MALY

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Eu acho que desde que isso tudo começou, eu sinto que vivo em um looping infinito. Parece que os dias são os mesmos, mas ao mesmo tempo, sempre tem algo de novo que pode nos confrontar.

Eu vivi minha vida toda com minha irmã Kerol e nossa mãe, devo dizer que quando a nossa mãe morreu no início do Apocalipse não foi nada fácil, porém, minha irmã mais velha sempre se mostrou presente de uma forma surreal, supria uma falta em mim. Kerol sempre fez de tudo para me ver bem, saudável e feliz mesmo. E vice-versa claro.

Sentada neste telhado, enquanto estamos presos rodeados de zumbis que podem entrar há qualquer segundo, me deixa angustiada, não só porque eu vou morrer, mas porque não posso falar para ela o quão essencial ela é para mim e sempre vai ser. Com medo que um dia eu morresse, escrevi uma carta para o grupo e deixei nas minhas coisas, espero que se uma tragédia dessas ocorrer, eles achem e saibam tudo que eu senti por cada uma daquelas pecinhas.

É muito estranho falar de uma carta de morte, mas quando estamos em um apocalipse zumbi, qual o verdadeiro conceito de normal e anormal? Eu mesma não faço ideia, e sinceramente? Tô me lixando.

Olhei para o lado e vi Louise e Arturo discutindo algo sério a julgar pela face deles, talvez Louise esteja revelando que está namorando, finalmente. Pois é, eu sei que ela sai às escondidas para namorar, como é que eu ia achar normal minha colega de quarto sair às vezes no meio da noite do nada? Então, eu segui, óbvio. Uma fofoca para me sustentar nesse inferno na terra.

No dia que eu segui ela vi os dois conversando bem perto da casa que estávamos, são tão bonitinhos. Ainda não sei o motivo dela não ter me apresentado a ele, mas quero conhecê-lo logo. Eu pude ver a minha amiga sair de um local bem merda para ficar bem mais feliz, isso me deixa muito bem.

"Você acha que eles vão salvar a gente?" Questiono Bea que estava encostada no murinho do meu lado. A garota inspira e expira antes de responder.

"Não sei, Maly. Só resta torcer."

"Eu acho que eles vão, sempre dá certo no final." Bea dá um sorriso leve olhando para mim.

"É verdade, sempre dá."

"Quer ver meu muque?" Pergunto a Bea fazendo ela revirar os olhos, o que, por consequência, me fez rir.

"Acho que é a milésima vez essa semana que você me pergunta isso, não aguento mais." Irritar ela é bom de verdade. Deve ser difícil não ser Maly Marombas.

Me deito no chão, olho para o céu e começo a refletir enquanto ninguém chega. Será que isso vai acabar um dia? Será que existe uma cura? Será que ainda tem gente para dar continuidade  a gente?

"Bea, será que tem uma cura por aí?" Pergunto a ela enquanto olhava as nuvens que pareciam um belo algodão doce.

"Uma cura?" Ela pergunta.

"Sim, algo que faça a gente não virar essas coisas, tipo será que existe gente imune?"

"Não sei, Maly. Mas eu sei uma coisa de certeza."

"O que?" Bea ia responder quando a porta começa a bater, jajá os zumbis arrombam. Segurei a minha shotgun apontando para a porta que estava cheia de tralhas na frente para segurar além da tranca. Meu Deus, isso não vai aguentar, cadê eles?

Olho para o céu mais uma vez e sinto uma onda ruim me consumir, se a gente não conseguir passar de hoje, eu te amo, maninha. Obrigada por tanto sempre e para sempre.

Obs: Talvez eu ainda tome um Frederick iced coffee no futuro, vai que né.

THE LAST ONES STANDING - CONCLUÍDA - APOCALIPSE AUOnde histórias criam vida. Descubra agora