Capítulo 56

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Oh, o motivo pelo qual eu insisto
Oh, porque preciso que este vazio desapareça
É engraçado, você é quem está destruído
Mas eu sou a única que precisava ser salva
Porque quando você nunca vê a luz
É difícil saber qual de nós está desabando- Stay, Rihana

Ayla

Acordei mesmo só depois de doze dias de cio. Deixei todo mundo exausto e drenado. Demorei muitos dias para engravidar e isso prolongou meu cio além de qualquer capacidade. Finalmente estava com o bebê de Caius no meu ventre e isso me dava uma sensação de paz, dever cumprido. Como se finalmente o planeta girasse na direção certa.

Infelizmente minha alegria ficou embotada por toda a desgraça que se abateu em nossa casa.

***

Dois dias após meu cio passar recebi a visita de autoridades de casta. Nem sabia que isso existia, descobri naquele dia. Junto deles estava Zoya. Vê-la no estado mais deplorável me causou um susto. Ela estava além de qualquer expectativa minha, uma sombra de quem já tinha sido. Era triste ver como estava abatida e parecia que a qualquer momento seus ossos se partiriam. Ela andava apoiada em um de seus companheiros, mas não lembrava mais seu nome. Ele também estava muito debilitado, não tanto quanto ela, mas o sofrimento também deixou marcas naquele homem.

- O que está acontecendo?

- Olá Ayla, sentiu saudades de mim?

- Zoya, o que você faz na minha casa?

- Não vai nem ao menos me convidar para uma refeição? Eu te convidei.

-...

- Viemos resolver nossas pendencias com sua matilha menina estúpida. Mas vejo que seu Alfa não lhe contou.

- Eu pensei que teríamos mais tempo. Ayla acabou de passar por um cio muito extenso, isso abalou todos nós. Não tive como atualizá-la, e gostaria de solicitar...

-NÃO! JÁ BASTA DE SOLICITAÇÕES E ADIAMENTOS! Enquanto vocês estão vivendo, procriando e sendo a familinha feliz e nojenta, EU ESTOU SEM MEU ALEV!

- O que ela quis dizer com isso?

- Vida, eu sinto muito...

Olhei em volta e todos os meus consortes de repente ficaram ao meu redor, como que tentando me proteger. Zoya passou por mim, me empurrando para fora de seu caminho, entrando em minha casa sem ser convidada. As autoridades a seguiram, e foi com pânico que ouvi ela dizendo:

- Procurem a criança.

- Zoya, o que você quer com minha filha?

-...

Kareem veio do subsolo com Zoe no colo. Nossa amada filha quietinha, com a cabeça apoiada no peito do pai espelhava a confusão do meu rosto. Quando me viu esticou os bracinhos para que eu a pegasse e foi o que fiz. Beijei seus cabelos e a abracei apertado tentando mantê-la comigo.

Um dos homens que acompanhavam Zoya e fazia parte da autoridade de casta se aproximou de Zoe e pediu para passar uma haste na bochecha dela. Eu deixei mesmo que meus instintos gritassem para que eu fugisse dali.

Era um teste sigma, e pelo resultado Zoe era sigma nulo. Kareem se agarrou a nós duas, e começou a chorar profusamente. O guarda então tirou do bolso do casaco um papel e leu em voz alta:

"Mediante resultado positivo para fator sigma, seja ele ativo ou inativo, fica decretado que a criança passe a ser responsabilidades da ômega Zoya, e por tanto ficará sob seus cuidados até a maioridade. Caso o resultado seja negativo, isso representa um sigma nulo, e então a criança deverá ser sacrificada, conforme decidido em juízo..."

A voz retumbante silencia a minha volta e eu escuto um grito de agonia antes de desabar sob meus joelhos. Acho que o grito foi meu, mas não tenho certeza. Não tenho certeza de nada agora porque acabei de descobrir que minha filhinha tão querida será sacrificada.

- NÃO!

- Senhora precisamos levar a criança, se não nos der pegaremos a força.

Meus companheiros tentam nos ajudar, mas rapidamente são contidos pelas autoridades. Todos rosnam, os que chegaram e os meus. Tudo fica um caos e eu tento fugir, mas já é tarde, e sou impedida também. Beijo minha filinha com todo meu amor, seguro ela junto do meu peito, grito e esperneio, não posso deixar que a levem de mim!

- NÃAO! ME SOLTEM, NÃO MINHA FILHA, NÃO!

Meus gritos são ignorados, arrancam Zoe dos meus braços e eu só posso ver seus olhinhos marejados e seus bracinhos estendidos. Ela chora por se afastar de nós, esperneia e chama por mim.

- Mãmãmã

- Por favor Zoya não faça isso, ela é apenas uma criança.- eu imploro a ela, mas sua expressão é vazia. Não importa o quanto eu esteja ajoelhada, chorando e gritando, tentando segurar em suas pernas. Ela me ignora.

- Você não pensou nisso quando convenceu meu Alev a ir até aquela emboscada.

- Eu tentei protege-lo, eu juro Zoya!

- Não, você só deu munição para aquela monstruosidade executar os planos dela. Assim que você disse que um ômega poderia morrer sem seu primeiro elo, era tudo o que ela precisava para usar a vida do meu Alev como barganha.

Sua voz esta arranhada e escorrem lágrimas de seus olhos também, seu companheiro precisa a apoiar melhor para que ela não seda nos próprios pés.

- Eu não terei misericórdia de você, eu quero que você sinta pelo menos uma fração de toda a dor, desgraça e sofrimento que eu tenho sentido há um ano!

- Não, leve a mim por favor, não mate ela. É contra mim que você tem algo, ela é inocente. Por favor. Zoya! Zoya!

Ela vira as costas para mim e sai pela porta. Eu grito e imploro, mas ela não gasta mais nenhum segundo comigo, ela quer ver a execução.

Vou junto, como uma louca masoquista, tentando apelar para o bom senso de qualquer um que esteja ali. Olho em volta e meus consortes estão todos amarrados e contidos. Kareem está desmaiado, ao que parece foi sedado ainda em forma de lobo.

Em um último ato desesperado me desvencilho de meus carrascos e me transformo. Avanço no pescoço de um guarda, depois no outro, alcanço Zoya e a empurro com minhas patas, consigo morder sua face antes de ser contida, mas é tarde demais. Escuto um grito agoniado e encontro minha filha olhando e implorando em lágrimas por mim, e em seguida o guarda lhe corta a cabeça.

NÃAAAAAO!

Sociedade da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora