La Solitudine

capitulo 23

A verdade é dolorosa e pode custar muito caro, até mais que os duzentos mil reais. Eu ainda não sei se consigo pagar o preço, só que preciso descobrir. Eu realmente não quero esconder absolutamente nada de Emma, mas ainda temo a sua reação. Algo me diz que devo me preocupar e não me parece apenas uma paranoia de um alguém inseguro.

Eu não queria ter trazido de volta o meu lado dissimulado e amoral, mas foi necessário. Não podemos fingir que isso não faz parte do que sou. Nunca me pareceu problemático pagar algumas notas para me livrar da justiça, mas agora estou com medo. Não consigo pensar em uma reação positiva dela ao meu escutar contar sobre o café da manhã. Pior será quando tiver que assistir o seu olhar perder o brilho em relação a mim. Não sei qual a razão, mas acredito fielmente que dona Rosa está errada desta vez e que Emma não irá me entender.

Droga. Puta que pariu. Me sinto em pânico. O meu coração está sendo esmagado por uma situação que ainda não foi vivida. As minhas mãos estão geladas e o meu corpo não reage aos meus comandos. Não deveria ser tão difícil assim entrar em seu quarto e contar do suborno. Eu lutei tanto para ser digna do seu amor e tenho certeza que todo o meu esforço irá por água abaixo em poucos segundos.

Não, eu não sou exagerada. A minha intuição não falha. Por quê caralhos eu não fiz de outra maneira? Deveria ter outro jeito. Okay, não tinha. Nós sabemos muito bem que o meu fim seria a cadeia e Emma ficaria desprotegida. Ah meu caro, eu não sou a melhor pessoa do mundo, mas me importo tanto com a minha amada.

Demorou e muito, mas eu acabei entrando em seu quarto e respirando fundo para não chorar antecipado. Emma é tão perfeita, tão linda, tão "obra de arte"... O sorriso involuntário e melancólico já estava em meus lábios. Enquanto me aproximei, fiz inúmeras rezas com a intenção de ser compreendida. Eu realmente desejo vê-la me olhar apaixonada por toda uma eternidade e que isso nunca mude.

Enfim, me sentei na cama e lhe beijei com calma e doçura. Seria este um último beijo? Um beijo de despedida?! Espero que não. Eu não deveria estar tão nervosa, mas também não deveria ter tomado as decisões sozinha de algo que a envolve.

- O que foi, meu raio de sol? - Emma me perguntou logo após o fim do beijo.

Pelo visto não sei disfarçar as minhas expressões e muito menos os meus sentimentos.

Eu respirei fundo várias e várias vezes e tentei encontrar a coragem inexistente para lhe mostrar que tem coisas que nunca mudam. No fundo, no fundo, ainda iremos carregar um pedaço da nossa pior versão.

Ela ainda esperava uma resposta e eu ainda buscava a melhor palavra para dizer. Ah Emma: me de razão, mas não me dê escolha porque eu vou cometer o mesmo erro de novo.

- Eu preciso te contar uma coisa. - Eu disse e desviei o olhar. Talvez seja mais complicado do que parece.

- Por quê estas tão nervosa? O que houve? - Emma notou que havia algo errado. Ah meu caro, pelo visto ela me conhece como ninguém.

- A sua ex me denunciou.

- Quanto a isso não precisa se preocupar, eu posso dizer que ela é louca e que mentiu. Eu vou até a delegacia e digo que tu não me fizeste nada. - Ela disse tranquilamente e beijou a minha mão. - É só isso que está te deixando inquieta?

Eu respirei fundo e tentei não chorar. Agora é a hora em que a realidade baterá a nossa porta e nos quebrará por completo.

- Não será preciso me defender... - Eu tentei ter coragem de olhar em seus olhos apreensivos. - Eu subornei o delegado.

Foi uma questão de poucos segundos para eu vê-la se desapaixonar por mim. Todo o seu brilho sumiu e Emma enxergou todas as minhas versões.

