Kᴀɴɢᴇ-Dᴀᴇ
-Santo senhor, Kange. -Ele sibila contra mim. -Você tem noção do susto que me meu, idiota?
Não, porque você quem me deu um susto primeiro. Penso, mas logo sorrio.
-Não, não tenho.
-Onde você estava? -Ele pergunta, e agora seu tom muda para um mais bravo ainda. Acho que preciso esconder as facas.
-Um superior me chamou. Parece que ele precisava de ajuda, então eu apenas fui. -Respondo, usando a desculpa que MD inventara para mim. -E você? Me procurou?
-Não muito, andei por uns lugares e mesmo assim não te achei. Achei que tinham te pegado fazendo algo, entrei em desespero. -Ele me larga do abraço e já posso sentir a falta do contato com ele.
Era apenas um abraço. Apenas isso.
-Mas cheguei, não precisa disso mais. -Falo virando as costas para ele e indo em direção ao banheiro.
-É...
Paro. Sua voz é receosa e distante. Ele queria dizer algo ainda.
-Liam...? -O chamo. -Quer dizer algo?
-Sim. Não faça isso de novo. Não posso perder você de vista por aqui. Não seremos uma dupla caso suma de novo.
Abro um pequeno sorriso, por ele se importar, nada além disso. Mas sinto que seria engraçado virar e vê-lo vermelho igual estou vendo pelo espelho do banheiro. -Porque a porta estava aberta-.
-Sim, senhor risonho. -Respondo a ele, ainda sorrindo que nem besta olhando para o espelho vendo o sorriso ladino dele.
Evite sorrir para ele até que você, Kange, descubra o que ele fazia lá, naquela sala.
Tomei um banho, e por sorte a toalha já estava ali, então não precisei fazer esforço para arrumar uma. Aproveitei e lavei o cabelo que estavam exalando a poeira. Agora, parando para pensar, já estava muito tarde para que os outros soldados estivessem na ala alimentar. Como eles tiveram acesso a isso? Estranho.
Quando sai, eu o vi sentado na cama, com as mãos nos cabelos loiros dourados, que me chamavam tanta atenção.
Prendo o riso quando lembro do dia que ouve uns boatos aqui na base de que teríamos que raspar o cabelo, todos nós, e Liam entrou em pânico. Me lembro de rir até cansar, e Isaac me acompanhou nisso.
-Vamos? -Ele me olha, de cima abaixo, como se me analisasse por completo.
-Onde? -Pergunto curioso vendo-o se levantar em direção as escadas.
-Estão comemorando algo no refeitório, pelo que fiquei sabendo. Achei que gostaria de ir comigo.
Deixo a toalha em cima da cama e apenas acompanho ele, silenciosamente.
Liam parecia diferente de quando chegamos aqui. Ele não ficava tão distante e muito menos fingia que estava bravo comigo por qualquer coisa. Não temos mais brigas para saber quem vai atirar primeiro. E mesmo que em nossas missões de corpo a corpo ele me encare como se fosse me matar, eu acho que consigo ficar com ele por mais um tempo aqui dentro. Era legal ser companheiro dele por esses tempos.
Para mim foi tenso. Eu não conseguia, mesmo depois de dois meses aqui, eu não consigo me adaptar como os outros recrutas fizeram. Não consigo viver sem uma rotina, e aqui nunca teve.
Fora os dias que nossas "missões" eram ficar sentados em uma piscina funda apenas com a cabeça para fora enquanto eles atiravam baldes de água fria na gente, as plenas três e meia da manhã. E quando separavam a gente em dois grupos e íamos até a floresta que tinha ali e caminhávamos até o dia amanhecer. Foram muitas noites mal dormidas, e te garanto que por uns dias ouvi Liam chorando em algumas noites. Eram constantes, mas não conseguia desenvolver aquela aproximação para lhe perguntar se precisava de algo. Não nego que também tive noites assim, mas eram sempre quando eu ouvia barulhos vindo da ala vermelha.
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Born to die - Livro um
ActionQuando um dos chefes de uma máfia resolve colocar um ponto final em um mistério perdido, e dois adultos estão envolvidos nisso, algo ruim pode ter resultado de dois outros adultos que não esperavam arriscar suas vidas por eles. Um sequestro une do...