CAPÍTULO 27

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            Voltei para a faculdade assim que o feriado acabou. Terminei as provas sem reprovar em nenhuma disciplina e planejei cuidadosamente minha próxima missão: eu iria para o Texas! Queria descobrir mais sobre meu pai e quem tinha chantageado minha mãe. Não deixaria passar em branco desta vez. Estava disposta a ir a fundo, e só assim teria paz para continuar. No fundo, eu não conseguia acreditar no "bom cidadão" que Dylan Clifford aparentava ser. Não podia aceitar que um homem tão rico tivesse cuidado de uma mulher que claramente não amava, e de sua filha, sem algum interesse oculto. Esse era meu único motivo.
           Nos últimos dois meses, não vi Archie nem uma vez. Ou ele estava me evitando, ou simplesmente havia ido embora. Mark e Rebecca também perderam contato com ele desde o feriado. Lembro que, depois da nossa discussão, ele foi embora da casa. Ninguém teve coragem de perguntar o motivo, já que só nos viram sair apressados da biblioteca para fora da casa. Rebecca me perguntou mais tarde, mas eu disse apenas que tínhamos nos desentendido e que não éramos compatíveis. Saí logo em seguida e fui visitar minha mãe. No final, as coisas apenas seguiram seu fluxo.
          John parecia o mesmo; creio que ele não sabia nada sobre mim. Às vezes, o encontrava pelos corredores do campus, mas ele não dava sinais de saber o que tinha acontecido entre mim e o irmão.
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— Você vai mesmo trancar esse período? Tem certeza de que precisa fazer isso?
— Sim. E lembre-se: se alguém perguntar, eu fui passar férias em um cruzeiro com você e sua família.
          Consegui permissão da minha mãe para viajar com os amigos. Isso me daria quase um mês até as férias acabarem, as aulas retornarem e o Sr. Clifford descobrir que tranquei o curso. Quando isso acontecesse, provavelmente viria atrás de mim. Mas eu estava disposta a correr o risco.
— Tem como me levar com você na sua aventura? Não quero passar um mês inteiro dentro de um navio. Não depois de assistir Titanic. — Rebecca fez uma expressão assustada, e eu sorri.
— Desculpe, mas realmente preciso fazer isso sozinha.
— Você não vai fugir para sempre, nem fazer nada arriscado, certo? Porque, se eu descobrir que estou te ajudando a fazer algo assim, eu nunca vou te perdoar, Hanna Clifford!
— Relaxa, Rebecca. Você anda muito dramática! Eu só quero experimentar viajar sozinha. É mais uma experiência de autoconhecimento, sabe?
— Queria ir com você! — Ela fez um beiço.
           Eu sabia que, na verdade, ela estava envergonhada e só queria evitar o Mark, que coincidentemente também estaria no cruzeiro. Descobri que eles se beijaram na festa da May, mas ele estava se fazendo de desentendido, e minha amiga estava sofrendo, claramente apaixonada.
           Apesar de sentir muito por ela, eu não podia envolvê-la no meu plano, que era arriscado demais.
— A Rebecca que eu conheço não foge de ninguém nem inventa desculpas.
— Não sei de que Rebecca você está falando!
— Qual é, Rebecca? Por que não admite logo?
— Você não me conta sobre seus sentimentos; eu não conto sobre os meus.
Justo!
         Ela tinha razão. Eu não podia cobrar que ela se abrisse comigo se eu nunca fosse capaz de fazer o mesmo. Espero que um dia eu consiga!

