Eu, você e o acaso

Capítulo 10 - Conversando com Júlia

Pov Rebeca

Depois de sair da sorveteria onde passei mais de uma hora conversando bobagens com Lara, segui para casa ao seu lado, o que por sinal acabou servindo para me fazer descobrir que não era tão longe da dela, apenas três quadras de distância para ser mais exata. Ela me disse que saia pouco, por isso nunca nos esbarramos pelas calçadas, nem mesmo os vizinhos ela sabia quem eram, e pelo pouco tempo que estou tentando um contato maior com ela, tenho certeza de que isso não é nenhum exagero.

Ao chegar em casa percebo que meus pais não estavam, o que não era nenhuma novidade já que eles quase nunca param em casa. Meus pais são donos de uma academia renomada no centro da cidade. Meu pai é personal e professor de educação física, mas quando mais novo, sua vida era praticar corrida, assim como eu no revezamento. Ele amava o que fazia e chegou a ganhar várias competições, o que lhe rendeu muitas medalhas e troféus, mas após sofrer uma fratura grave em um dos joelhos, mesmo contra vontade foi obrigado a se afastar das pistas. Hoje ele dá aulas algumas vezes por semana na academia, tomando assim praticamente seu tempo o dia inteiro. Por sua vez, minha mãe é ligada diretamente com a área administrativa da academia ficando sob sua responsabilidade cuidar de todas as burocracias chatas, mas assim como meu pai, ela já teve seus momentos no mundo do esporte, porém esses ficaram somente no período de escola. Os dois estão juntos a mais de 20 anos, e juntos são a mais bela dupla que já vi. Comigo e minha irmã, eles são bastante exigentes, na mesma proporção que são encorajadores. Exigem de nós porque dizem que enxergam um grande potencial em nós duas. Não que eles nos forcem a fazer qualquer coisa, mas está claro que depositam muitas expectativas. Costumam dizer que esportes salvam vidas e que também exigem disciplina e comprometimento, por tanto se for para fazer é necessário fazer seguindo à risca esses dois conceitos.

Com o passar do tempo Júlia se apaixonou de verdade pela ginástica, tanto que hoje em dia ela já não se imagina fazendo uma coisa diferente no futuro. Já eu... Bom, eu gosto, mas não sei se é isso que quero fazer para o resto da minha vida. O grande paradoxo é que a vida pode ser tão longa, mas passa tão depressa. Porém é complicado tomar uma decisão quando vejo os olhos do meu pai brilharem ao dizer que ver potencial em mim. Eu só não queria decepcioná-lo.

Afastei os pensamentos sobre meus pais e de repente fui tomada pela lembrança da tarde que tive ao lado de Lara. Tenho que admitir... O que mais admiro em Lara, é que mesmo sendo um poço de drama, ela também tem uma leveza muito grande de se viver. Além de ser determinada, sabe o que quer fazer, o que gosta de verdade e corre atrás disso. Suas loucuras me ensinam coisas que eu nem sabia que precisava aprender. Ri sozinha ao constatar isso.

– Você chegou tarde hoje. – Júlia falou me assustando. Nem percebi que estava ali me olhando com uma expressão curiosa. – E está toda sorridente. O que aconteceu? –Completou perguntando sem ocultar a curiosidade.

– Não foi nada, só me lembrei de uma piada. – Tentei mudar de assunto e afirmei com seriedade.

– Desde quando você gosta de piadas? – Júlia não parecia convencida.

– Desde quando preciso dar explicação?

– Eita, tudo bem então. – Minha irmã ergue as mãos em redenção. – Você muda de humor muito fácil, Beca. Relaxa um pouco. – Respondeu voltando se esticar novamente no sofá onde estava. – Como foi o treino de hoje? Os fãs da Lara deixaram ela treinar em paz? – Falou rindo. – O nome dela era só o que se escutava em todos os quatro cantos da escola hoje. – Completou.

– Muito bom você ter tocado nesse assunto. – Falei me sentando na poltrona de frente para ela.

– Qual o problema? – Perguntou confusa.