de nossas vidas realmente seria momentâneo.

— Eu estou orgulhosa de você, meu amor! — Eu disse e tentei conter a emoção.

— Meu raio de sol, pra ser sincera, eu não sou tão confiante quanto pareço. Ainda tenho medo de ficar assim para sempre...

— Hey, você sentiu o meu toque e reagiu... não precisa ter medo... Só precisa ter fé e determinação. Encare essa fase da sua vida como a parte em que aprendeu a ter ainda mais coragem.

— Ela tem razão, Emma... não é do dia para noite que tu vais voltar a andar. É assim que começa: com pequenas reações. — O fisioterapeuta a encorajou.
— Bom, podemos finalizar os exercícios?

— S-sim... — Emma se deu por vencida.

Ah meu caro, não se preocupe, eu estarei ao lado dela agora e sempre, fazendo o impossível para lhe entregar as emoções que lhe faltar. E então podemos dizer que o amor é o complemento de um com o outro.

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