Eu, você e o acaso

Capítulo 23 - Um segredo revelado

Pov Júlia

Duas semanas depois da viagem

Já havia se passado alguns dias que tínhamos chegado do acampamento. Após termos encontrado Lara e Rebeca no início da manhã seguinte, os professores tinham determinado que definitivamente era hora de voltarmos. Lara precisava de cuidados com seu pé que estava bem machucado... Roxo e inchado, o que causou preocupação em todos.

Naquele momento apesar de aliviada por ter encontrado as duas desmioladas, eu estava bastante chateada com Rebeca. Minha irmã sempre foi muito impulsiva, mas daquela vez ela tinha extrapolado todos os limites. Não tinha pensado nas consequências do seu ato, e claro que teria problemas em casa quando nossos pais fossem informados pela direção sobre o que havia acontecido. Contudo, minha maior chateação foi a briga que tivemos em público. A maneira como Rebeca falou comigo, a forma como me jogou na cara que eu não era sua mãe... Poxa, eu só estava preocupada com ela, mas isso foi inorado completamento por minha irmã.

Não dava nem para acreditar que tudo aquilo tinha acontecido parcialmente por culpa do professor Anderson. Quem em sã consciência leva um coelho para um lugar como aquele? Tudo bem que Lara tinha sido levemente tão inconsequente quanto Rebeca, mas era de se esperar que qualquer um de nós nos encantássemos com o bichinho e se tratando de Lara, claro que ela faria de tudo para pegá-lo.

Quando Anderson viu o Bartozinho nos braços de Lara, ele praticamente se jogou nos pés da garota. Eu não sei exatamente dizer se ele agradecia por ela ter encontrado o animal, ou brigava pelo o que ele classificou como irresponsabilidade da garota. Por fim, ficou os dois brigando pela guarda do Bartolomeu. Lara jurava que agora tinha direito pelo menos a uma guarda compartilhada, já que de alguma forma ela se sentia mãe do coelho. Tudo aquilo só me fazia chegar a uma conclusão... Aquele povo eram loucos.

Depois que voltamos os últimos dias estavam meio estranhos. Minha irmã estava indiferente comigo desde que brigamos no acampamento. Para falar a verdade eu já tinha notado que ela andava meio irritada esses dias e um pouco mais retraída do que o normal. Isso pelo menos quando ela não estava viajando em pensamentos que a fazia rir bobamente.

Eu até conseguia entender sua revolta. Como eu já imaginava que aconteceria, nossos pais deixaram Beca de castigo por uma semana por ela ter sido irresponsável na viagem quando preferiu entrar sozinha na mata sem se importar com o cair da noite e os perigos daquele lugar. Ela não considerou que poderia se perder também e só aumentar o problema que já não estava fácil.

Como castigo Beca agora só pode sair para escola e depois voltar direto para casa, como se fosse uma criança aprendendo uma dura lição. Apesar dos nossos pais terem achado a atitude da minha irmã extremamente corajosa, isso não diminui o fato dela ter colocado a si mesma em risco, e isso para eles eram algo intolerável. Eu ainda conseguia lembrar da mamãe conversando com ela, e quando digo isso era somente ela falando e Rebeca apenas ouvindo sem dizer uma só palavra: "É preciso saber dosar até a coragem às vezes, porque esse tipo de coragem pode ser muito perigoso. Seu pai e eu confiamos em você e em sua irmã, vocês nunca nos deram motivos para ser do contrário. Beca eu sei que você achou que poderia ajudar a garota, filha. E você ajudou, mas e se tivesse dado errado e algo acontecesse com você? Estamos fazendo isso por que te amos muito, e precisamos que você aprenda sobre o significado das consequências que atos impensados trazem para nossa vida."

Confesso que na hora que percebi que ela havia fugido, eu achei que fosse infartar, de tão desesperada que fiquei enquanto procurava por ela, mas a ideia de deixá-la de castigo me pareceu demais; ela tinha errado sim, mas já tinha sido por uma boa causa, e graças a Deus, elas estavam bem.