Capítulo 13 - Confusão e canção

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Pov Lara

Ao longo do dia as coisas não foram tediosas como achei que seriam, foram até legalzinha, na verdade, mas eu não confessaria para Bruna, para ela não ficar mais metida. A noite já havia chegado e os meninos estavam preparando as coisas para fazer uma enorme fogueira marcando o início daquela algazarra. Não entendo nada dessas coisas então me finjo de pinguim de Madagascar, só sorrio e aceito o que fizerem sem mexer um mindinho para ajudar pegar a lenha. Sou frígio demais para esse trabalho bruto. Quem quiser pode me chamar de rata de cidade, não me importo. Nunca gostei muito de mato, mas é claro que eu me esforçaria para aproveitar e não seria a chata que ficaria reclamando o tempo todo "Aí quanto mosquitos", " Oh my God, que água suja! Vocês tomam banho ai? Aqui não tem chuveiro? Que saudade da civilização" ou então " Vocês não estão achando que eu vou dormir dentro desse saco, não é?" Estava falando tudo isso sozinha fazendo uma voz afetada, careta e gesticulando com as mãos. Quando olhei para o lado vi o motorista do ônibus que tinha nos levado, parado me olhando intrigado. O encarei de volta paralisada exatamente na posição em que estava, ou seja, fazendo uma careta ridícula, mãos para o alto e de boca aberta. Não era como se eu quisesse ficar sendo observada daquela forma, mas fiquei tão nervosa que paralisei. Não sei exatamente por quanto tempo ficamos ali naquele contato visual, mas me pareceu uma eternidade.

– Meu Deus, tão nova e já sofrendo de problemas mentais. Isso é o que dar essa juventude pervertia que só querem saber de drogas. Todo mundo perdido nessa geração de hoje.

Estreitei os olhos enquanto minha mente organizava o que ele tinha tido, só então compreendi.

– Espera... O senhor está me chamando de drogada? – Abri a boca me sentindo desacreditada com aquela ofensa gratuita.

– Euuuu? – Ele colocou as mãos no peito parecendo afetado. – Eu não disse nada. Você está ouvindo coisas. – Ele não esperou que eu revidasse. Voltou a andar em direção aonde estava os professores, mas pude ouvi-lo resmungando revoltado. – Na minha época tínhamos mais juízo. É um bando de adolescente desmiolado...

Não consegui mais escutá-lo, só conseguia o olhar chocada enquanto assistia ele afastando.

Logo voltei a falar sozinha:

– Que ótimo, Lara. Já está arrumando um jeitinho de colocar seu nome no livro dos desgraciosos dessa escola. Será possível que você não pode ser menos esquisita, sua jumenta?

Conclui sozinha enquanto olhava de um lado para o outro para me certificar de que não havia mais ninguém ali por perto e me vi agradecida quando notei que a maioria estava perto da fogueira que agora já queimava com labaredas altas.

Antes de me juntar aquele bando de desordenado, resolvi ir até a barrica que eu dividiria com Bruna para passar meu repelente e garantir que não passaria a noite me estapeando na tentativa inútil de me livrar dos muitos insetos que desejariam meu sangue naquela noite.

Ao chegar na barraca, entrei e logo comecei espalhar o repelente por todo meu corpo. Como não achei suficiente, procurei em minha mochila uma calça moletom que havia trazido para me salvar. Eu disse que não iria reclamar, mas é impossível, os mosquitos estavam me sugando como se eu fosse o último corpinho com sangue da face da terra.

Após garantir que estava agasalhada o suficiente para sobreviver a primeira noite, segui rumo a fogueira, onde por sinal estava uma gritaria ensurdecedora. Eu fiquei sem entender o que estava acontecendo, só sei que de todos ali presentes, a voz de Bruna se sobressaia do tanto que ela gritava. Quanto mais perto eu chegava, mais era possível notar o rosto da minha amiga vermelho igual um pimentão. Sua expressão assassina estava de dar medo. Oh garota encrenqueira, meu pai amado.

Eu, você e o acasoOnde histórias criam vida. Descubra agora