Capítulo 15 - Confusões x trilha x carta

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Pov Lara

A noite não tinha uma das melhores. Todos os meus pensamentos me levavam a mesma pessoa: Rebeca! Não dava para simplesmente fingir que nada aconteceu. Não foi apenas um esbarro aleatório daqueles que acontece na rua com algum desconhecido, o nosso tinha algo a mais, algo que quase nos levou a um beijo, e isso era algo que eu não sabia explicar como e porque tinha acontecido.

Toda a tensão que se formou entre os nossos corpos, respiração ofegante, olhares oscilando entre confusão e desejo, e uma sensação de que tudo ao nosso redor tinha parado naquele instante, foi algo novo e desconhecido para mim, quase beirando a um sentimento especial. Nossos olhares se cruzando como se uma conseguisse enxergar o que a outra estava sentindo, foi algo que me deixou completamente sem ação. Por mais que eu sempre tivesse sido apaixonada por Júlia, eu nunca tinha sentido algo parecido com aquilo. Nem mesmo quando ela vinha andando em minha direção com aquele costumeiro sorriso contagiante.

Depois que expliquei para Bruna o que tinha acontecido, virei para o lado na tentativa de dormir. Contudo, estava difícil. Antes de pegar no sono, fiquei pensando a respeito no que a ratazana da minha amiga tinha dito sobre possivelmente se ela não tivesse chegado ter rolado um beijo entre Rebeca e eu. Pensar nessa possibilidade chegava a ser insano demais. Eu não podia me iludir a esse ponto. Se uma já me enlouquecia, duas então... Ainda mais que Rebeca e Júlia eram irmãs. "O que eu estava fazendo da minha vida? Tudo bem que jovem só faz merda, mas a esse ponto já é demais, Lara. Sua relação com Rebeca sempre foi de colegas de treino. Pelo amor de Deus, ela está se tornando sua amiga, é sua treinadora! Não deixa a louca da Bruna te pirar na batatinha". Repetir tudo aquilo para mim mesma soava como um mantra, um treinamento para não cair em um abismo. Eu só não sabia dizer se daria certo.

Demorei um pouco conseguir dormir, mas me rendi ao cansaço do dia, embora durante o decorrer tivesse tido um sono inquieto a ponto de acordar diversas vezes.

Na manhã seguinte

Aquele era nosso segundo dia de acampamento, e quase surtei quando meus ouvidos sensíveis foram surpreendidos as seis horas da manhã pelo o barulho desrespeitoso do apito do professor Anderson. Pelo amor de Deus, quem acorda às seis da manhã com aquela indelicadeza? Esse homem precisava de um tratamento psicológico com urgência.

Meus olhos ardiam, meus ouvidos zumbiam, e a minha disposição para levantar era de 0,0.

– VAMOS GALERA, LEVANTEM-SE!! VOCÊS SÃO MUITO MOLENGAS. VERDE É O QUÊ? É VIDA! VAMOS APROVEITAR ESSE PARAISO AQUI.

Com uma empolgação filha da mãe, meus professores gritavam fazendo mais barulho do que todos nós juntos quando estávamos em sala de aula. Aliás, eu tinha a teoria que eles estavam se aproveitando para descontar todas as raivas que fazíamos eles passarem nos últimos três anos.

Olhei para o lado e revirei os olhos. Cutuquei Bruna que dormia estranhamente de bunda empinada para cima. Do jeito que é nanica ficou parecendo uma minhoca se preparando para andar.

– Acorda, coisa estranha. Daqui a pouco eles vem buzinar aqui dentro da barraca achando que o barulho que estão fazendo lá fora é insuficiente.

Tentei acordar Bruna, mas as vezes eu esquecia que minha amiga tinha parte com a Bela adormecida. Bruna tem um sono tão pesado, que eu tenho certeza que se ela estivesse sozinha na barraca, não acordaria nem com dez apitos buzinando em seu ouvido.

– Sai mãe. Não foi eu quem comeu o queijo de madrugada, foi o cachorro.

Falou Bruna com a voz arrastada e tombando aquela mini bunda para o lado se acomodando para melhor apreciar seu sono. "Até em sonho essa ratazana assalta a geladeira a noite para comer queijo?" Sorri com divertimento, pois eu sabia que aquilo não era apenas um sonho. Sempre que ia dormir lá em casa, ela passa boa parte da madrugada sumida, e quando vou na cozinha percebo só a luz da geladeira iluminando o lugar, quando a chamo ela me olha com a boca cheia parecendo um o Teodoro do Alvin e os esquilos.

Eu, você e o acasoOnde histórias criam vida. Descubra agora