capitulo 11

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Uma semana depois.

Uma tarde quente. Um domingo qualquer. Sentimentos confusos e dezenas de coisas que não devemos prestar atenção. Aqui estou eu, perdida em um estádio de futebol, acompanhando o meu pai e o Augusto. O meu velho achou que era uma boa opção vir assistir o verdão, sabendo que dona Cora estaria ocupada demais assistindo a tal peça de teatro junto de Emma. Cá entre nós, seu Henry é um eterno adolescente.

E eu? Bom, eu acho que gosto de futebol. Antigamente, nós fugíamos mais vezes para os estádios. Digamos que hoje estou recuperando um gosto/um lazer — algo que estava guardado em algum canto empoeirado do meu coração.

É legal estar aqui, bebendo refrigerante e vibrando com o restante da torcida. Um clássico é sempre um clássico. E um gol feito no clássico é magnífico. Augusto acabou assistindo na mesma arquibancada, mas torcia para o time oposto. Foi maneiro zoar com a cara dele.

Foi divertido. Pequenos detalhes que estão me trazendo de volta e tudo isso é culpa do terrível acidente que colocou Emma na minha vida. Azar o dela, sorte a minha — e não, eu não estou comemorando tal fato, estou apenas fazendo uma observação.
Tem momentos que passa, mas não deixa de ser lindo.

— Foi roubado! — Augusto esbravejou enquanto deixávamos a arquibancada. O jogo havia terminado em 2×1 a favor do verdão. O meu amigo não aceitaria tal resultado, sendo um corintiano roxo.

— Aceita que dói menos, bobão! — Eu disse.

— Foi um jogo bonito. ‘tá certo que só a gente tocou na bola, mas foi bonito! — O meu pai o provocou.

— Eu não quero mais falar disso. Prefiro comer alguma coisa. — Augusto se deu por vencido.

E assim foi feito, fomos para um fast-food e devoramos lanches artesanais e batatas banhadas no cheddar. O melhor disso tudo é que nada havia sido programado, foi um domingo aleatório em que tudo deu certo.

🌹

Eu pareço com você. Já era noite. Augusto foi para a sua casa e o meu pai ainda estava ao meu lado. Estávamos felizes pela vitória e pelo passeio. Seu Henry não parava de falar de como o gol havia sido bonito; uma pintura; um golaço e coisas assim. Não tinha como discordar. Estávamos perdidos no nosso mundo particular ao ponto de não perceber a presença delas na sala.

No espelho está você. Entramos fazendo algazarra, parecendo duas crianças. Mais uma vez posso dizer que estávamos degustando de uma alegria momentânea. Não havíamos nem notado as camisas sujas de mostarda e sorvete. Seu Henry e eu somos feitos de regras quebradas.

Não me enlouqueça mais. E quando a realidade me bateu a porta, entrei em estado de choque. Dona Cora tinha um sorriso convencido no rosto e Emma acreditava estar fazendo a coisa certa.

Eu quis chorar ou ter qualquer reação, mas não consegui. Confesso que perdi o chão ao se deparar com a bela jovem segurando um lindo buquê de rosas vermelhas e uma pequena caixa aveludada.

Eu não gosto de você, sorrio ao te ver. Ela não tinha esse direito. Conheço dona Cora o suficiente para afirmar que ela convenceu Emma a me presentear. Por quê? Porque somos uma mentira e é preciso jogar isso na minha cara o tempo todo.

— Eu sei que o seu aniversário já passou, mas espero que goste do presente. A sua mãe me ajudou a escolher. — Emma disse. Eu respirei fundo e tentei me colocar em ordem.

— Cora vamos embora! — Essa foi a primeira vez que vi o meu pai falando mais firme com ela.

— É cedo ainda. — Cora respondeu.

— Vamos, agora! — O meu pai continuou firme. Creio que ele também compreendeu o impacto daquela atitude.

— Okay. Você está certo, devemos ir e deixar o casal a vontade. — Dona Cora disse e se retirou.

— Eu te amo, filha. — O meu pai me abraçou e sussurrou tais palavras, e depois se retirou.

E aos poucos fui criando coragem para pegar o presente e agradecer, afinal, Emma era a única que não tinha culpa de nada.

— Eu fiz algo errado? — perguntou.
Eu me aproximei e me abaixei perto da cadeira de rodas.

— Não, meu amor. — Eu respondi com doçura. — Eu só fiquei surpresa.
Eu peguei a pequena caixa e abri. Emma tinha bom gosto. Ela tinha comprado um lindo colar de ouro, com um delicado pingente de sol. Antes que questione da onde a jovem tirou dinheiro, saiba que deixei um cartão de crédito para que pudesse usar. Não pretendo mantê-la a mercê dos meus gostos e da minha presença. Emma tem empregados e cuidadores a sua disposição.

— Obrigada por ser o meu sol, em dias tão chuvosos para a minha alma. — Ela disse sorrindo e me entregou o buquê de flores.

Eu não soube o que responder. Tentei não chorar. Foi exatamente neste momento em que odiei dona Cora, intensamente. E se isso for pecado, que Deus me perdoe. Ela não tinha o direito de induzir Emma a demonstrar sentimentos por mim. E antes de me julgar ou acreditar na minha loucura, saiba que conheço a pessoa que me colocou no mundo.

Cora não me puniu gritando aos quatro cantos o erro cometido, fez o oposto disso... me entregou uma dose amarga das consequências da minha mentira.
Droga. Mil vezes droga. A jovem não pode me ver como um sol... eu sou a causadora das tempestades em sua vida.

— Eu amei! — Foi tudo o que eu consegui responder. Emma fechou os olhos e me deu um beijo doce no canto da minha boca. Droga. Mil vezes droga. — Eu vou colocar as rosas em um vaso, senão vai murchar! — Me levantei com pressa e me afastei, indo fazer o que havia sido dito. Eu ainda segurava o colar.

— Me deixe colocar o colar em você, por favor.

— Só um minuto. Eu já volto pra perto.
Eu precisava respirar longe dela, pelo menos por um minuto e a minha desculpa foi as rosas. Eu peguei um dos vasos bonitos que tinha perdido pela minha casa, coloquei água e as flores.
— Pronto, vou deixá-las aqui. — Coloquei-as na mesa de centro da sala, ao lado da pequena caixa que antes guardava o colar. — Está aqui, meu amor. — Entreguei o objeto, me abaixei de uma maneira que ela pudesse colocá-lo. E assim foi feito.

— Deixe-me ver como ficou! — Não foi um pedido. Talvez uma ordem obedecida com sucesso. — Sua mãe tinha razão, realmente combina contigo. — Ela sorriu.

Ficamos alguns segundos a mercê do nosso mundo particular, até que a minha ficha caiu. Era preciso encontrar algo para fazer e quebrar essa proximidade toda.

— Bom, vou tomar um banho. — Eu disse a primeira coisa que me veio na cabeça. — Quer assistir alguma coisa depois?

— Você vai me ajudar com o meu banho? Ainda tenho dificuldades em lidar com a minha atual situação. E não gosto de pedir para um dos enfermeiros.

— Ah, claro que ajudo.

E assim foi feito. Fomos para o seu quarto. Eu tentei ajudar, mas acabei atrapalhando e gerando boas risadas.  

Notas da autora
Perdoem-me o capítulo curto. Não estou bem de saúde. Foi tudo que consegui escrever neste domingo. Eu gosto de escrever, me distrai, mas fica mais complicado doente kkk um beijo pra vcs. ❤

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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