- Você fez o que? - Ela soltou a minha mão que em outrora segurava com carinho. - Quanto?

- Eu só estava tentando afastar a sua ex e tudo que a envolvesse.

- Não foi isso que perguntei... quanto?
- a decepção era nítida em seu rosto.

- Duzentos mil reais.

E foi então que Emma compreendeu a nossa diferença. E foi então que eu compreendi que a minha vaidade a matou novamente. Eu estou confusa. Se algum verso fosse me descrever neste exato momento, seria aquele: eu me lembro das coisas certas que fiz errada.

- Eu pensei que você tinha mudado. - Ela disse em um tom choroso.

-E eu pensei que você amava tudo em mim, inclusive os meus defeitos.

Eu não vou pedir uma segunda chance. Pode ser apenas uma questão de tempo... pode ser que ela passe a me odiar... pode ser que eu esteja tentando ler os seus pensamentos. Pode ser tantas coisas... Okay; eu confesso que compreendo o meu erro.

Três batidas na porta.

- Com licença! Eu posso entrar? - A voz da Ruby se fez presente na pior hora.

- NÂO! - Eu explodi de raiva. - NA VERDADE, EU NEM SEI PORQUE VOCÊ AINDA CONTINUA VINDO. - Eu me levantei e a olhei com fúria. Agora sim eu irei perder o meu amor por completo.

- Não faz isso, Regina. Ela me faz bem e não quero que a mande embora. Não despeje o seu erro em outra pessoa. - Emma disse e então só me restou sair do quarto às pressas.

Mas não foi isso que fiz a vida toda (despejar os meus erros em um outro alguém)?

🌹

Eu fui para o meu escritório e desabei. Eu chorei como uma criança ferida. Eu chorei como um fanático que assiste o seu time perder o tão desejado titulo. Eu chorei como um amante desiludido. Eu chorei como se não houvesse um amanhã. Eu segurei o meu coração despedaçado e tentei engolir as minhas dores.

Não demorou para que a minha mãe se fizesse presente. Não deu tempo de dizer qualquer palavra. Dona Cora me abraçou e tentou não me julgar. Talvez já tenha chego em seus ouvidos o meu feito ou talvez seja apenas o seu sexto sentido. Ah meu caro, nem isso me fez se sentir segura e protegida.

- Eu não queria errar com ela, mãe! - Eu disse com sinceridade.

- Por quê você sempre tenta resolver as coisas do jeito errado? - Dona Cora ainda me abraçava com força, tentando me mostrar algo desconhecido por nós.
- Por quê você é tão impulsiva, minha filha?

- Porque eu a amo e não queria vê-la passar por estresse desgastantes novamente.

Eu tentei não pensar que enquanto minha mãe me consola, Emma é consolada por aquela idiota da Ruby. O ciúmes ainda iria me envenenar.

Por quê a vida tem que ser uma roda gigante fora do eixo? Por quê tem que machucar tanto? Eu não vou voltar atrás no meu feito, mas não quero perder a única pessoa que fui capaz de amar verdadeiramente. Eu não quero sentir do seu desamor. Droga.

Nós sabemos que eu não sei viver sem tê-la por perto. Será que terei que ver Emma sair da minha vida? Eu realmente não sei o que fazer para convencê-la que o meu amor ainda vale a pena e que as minhas qualidades são bem maiores e mais bonitas do que os meus erros desenfreados e imprudentes.

Ah que ódio. Eu não quero sentir essa vontade louca de beber e chorar enquanto escuto Adelle... e ao pensar nesta possibilidade, agradeço aos céus por ter a minha mãe ao meu lado, me segurando em seus braços e me impedindo de cometer mais algumas centenas de falhas.

Notas da autora:
Hoje é o aniversário de uma pessoa muito importante para mim, principalmente no meio da escrita. Te desejo tudo que tem de mais bonito nessa vida. Obrigada por sempre me escutar e pelos conselhos. E por ser uma leitora tão fiel às minhas fanfics. Feliz aniversário srtabrooke. 🌹❤️