                  _________ __________

         Depois de quase onze anos, estava de volta. A nostalgia de rever aquela cidade me preenchia de dentro para fora. Eu não parava de comparar cada detalhe e cada mudança que acontecia por ali. Embora a cidade continuasse pequena e antiga, não haviam sido muitas as mudanças.
        Perguntava-me se alguém me reconheceria, pois logo encontraria rostos familiares. Mas quem se importaria? Eu era Hanna Clifford agora, com uma identidade totalmente diferente para quem quisesse investigar.
Eu tinha um plano e estava focada apenas nele.
        Descobri que a sigla "TS" era a logo de uma casa de jogos, o cassino do Sr. Thomson, ex-colega de trabalho do meu pai. Eles eram próximos, e saber que ele poderia ser o ameaçador me deixou ainda mais desconfiada.
        Meu plano era verificar se a caligrafia na carta era dele e, se possível, pressioná-lo para me contar a verdade. Embora eu não tivesse dinheiro, tinha um nome influente e esperava que isso o convencesse. Eu só precisava de uma explicação! Meu pai não podia ter feito todas aquelas coisas; eu me recusava a aceitar isso.
        Sentindo-me uma verdadeira Sherlock Holmes, sentei em uma mesa na cafeteria em frente à casa de jogos do meu principal suspeito. Eu estava analisando seus passos há alguns dias e planejando o momento certo para abordá-lo. Já estava quase viciada no café com creme deles, mas ainda não tinha encontrado uma rotina fixa do Sr. Thomson. Conclui que a forma mais simples seria esperar pelo fim de seu expediente.
         Paguei meu café e decidi voltar à noite. A cidade era pequena, mas aquela cafeteria era famosa e costumava estar lotada.
— Aqui está, senhorita. — A atendente me devolveu o cartão, e eu rapidamente me virei. Me perguntava se ela já achava estranho eu estar ali todos os dias.
         Mas agir de forma discreta não era o meu forte; eu tinha uma tendência a ser desajeitada.
— Meu Deus! Desculpe! — Sim, derramei café na roupa de alguém que estava atrás de mim.
— Tudo bem, não se preocupe.
         Aquela voz...
Meu estômago gelou, e meus sentidos se embaralham. Meu coração palpitava, aquecido pela alegria de reencontrá-lo.
         Quando nossos olhares se cruzaram, vi o mesmo olhar de surpresa que eu tinha. Como eu estava com saudades, Archie Stewart!
— Hanna! O que você... Ah, meu Deus!
         Ele olhou ao redor, como se procurasse alguém ou estivesse fugindo de alguém.
— Vem comigo. — Archie abandonou o café na mesa e me puxou para fora da cafeteria.
— Ei, calma. De quem estamos fugindo?
— De todo mundo. Primeiro, o que você está fazendo aqui? Está maluca? E se te reconhecerem? Tem muita gente que conhece e odeia seu pai por aqui. Você tem noção de onde está?
           A tristeza me invadiu ao lembrar de tudo o que havia acontecido nos últimos meses. Apesar de sua preocupação comigo, eu ainda me sentia envergonhada pelo nosso último encontro.
— Não se preocupe. Já se passaram mais de dez anos, e eu mudei muito. Consegui até enganar você por um tempo!
         Sua expressão de ansiedade mudou rapidamente após minhas palavras. Mas eu estava ressentida. Talvez fosse egoísmo, mas me parecia injusto que meu ex-melhor amigo me odiasse tanto por algo que eu não tinha relação. Por anos, ele ignorou o fato de que eu poderia estar pagando pelos erros do meu pai. E sim, eu o enganei recentemente, mas ele não precisava sentir repúdio de mim, nem me tratar como algo ruim.
— Mas... O que você está fazendo aqui, Hanna? Você...
— Eu não sabia, ok? Eu te disse que não sabia o que meu pai havia feito. Minha mãe nunca me contou. Ela praticamente me guardou em um potinho para que eu nunca descobrisse.
— Certo, mas agora que sabe? Você acha que seu pai é inocente e veio buscar alguma explicação?
         Eu não precisei responder; minha expressão de indignação, a mesma de sempre quando ele menosprezava minhas ideias, disse tudo.
— Hanna!
— Finja que não me viu.
         Afastei sua mão, que permanecia em meu ombro, e dei-lhe as costas para sair, mas ele bloqueou minha passagem.
— Pode ser perigoso! Pare com isso.
— Eu não me importo.
         Esquivei-me, ainda sem olhar para ele.
— Estou noivo!
         Aquelas palavras me fizeram parar e olhá-lo.
— Vou me casar, Hanna!
         Seu olhar... Seus olhos pareciam distantes e melancólicos. As palavras soaram tristes, e a notícia quebrou meu coração. Minhas mãos estavam geladas, e senti um nó na garganta, tentando conter a tristeza e o vazio que a notícia causou.
— Se for por nós, apenas deixe isso para lá.
— Não estou fazendo isso por você, Archie. Estou fazendo por mim.
— Pode ser perigoso mexer com o passado, você nem sabe...
— De mim, deixe que cuido eu.
          Suspirei, reunindo cada pedaço de orgulho que ainda me restava.
— Ah, e sobre o seu casamento... Parabéns! Espero que seja muito feliz.
          Dessa vez, ele não me impediu. Segui meu caminho, sem olhar para trás, pedindo aos céus para conseguir seguir em frente, de verdade.

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