Capítulo 36 - Don Juan

60 9 0
                                    


Pov Rebeca

Essa pressão no começo de jogos sempre acaba comigo, mesmo que eu sempre escute de todo mundo coisas como: "você vence essa fácil" ou então "você venceria até com um pé só". Apesar de tantos incentivos, eu sempre fico assim, com uma mistura louca de ansiedade e insegurança.

Revezamento é um tipo de modalidade muito inconstante, quem começa em primeiro às vezes facilmente pode chegar em último, ou então pode ter os famosos "azarões", que são os que ninguém da nada por eles no começo e quando chega perto da linha de chegada eles viram a corrida e ganham no último minuto salvando toda a equipe.

Por esse motivo eu nunca vou chegar em uma corrida com paz de espírito. Eu posso ajudar os outros a se acalmarem, porém se tratando de mim o buraco é mais embaixo. Não me lembro ao certo quando foi que correr começou a me despedaçar tanto.

No momento eu me encontrava largada no sofá depois de ter patinado sem rumo e sem destino por mais de 1 hora tentando aliviar meu estresse e me convencer de que estava tudo tranquilo para os próximos dias. Minha irmã estava na cozinha tentando fazer algo descente para comer, mas como Júlia mal sabe preparar um miojo sem passar do ponto, duvido muito que saia alguma coisa dali. Contudo, o que me chamou atenção é saber que ela só inventa essas coisas quando está meio para baixo. Diz ela que ser horrível na cozinha a distrai do fato de ser pior ainda em outras coisas.

Ao que parecia Júlia tinha conversado com Melissa e se abriu para a garota, mas o resultado não foi exatamente como ela esperava. Desde esse dia que ela anda borocoxo pelos quatros cantos da casa e tenta intoxicar todo mundo cozinhando.

Não demorou muito e escutei o barulho do nosso portão se abrindo e logo depois fechando, sinalizando que meus pais haviam chegado. Meu pai foi o primeiro ao passar pela porta ainda extremamente animado.

– Oi, oi, onde estão minhas amoras?

– Amora 02, presente. – Respondi ainda largada olhando para o teto.

– 01 AQUI. – Ouvi Júlia berrando da cozinha.

Desde que eu e Júlia éramos pequenas que meu pai sempre teve esse "comprimento" peculiar e até hoje sempre que chega em casa pergunta onde estão suas amoras e a gente ainda tem que responder; Júlia é amora 01, porque é a mais velha e eu sou a 02 por ser a mais nova. Eu sei que é um tanto infantil, mas eu e Júlia não temos coragem de dizer para ele parar, e também tenho que admitir que nos traz muitas memórias legais e uma nostalgia gostosa. Seria a coisa mais estranha do mundo se hoje ele chegasse e não procurasse por nós duas assim.

– Oi, filha! – Minha mãe que passou por mim depositou um beijo no topo da minha cabeça.

– Oi, mãe! — Respondi e a vi seguir em direção a cozinha.

– Ei campeã, o que está fazendo? – Meu pai perguntou se jogando no outro sofá e ficando na mesma posição que eu estava.

– Nada de especial, só pensando nas coisas que a vida te dá e o mundo quer tirar só para te devolver infinitamente quebrado como ele quer que você seja.

– Eita, como essa minha filha é intensa. Quantos anos tem mesmo? 42? – Perguntou rindo debochado, lhe mostrei a língua e ele devolveu fazendo careta.

– Querida o mundo não é tão ruim assim, as pessoas que são. O mundo foi e sempre vai ser do mesmo jeito, o problema é que pessoas quebradas sempre querem ter a quem culpar, quando muitas vezes outras pessoas tão quebradas quanto elas foram as verdadeiras culpadas por seu inferno pessoal. – Falou brando me olhando. Fez uma pequena pausa, voltou a encarar o teto como eu estava fazendo assim que eles chegaram e continuou. – Elas colocam a culpa no mundo por um problema que não conseguem resolver. Para haver mudança no mundo é necessário que você mude primeiro, ele não tem como mudar sozinho. Certo?

Eu, você e o acasoOnde histórias criam vida. Descubra agora