Um pouco de Shakespeare

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Desperto aos poucos por causa dos barulhos e furdunço lá fora. Me sento na cama encarando Suppasit enquanto ele já se erguia da mesma. Alçando uma pistola ele saindo do quarto. Então era isso. Esse era o dia, e o fim de tudo. 

Escondo meu rosto entre os joelhos dobrados e meus braços que se enrolam neles. Sinto meus olhos arderem, mas não permito que as lágrimas saiam dali. O cheiro e as lembranças da noite passada ainda me rodeiam, minha pele se arrepia ao lembrar dos toques de Suppasit sobre ela. Os barulhos lá de fora se tornam mais altos e atravessam a porta quando a mesma é aberta, e só pelos passos eu já sabia quem estava ali — Kana, até que enfim – sinto os braços de Bright me rodearem em um abraço apertado e preocupado. Assim que se afasta me encara fixo e de forma urgente — Você esta bem? O que aconteceu? Esse desgraçado te machucou? – como sempre Baii me examina de forma atenta, preocupado e amigável, não posso evitar um breve levantar de lábios, ainda que tudo fosse um desastre em minha vida, conhecer Vachirawit tinha valido apena — Eu estou bem, para com essa melação – o empurro, me erguendo rápido da cama, antes que as malditas lágrimas conseguissem fugir na frente dele — Tão frio Kana, tão frio – apesar das palavras sei que ele apenas brinca comigo.Visto uma camisa qualquer caída no chão, e quase cambaleio quando o cheiro de Suppasit invade meu olfato. Aperto os dentes e engulo seco aquela ânsia que aperta minha garganta — Como estão as coisas lá fora? "Onde esta Suppasit? —  engulo a última pergunta, não fazia mais sentido aquela altura eu me preocupar com ele — Dominado. Já estão transferindo ele para o galpão – sua voz é baixa, e sua presença fica mais próxima de mim, quando sua mão toca meu ombro — Gulf... Você está bem? – sinto o peso de sua preocupação me embrulhar o estômago. Sei que Vachirawit estaria ao meu lado em qualquer decisão que eu tomasse, mas agora já era tarde, já havia me afundado tanto e feito ele correr riscos demais pra desistir agora. Não seria justo, e mais que isso não teria propósito, depois de tudo, ele nem mesmo me reconheceu — Estou bem, só preciso de um banho rápido pra me livrar de toda essa sujeira – me viro sem condições de encará-lo — Manda first na frente e logo te encontro no carro – não tenho condições de esperar sua resposta, apenas dou uma batidinha em sua mão sobre meu ombro e caminho até o banheiro. Ouço sua voz, mas não consigo distinguir suas falas. Assim que me tranco no banheiro minhas pernas cedem me levando direto ao piso frio de azulejos. E pela última vez em minha vida me permito chorar, deixo que as lágrimas amargas e dolorosas caiam por meu rosto enquanto me agarro com dor, ódio e tristeza a camisa de Mew ainda em meu corpo. 



As gotas ainda caem do chuveiro recem desligado, me encaro no espelho, e mesmo que seja meu reflexo que se reflete ali, não sei quem é o ser que vejo diante de meus olhos. Se confusão fosse uma personalidade, essa seria a minha desde que reencontre Suppasit. E juro que em algum momento achei que tudo pudesse ser esquecido, mas pelo jeito esquecido, fui apenas eu, por aquele homem. Sinto meus olhos arderem, e novas lágrimas se forçarem a sair, mas não, não me deixarem levar novamente por esses sentimentos que me tornaram fraco. Minha mão se choca contra o espelho, tranformando-o agora na descrição perfeita do que eu me tornei, uma silhueta quebrada
— Não tem mais nada a ser salvo Kanawut. Você nunca mereceu ser. 

O caminho até o local escolhido não foi longo, mas o silêncio no carro era absurdo, até que Bright o quebrou — Kana, o carro não precisa parar... você sabe não

— Vachirawit, se não tem nada que preste a falar, cala a boca – minha cabeça já era uma bagunça absoluta, não precisava dos comentários de Bright naquele momento. 

...

Não sei de onde Baii tinha tirado tantos homens, mas provavelmente First tinha parte naquilo, afinal esse era seu propósito naquela parceria. Ainda que não quisesse ter a ajuda de ninguém, formar essa aliança com ele foi o que me levou a alcançar esse momento. E falando nele assim que me aproximo das portas que escondiam Suppasit, posso ouvir suas voz — Relaxa, eu sei que tenho que esperar por ele. Falando nisso ele vai demorar ? – e aquela definitivamente era minha deixa. E apartir daqui não tinha mais volta. Respiro fundo sentindo meus pulmões arderem, e quase posso ouvir o som de quebrado que meu coração faz quando abro aquelas portas, deixando Baii falando sozinho as minhas costas — Claro que não, já estou aqui. Mal pude esperar por esse momento – caminho a passos firmes em direção ao centro da sala, ignorando pelo menos por enquanto os homens de joelhos no centro dela. Sento na grande poltrona que parecia um trono. Coloco um grande sorriso no rosto, encarando o homem de olhos furiosos a minha frente  — Teve uma boa noite?... Senhor. 


Dominado por Ele 📍 Livro 2 ... Verdades da MáfiaOnde histórias criam vida. Descubra agora