Capítulo 21/ Parte II

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Ninguém sabe como é
Ser o homem mau
Ser o homem triste
Por trás de olhos azuis

Ninguém sabe como é
Ser odiado
Ser destinado
A contar apenas mentiras

Behind blue eyes- Limp Bizkit

Entro no banheiro, tiro minha roupa e vejo meu reflexo no espelho. Meu rosto está concavo, meus olhos estão fundos, meus cabelos estão tão ralos que voltei a raspá-los, meus ossos todos proeminentes. Ligo a ducha e me sento no chão. Não tenho condições sequer de encher a banheira. Fico lá até sentir braços me envolvendo, e me enrolando em algo macio. Depois meu corpo é depositado no centro da cama. Não posso abrir os olhos, até isso me custa. Cada respiração me é difícil.

- Perdoa magrelinha, não faço mais isso. Você está certa. Somos todos seus. – Ouço a voz de Kareem na minha frente. Não me movo, tudo dói. Sinto um aroma diferente, algo como limão siciliano e cedro, e então sinto o colchão afundando, e uma presença em minhas costas. Uma grande mão toca em meus ombros e me puxa para virar em sua direção. Kareem me ajuda a fazer o movimento, pois há pouca força em mim. Deito-me no peito musculoso e sinto uma barba macia roçar minha testa. Em seguida ouço a voz rouca e profunda da razão da minha loucura, dizendo:

- Peste de menina teimosa. Por que não me deixou quieto no meu canto? Tinha que reacender esse sentimento?

- Caius...

- Shhhhhh, fique quieta e aproveite meu calor, você está gelada como um cadáver, e tem a aparência de um. Eu sou seu, chorona, sempre fui. Desculpe se fui cego e burro. Não vou mais lutar com isso tá? Mas não desiste por favor. Continua aqui com a gente. Sem você ficamos perdidos.

- Quem ouve essa fala mansa, nem suspeita que quase precisei arrastar essa cópia barata de Tarzan pelos cabelos até aqui...- diz Kareem com falso tom de raiva.

Sorrio fracamente, finalmente estou no meu lar.

Caius

Abraçar Ayla tão magra e frágil me traz uma sensação ambígua. Constatar que eu lutei tanto tempo para não me entregar a essa relação para no fim sucumbir acho que é a pior sensação que eu poderia ter nesse momento. Olhando para Kareem abraçado as costas dela, eu fico com raiva, por ele ser tão fraco e deixar que ela se levasse ao limite, e de mim por não ter sucumbido antes. Dói em meu peito que eu estou deixando o sentimento por Maalik ir embora e o estou substituindo.

***

Os minutos correm, a respiração de Ayla fica estável, e eu olho para seu rosto com tantas marcas de sofrimento, dormindo pacificamente e finalmente em paz. Um sentimento de posse e proteção, mais forte do que qualquer outro sentimento vem à tona em mim. Como pude ser tão cego e egoísta? Pela lua, eu quase a perdi!

Lembro que a única vez que senti algo assim, foi quando nos conhecemos.

Maktub

A voz do meu lobo interior reverbera em minha mente. Sim, tinha que acontecer, nós dois já estava escrito.

Todas as dúvidas e medos, ainda estão aqui, mas agora uma força poderosa me dá coragem para seguir com Ayla e responder cada uma delas. Por mais que eu tenha me afeiçoado a Maalik, nada que nós vivemos se compara com isso que estou sentindo agora. Com Ayla o sentimento é profundo e verdadeiro, e eu quero que cresça, só agora me dei conta disso.

Preciso fazer esse sentimento florescer pois não poderei mais viver sem sentir essa completude. Tem poucos minutos que eu estava com raiva dela, e agora não sei o que me fez sentir isso, não sei como eu vivi tanto tempo afastado dela. O choro vem, eu sinto meu coração partido se regenerar. 

Ninguém nunca mais vai nos separar, linda. Nem que para isso eu precise ir até as últimas consequências.

Sociedade da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora