Sociedade da Lua

Capítulo 44

Seja o que for que sinta por você

Você parece só se importar com você mesmo

Há alguma chance que você possa me ver também?

Pois eu te amo

Há alguma coisa que eu possa fazer

Só para ter um pouco da tua atenção?

No decorrer das ondas perdi todos os teus vestígios

Oh, onde está você? I love you- woodkid

Uma semana trancada na embaixada delta na província e eu estava a ponto de um surto. Estavam me tratando obviamente muito bem, mas estar longe dos meus companheiros, exposta e vulnerável, com um bebê prestes a sair do ventre, era com certeza um tipo de situação que mulher alguma gostaria de vivenciar.

Sabia que a notícia do sequestro já estava em todos os canais de comunicação de todas as castas, e a exigência dos sequestradores era amplamente discutida pelas mais diversas pessoas. O que mais foi chocante foi descobrir que a província não era nada daquilo que eu vi quando cheguei. Aquele era o distrito primário, e era mantido daquela forma para esconder das castas o verdadeiro progresso que os provincianos haviam alcançado. Não havia miséria como eles faziam todos nós acreditar, na verdade eram todos muito prósperos, havia muitas mulheres e aqui elas eram completamente diferentes das castas.

Mulheres eram as figuras de poder na Província. Eram as mulheres que saíam para conseguir o sustento de suas famílias e de si próprias na falta de uma. Por crescerem cientes de sua infertilidade, elas não ansiavam a maternidade, gastavam seu tempo e energia em busca de melhorarem suas vidas e terem sucesso profissional. Inclusive era muito comum ter mulheres solteiras e independentes, ou se relacionando entre si, já que o número de homens era bem inferior.

Quando um homem queria constituir família era muito difícil conseguir, pois as mulheres estavam muito mais interessadas e focadas em suas carreiras profissionais, então era muito comum existirem pais solo, que adotavam os bebês vindos das castas, muitas vezes meninas sigmas nulo. Os homens cuidavam de suas filhas com muito carinho e dedicação, tinham licença paternidade estendida para o caso de não terem o apoio de uma companheira, e depois retornavam a sua função normalmente, ou muitos nem voltavam já que crianças demandam muito tempo e atenção e não havia uma real necessidade de mão de obra no mercado.

Assim como nas castas, as pessoas exercem suas profissões para uso e fruto de seus semelhantes, mas aqui além disso tinha muito status social envolvido, e o sucesso profissional se media pelo status social. Quanto mais status mais bem sucedido e vice e versa.

Mantive contato com meus companheiros diariamente, eles estavam muito preocupados comigo e o bebê e eu tentava os acalmar e atualizar o máximo possível. O tempo e a distância estavam agindo como combustível para os deixar tensos, e a mim também claro, mas tentávamos manter a calma e a cabeça no lugar.

Consegui fazer uma certa amizade com Lumumba e Lutalo, o segundo sendo muito mais acessível do que o primeiro. Lutalo vinha frequentemente ao meu encontro, principalmente nos horários de refeição. Lumumba e Dandara resolveram soltar os funcionários da Embaixada, pois não precisava de todos para fazer suas ameaças. Mantiveram alguns funcionários para fazerem funções operacionais como limpeza e preparo de alimento, mas ao todo éramos pouco mais de vinte pessoas, contando com a equipe de Dandara e os poucos funcionários da embaixada.

A primeira vez que conversei propriamente dito com Lutalo foi dois dias após minha chegada. Estava no quarto olhando pela janela e falando com meus companheiros, tentando os acalmar e acalmar a mim ao mesmo tempo, ele deu duas batidinhas na porta e pediu licença para entrar. Falou comigo sobre a comida que estava para ser servida e eu senti meu bebê se mexendo. Acredito que ele tenha notado o movimento pois ficou muito emocionado e pediu para tocar minha barriga.