CLAIRE

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Eu espero que um dia tudo volte ao normal, não me recordo da última vez que tomei uma ducha decente. Me olhei num espelho, fiz um rabo de cavalo e usei o pouco de água que tinha do rio para limpar alguns cortes e sujeiras da minha pele. Assim como meu corpo, minha roupa também estava bem suja, não é como se tivéssemos diversos pares  de peças em um apocalipse, ainda mais agora que a nossa última casa foi invadida por inúmeros zumbis.

Decidi colocar meu casaco amarrotado no corpo e alguns protetores também, eles impedem os zumbis de morderem certos locais mais comuns e fáceis deles chegarem. Antes de sair do banheiro, seguro no meu colar e abro ele, tal pingente possuia uma borboleta na frente. Era aquelas correntes que possuem fotos dentro, assim, me deparo com uma imagem da minha família antes de tudo. Como esquecer o pior dia da minha vida, se eu pudesse apagaria tudo.

Me lembro bem de quando eu, meu irmão, minha mãe e meu pai estávamos cruzando a fronteira para fugir dos inúmeros ataques que aconteciam  no nosso estado. Dessa forma, é fundamental ressaltar que minha mãe e meu pai eram minha base, assim como Arturo que é meu irmão gêmeo, então, temos uma conexão muito forte. O dia em que eles se foram foi trágico, a estrada estava lotada de zumbis, carros parados, não tinha como se mexer.

PASSADO

Eu estava no banco de trás do veículo segurando a mão da minha mãe, e meu irmão e meu pai estavam na frente. Foi tudo tão rápido, eu nem me lembro como foi direito. Eu só sei que quando olhamos para frente e vimos a quantidade devastadora de zumbis, sentimos que era o nosso fim. Nesse sentido, eu sabia que era ali, iríamos morrer como uma família, imaginei. Quando eu menos espero, vejo meu pai falar algo no banco da frente com o meu irmão, os olhos de Arturo se arregalam e começam a marejar, acho que  nunca tinha visto ele chorar daquela maneira.

"Seja forte, filho. Sabe que a gente ama vocês, eu preciso que consiga segurar essa barra por mim, proteja sua vida e a dela, e de quem mais ama." Papai falou de maneira inaudível com o intuito que apenas Arturo escutasse, mas eu ouvi. Além disso, ele soltou sua arma, a arma que  nosso avô deu para ele e repassou-a para meu gêmeo.

"Mãe do que eles estão falando?" Olho para o lado e vejo a minha mãe em prantos praticamente. Meu pai olha para ela e para mim com um semblante de dor e angústia.

"Eu amo vocês, meus meninos..." Minha mãe diz isso e eu vejo ela abrir a porta do meu lado e meu pai também, sinto o desespero sair pela minha garganta. Corro para abrir a porta e correr atrás dela quando a mesma estava trancada.

"Arth, abre a porta! Nosso pais precisam de nós!" Olho para frente e vejo ele de olhos fechados segurando sua pose, intacto.

"Abre essa porra!" Grito vendo meus pais correndo pela vida deles, levando todos os zumbis que nos cercam, assim, num piscar de olhos,  um zumbi pega no braço de minha mãe. Fiquei batendo no vidro tentando quebrá-lo para ajudá-la de alguma maneira. Na mesma hora, Arturo pulou para o banco de trás, segurou os meus braços e abaixou nossos corpos para os zumbis não nos verem e ouvirem.

"Me solta!" Esperneio, mas o aperto do seu braço era mais forte, sua mão cobria minha boca para eu parar de gritar e mesmo mordendo seus dedos, ele não cedia. Não tinha o que fazer. Sinto meu corpo falhar, a essa hora o caminho estava livre para nós dois, e eles estavam longe de lá... Me forço a me erguer devagar, pois estava sem forças e Arth, dessa vez,  permite. Vejo um amontoado de zumbis, todos juntos lá no fim, se deliciando dos corpos de meus pais. E é assim, minha visão fica turva, escurece lentamente, escuto meu nome ser chamado, mas não atendo, nesse momento tudo apaga.

PRESENTE

Fecho o pingente e forço as lágrimas que estavam prestes a cair a voltarem para meus olhos. Esse dia deixou um sentimento de dor e solidão que ninguém tira, ou cura. Foi tão ruim para mim quanto para Arth, antes ele era muito mais amável, despreocupado e fofo. Já hoje, vive preso nele mesmo. Meu irmão criou barreiras nele que eu nem sei como quebrar, além dos nossos pais, ele viu sua namorada morrer na sua frente e se culpa até hoje por não ter feito algo para impedir.

Desse modo, tais traumas colaboraram para ele ser uma pessoa super protetiva comigo e com seu melhor amigo Peter, o qual acabamos encontrando por um milagre no meio desse caos. Por mais importante que seja nos protegermos nesses momentos, ele passa de qualquer limite, apesar de compreender seu medo, pois é o meu também, já que daria minha vida pela dele, se torna sufocante com o exagero.

Saio do banheiro e me deparo com a minha melhor amiga Bea sentada na frente da porta enquanto afiava suas flechas. Nós nos conhecemos, pois ela me salvou de um ataque de zumbi perto de um rio, depois disso se juntou a nós. Parece até que era pra ser.

"Parece que elas nunca ficam perfeitas." A morena diz enquanto analisava meticulosamente a parte pontiaguda.

"Você é muito perfeccionista." Falei colocando a minha katana nas costas.

"Os meninos e as meninas já chegaram?" Questionei ela.

"Ainda não. Kerol já está finalizando o jantar, se eles não chegarem vou comer tudo." Bea disse me fazendo rir. De repente, Kerol grita da cozinha provisória que montamos em uma casa aleatória.

"Meninas, está sem água o suficiente para a sopa." Saio do quarto e percebo que realmente tinha pouca água.

"Eu posso pegar mais." Bea disse.

"Mas está tão escuro... Único lado positivo é que pelo menos o rio está tão perto, vamos levar uns 15 minutos."

"É, mas não tem o que fazer. Nós precisamos comer, além disso precisamos de pouca água, então, não precisa levar o carro para não fazer barulho, só encher um botijão. Já que amanhã é o dia que realmente vamos pegar água e suprimentos." Bea disse objetivamente. Relutante, pois sei bem o quão rigorosas são as regras elaboradas por Arth e Pedro, me vi em uma situação sem saída.

"Tá bom, vamos rápido, a noite já está chegando e quanto mais tarde, mais difícil de enxergar esses zumbis."

"Eu vou também, não fico sozinha aqui nem que a porra." Kerol disse pegando uma faquinha de perna e uma pistola simples.

"E se eles chegarem e não nos verem aqui?" Bea perguntou.

"Espero que a gente chegue antes, mas vamos deixar um recado por precaução." Espero que nada aconteça, Deus me livre, Arturo iria me comer viva.

THE LAST ONES STANDING - CONCLUÍDA - APOCALIPSE AUOnde histórias criam vida. Descubra agora