Sociedade da Lua

Capítulo 17

Eu percebi que a alegria não está em seus braços

Eu sei que sempre sentirei a dor do meu coração vazio

Acho que é hora de fugir porque estou vendo estrelas

Estou vendo estrelas, veja-me caindo

Eu penso em morrer o tempo todo

Mas eu tenho a alegria ao meu lado

O medo é o meu brinquedo favorito- joy Ellie goulding

Acordei e senti meus olhos ardendo. Foi difícil abri-los, tanto pelas lágrimas secas quanto pela claridade que entrava pela janela do meu novo dormitório.

Espera aí, novo dormitório?

Assim que meu cérebro entendeu que já era de manhã, me levantei da cama em um pulo, fui até a porta e olhei pra fora do quarto. Corredor vazio, paredes brancas ao invés de beges. Voltei para dentro e vi uma cama espaçosa, cortinas na janela, uma mesa de cabeceira branca, com um vaso de flores também branco em cima, tudo no quarto é impossivelmente branco, o único ponto de cor são as flores de Agapanto no vasinho ao lado da cama. Assim que vejo as flores, meu estomago se aperta, meu coração dói e meus olhos marejam.

Jabari

"...não pode ficar deprimida na cama como fez com Danso. E eu preciso que me prometa, pois isso é muito importante. Você promete bonita?"

- Ah bonito, mal acordei e já está impossível de cumprir essa promessa.

Volto a me sentar na cama, encolho as pernas em cima do colchão, as abraço ficando em posição fetal, e encosto a cabeça nos joelhos. Tento respirar calmamente, segurar o choro que já escorre farto por meu rosto, mas parece uma tarefa Hercúlea. Perco a noção do tempo nessa posição, até que sinto o colchão afundando ao meu lado. Ergo a cabeça e vejo Kareem ao meu lado. Mordo meu lábio inferior para segurar o soluço que tenta sair, e acabo me jogando em seus braços.

- Eu sei que dói baixinha, mas você prometeu. Você tem vinte minutos para se recompor e trocar de roupa, nós estamos saindo desse quarto.

Fiquei com minha cabeça encostada em seu peito por mais alguns instantes, mas no fim me levanto, vou até meu armário branco no canto do cômodo, tiro de lá algumas peças de roupa, já não me importo com o que tem ali, todas as cores desbotaram para mim.

Sigo até o banheiro, me troco sem me olhar no espelho. Lavo meu rosto, e faço o que tenho que fazer. Quando já estou pronta, volto para o quarto, calço sapatos e vou para a porta sem esperar por Kareem. Não quero ser fria com ele, mas não posso evitar. Sinto como se mais um pedaço meu tivesse sido roubado, uma parte muito essencial minha.

Sigo nesse ritmo por pelo menos duas semanas que é o tempo que tenho de descanso antes de começar o novo ciclo. Kareem respeita meu silêncio, não me força a conversar em momento algum, acho até que deve estar aliviado porque finalmente em um momento eu não estou tagarelando em sua mente. Mas o interessante é que no quarto nível ele quase não tinha tempo para me acompanhar, e agora está ao meu lado quase cem por cento do tempo. Infelizmente nem essa constatação é capaz de me trazer qualquer reação.

Vou até mestre Daraja para descobrir meu novo programa, e a lista compacta me traz mais aflição do que alívio. Menos sessões significam mais tempo para pensar em quem está ausente. Saio de sua sala sem nem ao menos fazer qualquer pergunta, não me importo realmente. A comida perdeu o sabor, as cores estão desbotadas, e meu ânimo é zero.

Vou direto para o lago de Kareem, assim que saio do pavilhão regencial, usando um TEM. Chegando lá me sento no mesmo lugar onde Jabari costumava se sentar: na pedra gigante que fica apoiada na beira do lago. Só preciso de um pouco de silêncio para me preparar para amanhã. Preciso dar meu melhor no último nível, porque prometi a Jabari que seria assim, enquanto ele prometeu que me esperaria do lado de fora. Mesmo que me custe prestar atenção em qualquer coisa que não seja a dor esmagadora dentro de mim. Sinto como se estivesse presa dentro de mim mesma, a sensação é de estar sacudindo as grades da minha mente, enquanto olho para mim mesma do lado de fora. Uma presa e insana, e a outra impessoal e fria.